Por: Francisco Valencia
Nos tempos da crise enfrentada por muitos países, a capacidade de sentir compaixão presenciando a felicidade alheia se provou um desafio e tanto. Principalmente, para aqueles líderes que não conseguem superar os problemas induzidos aos seus respectivos estados pela sua própria incompetência. Não falta comida nas mesas de vocês? Vocês não estão passando dificuldades? Isso só pode indicar o seu envolvimento nas atividades ilícitas, nem mais, nem menos!
Esta é a mensagem que, em minha opinião, tentou repassar aos leitores um dos artigos publicados no site do The Wall Street Journal “Rio Samba Troupe’s Backer Scrutinized” dedicado ao último desfile das escolas de samba realizado na cidade de Rio de Janeiro, cuja vencedora foi a Beija-Flor. Segundo os boatos, a escola vitoriosa recebeu o apoio financeiro de cerca de 3,5 milhões de dólares do Teodoro Obiang, atual presidente da Guiné Equatorial, líder invejado por governantes de muitas antigas colônias e vítima de uma série de ataques (embora mal-sucedidos) por parte dos assassinos de aluguel contratados pelos chefes dos estados estrangeiros.
Alguns executores desses atentados, apesar de pertencerem às melhores famílias europeias, acabaram atrás das grades das penitenciárias africanas, porém os seus contratantes continuam soltos, mas sem, no entanto, ter conseguido apagar Obiang da face da terra, nem colocar as mãos nas riquezas petrolíferas do seu país. O que, aliás, não os impede de continuar investindo milhões em moeda norte-americana nas companhas a fim de descreditar o governo da Guiné Equatorial, muitas vezes também sem sucesso. Um dos exemplos disso é a declaração errônea que tentou fazer com que muitos acreditassem na participação do Obiang do último Carnaval do Rio de Janeiro. No entanto, logo em seguida o comunicado foi desmentido: o líder africano realmente não encontrava-se no sambódromo durante a festa popular brasileira devido à sua presença da cúpula dos países da África Central realizada em Camarões. Obiang trocou as famosas comemorações em solo brasileiro pela discussão dos assuntos ligados à segurança da região e ao combate ao grupo terrorista Boko Haram. Não faltam comunicados informativos e até fotográficos para confirmarem o presente fato. As tecnologias de informação e a rede Internet permitem rastrear as atividades das pessoas públicas, inclusive dos líderes de estado, em apenas alguns cliques.
No entanto, quando o assunto é a Guiné Equatorial, ninguém se dá o trabalho de verificar a veracidade dos boatos e publica apenas as notícias que correspondem à política da editora em relação ao país em questão.
Vale ressaltar que Obiang é um grande fã da cultura brasileira, inclusive do Carnaval do Rio de Janeiro que já teve honra de recebê-lo mais de uma vez. Mas não este ano. Em busca por escândalo, os jornalistas novamente pisaram na bola.
Não podemos afirmar com toda a certeza, se Obiang prestou apoio financeiro à escola de Beija-Flor ou não, mas não é nenhum segredo que as empresas da Guiné Equatorial empregam uma quantidade significativa dos especialistas brasileiros que não deixaram de participar das comemorações dedicadas ao 45o aniversário de independência do país em 2013, trazendo à sua capital Malabo a festa tradicional do Brasil: Miles de personas desfilan en el 45º Aniversario del Día de la Independencia Nacional .
E hoje, a escola de samba carioca Beija-Flor enfrenta acusações em receber o patrocínio do Obiang que, segundo os seus autores, confirmam-se pelas fantasias com o símbolo da Guiné Equatorial bordado usadas pelos carnavalescos.
As escolas de samba fazem parte de um fenômeno único e exclusivamente brasileiro. São grupos compostos por artistas amadores que trabalham graças ao apoio de patrocinadores, cujo envolvimento, às vezes, gera escândalos ligados à lavagem de dinheiro e comércio ilegal.
No entanto, isso em nenhum momento quer dizer que a maior festa brasileira não aconteceria sem o dinheiro da máfia. As escolas de samba e o Carnaval em si recebem apoio de muitos países, tais como Portugal, fiel parceiro cultural brasileiro, ou das entidades de grande porte, como a petrolífera estatal Petrobras.
