Segundo dia de shows no Jardim de Alah e os acampados preparam a refeição. A maioria opta pelo macarrão instantâneo, mais rápido e fácil de cozinhar em meio a tantas barracas de camping na área verde ao lado do palco. Essa é a alternativa de muitos dos fãs do estilo musical, que vêm de bairros da capital, de cidades do interior e até de outros estados. Um desses fãs é a vendedora Suzana Sousa. Ela saiu de Alagoinhas com mais quatro amigos, que se revezam entre o carro e a barraca, que abriga duas pessoas por vez.
“Este é o segundo ano que venho movida pelo som, já que na minha cidade não tem muitas festas do estilo, além de ser um lazer, uma coisa diferente, e acampados não nos preocupamos tanto com a condução, com ir e vir”. Eles vieram curtir a banda Overdose Alcoólica, última atração do último dia de festival, na terça-feira (17).
Diretamente de Catu e presente há 18 anos no Palco do Rock, que este ano tem como tema “Brasileiro, filho do Nordeste, sou cabra da peste”, o plataformista Rogério “Metal” traz toda a família. “Isso aqui é sensacional, não existe evento maior que esse e reconheço que a cada ano que passa Sandra (idealizadora do Palco do Rock) se esforça mais e mantém. Somos órfãos de rock e boas músicas e senão fosse Sandra isso não acontecia”, disse Metal.
A estimativa é que o espaço receba aproximadamente 10 mil pessoas por noite para curtir as mais de 30 atrações, entre elas Veuliah, que tocou ontem (14) na abertura, Statik Magik, Lo Han, Aneurose, Pastel de Miolos e Batrákia.
Essa estrutura é o que motiva Sandra de Cássia, organizadora do festival, que está na 21ª edição. “O Palco do Rock na verdade é surpreendente. Às vezes achamos que não vai vingar, mas as pessoas começam a chegar, o pessoal do interior está vindo mais”. O trabalho de divulgação do evento é feito pela própria Sandra, que durante o ano faz a caravana Palco do Rock pelas cidades do interior, além de fomentar a participação das bandas no processo de seleção. O festival também tem caráter social, arrecadando alimentos não perecíveis que serão doados a uma instituição sem fins lucrativos a ser escolhida.
Rock adolescente
Lucas Albuquerque tem 12 anos e curte Metallica. Jonny e Pedro Valadares, de 12 e 14 anos, são irmãos e também curtem a banda. Junto com Matheus Benevenuto e Werner Guaraná, também de 12 anos, eles formam a banda Rockscola. Montada pelo produtor musical Flávio Guaraná, a banda surgiu durante o projeto homônimo criado por Guaraná, com intuito de ensinar rock aos jovens. O curso durou um ano e ao final, veio a ideia da banda. “Chamei os amigos do meu filho, encerrei o curso e trabalhei diretamente com eles”, disse o produtor. O grupo tem sete meses de formação e este é o terceiro show da carreira.
O convite para o festival partiu depois de Iuri Albuquerque, pai de Lucas, gravar os meninos e divulgar entre amigos. “São crianças com som maduro. Um amigo viu e sugeriu que tocassem aqui”. O jovem Lucas demonstrava ansiedade em subir ao palco do evento. “Esperamos tocar bem, temos uma música autoral e vamos tocar também de outros artistas. A que mais nos influencia é Metallica, e gosto da música Master of Puppets”, afirmou o jovem.
Documentário
Durante os quatro dias de festa, o músico André Poveda aproveita para filmar cenas de um documentário sobre o rock baiano, retratando o cenário desde os anos 50 até a atualidade. “Quando se fala de rock na Bahia só pensamos Pitty, Raul Seixas e Marcelo Nova, mas temos um cenário grande, com bandas como Zona Abissal, que foi a primeira a gravar disco e videoclipe e durou 14 anos”, afirmou Poveda. O artista acrescenta que diversas outras bandas que não tiveram essa repercussão estão entrando no esquecimento e o documentário vai relembrar do início até a nova geração. “A Bahia tem rock, tem estilo”, finalizou. Poveda se apresenta na segunda-feira (16) com a banda Os Tios, segunda atração do terceiro dia de festa.