Portanto, se a administração da escola de fato recebesse uma ajuda financeira do governo da Guiné Equatorial, ela não teria motivos para esconder o presente fato. Para falar a verdade, o país ajudou na realização do tema e preparação das fantasias, porém apenas com os materiais e informações sobre a sua cultura. De acordo com a declaração oficial emitida pelo Ministério de Informação da Guiné Equatorial, a ideia de financiar a apresentação da escola de samba pertence aos empresários brasileiros residentes no país e não ao governo deste estado africano.
Aliás, os autores do artigo polêmico citam a palavras do Farid Abrão David, diretor administrativo da Beija-Flor, que confirma a natureza apolítica da organização e alega ter dedicado a apresentação da escola não ao regime político da Guiné Equatorial, mas ao povo deste país “rico e bonito”.
“Antes do nosso desfile, muitos nem desconfiavam da existência da Guiné Equatorial. A nossa apresentação permitiu-os conhecê-la um pouco”, explica David.
Mas então, por que o autor do referido artigo constrói uma visão da Guiné Equatorial baseando-se nos antigos relatórios dos ativistas virtuais que ao longo de décadas tem acusado o governo do país de corrupção e tem multiplicado os comunicados sobre os seus supostos problemas, tais como a pobreza extrema?
Por que ele tem citado os comentários extraídos das redes sociais, tentando fazer com que os leitores acreditem que as brincadeiras de mau gosto (como, por exemplo, as sugestões de escolher o líder norte-coreano como a inspiração para o próximo Carnaval) é a opinião pública do povo brasileiro?
Não descarto a possibilidade de as respostas a estas perguntas ter sido escondida neste mesmo fenômeno: tentativas de influenciar a opinião pública no Brasil.
Em julho do ano passado, a Guiné Equatorial entrou para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que, além de Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Cabo Verde e Guiné-Bissau inclui os países ricos em petróleo, tas como Angola e Brasil.
A aceitação deste novo membro pode ser considerada um passo importante para a toda Comunidade em questão, pois apenas as riquezas exploradas na década de 80 na plataforma continental da Guiné Equatorial consistem de 1,1 bilhões de barris de petróleo e 200 bilhões de metros cúbicos de gás natural, o que torna a CPLP uma forte concorrente para os maiores produtores mundiais de petróleo e gás.
Não é difícil de perceber que a parceria recém-estabelecida entre o Brasil e Guiné Equatorial mexeu com os interesses de muitos países. Além das suas reservas de petróleo, graças ao Carnaval, a Guiné Equatorial tem milhares ou até milhões de fãs brasileiros conquistados pela apresentação dos dançarinos do grupo de dança nacional da Guiné Equatorial (conhecido pelo nome de Ceiba que também é o nome genérico de árvore, símbolo do país) durante o desfile da Beija-Flor no sambódromo carioca.
No entanto, o Wall Street Journal, por algum motivo, deixou de mencionar este importante fato.
Apesar de eu não ter tido nenhuma ligação com a Guiné Equatorial, ambos pertencemos ao mundo dos que falam espanhol. Portanto, não consigo deixar de me importar com o destino do único país africano da minha língua nativa. Acredito que aqueles que buscam descreditar os estados da África não desejam bem aos povos da América Latina.
Não é nenhum segredo que o mundo moderno está passando por processos singulares e, muitas vezes, dramáticos, tais como a troca de líderes e surgimento de novos centros de influência mundial como o continente latino-americano, como aconteceu recentemente. A África está vivendo o momento de rápido crescimento e, em termos de estabilidade, supera a economia europeia. A Guiné Equatorial, um país, cujos habitantes falam espanhol e, sem dúvida, entendem o português, destaca-se de outros estados africanos pela sua expansão econômica acelerada.
Em conclusão, desejo à Guiné Equatorial apenas a prosperidade e a nós, povos da América Latina, um bom senso no julgamento dos recentes eventos e os fortes laços de amizade e parceria com os nossos vizinhos (e quase parentes) africanos. Júlio Verne, famoso escritor francês e aventureiro, tinha todo o razão, quando dizia que as pessoas divididas pelas águas do mar são mais próximas do que aquelas separadas por uma floresta. http://elcomercionewspaper.com/negocios/45-samba-y-ceiba-américa-latina-y-áfrica-se-acercan-cada-vez-más