O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, rebateu nesta terça-feira (30) um conceito repetido constantemente pela imprensa brasileira, a de que o Brasil não é encarado no exterior como um ator global importante, mas meramente regional. Durante a entrevista coletiva conjunta com a presidenta Dilma Rousseff, Obama desviou do protocolo para responder uma pergunta direcionada à Dilma por Sandra Coutinho, da GloboNews, uma das jornalistas sorteadas para questionar os dois. Segundo Coutinho, o Brasil se vê como um líder mundial, enquanto Washington encara o País como um líder regional. “Como conciliar essas duas visões?”, questionou a jornalista.
Obama rechaçou o comentário. “Bom, eu na verdade vou responder em parte a questão que você acabou de fazer para a presidente [Dilma]. Nós vemos o Brasil não como uma potência regional, mas como uma potência global. Se você pensar (…) no G-20, o Brasil é um voz importante ali. As negociações que vão acontecer em Paris, sobre as mudanças climáticas, só podem ter sucesso com o Brasil como líder-chave. Os anúncios feitos hoje sobre energia renovável são indicativos da liderança do Brasil”, disse.
Obama, então, repetiu um discurso que se tornou comum nos últimos anos, de que seu país não tem condições ou pretensão de resolver todos os problemas do mundo sozinho. “O Brasil é um grande ator global e eu disse para a presidente Dilma na noite passada que os Estados Unidos, por mais poderosos que nós sejamos, e por mais interessados que estejamos em resolver uma série de problemas internacionais, reconhecemos que não podemos fazer isso sozinhos”, afirmou.
Em seguida, o presidente dos EUA listou temas no quais o Brasil tem, segundo ele, um papel relevante. “Em assuntos como a saúde global… não vamos ter sucesso a não ser que trabalhemos com o Brasil e outros grandes países, para saber onde podemos identificar o surgimento de uma doença, como evitar que ela se torne uma pandemia… Se quisermos ter sucesso em [temas como] mudanças climáticas, contraterrorismo e redução da extrema pobreza no mundo, todos os grandes países precisam estar envolvidos neste processo. E o Brasil, consideramos ser um parceiro absolutamente indispensável nesses esforços”.
Na sequência, Dilma tomou a palavra, agradeceu Obama pela resposta e disse que crises são naturais na histórias dos países. “Isso não deve dar a esses países um papel menor no mundo”, afirmou.
Folha perguntou sobre Petrobras e Lava-Jato
Obama também evitou entrar em polêmicas a respeito dos casos de corrupção envolvendo a Petrobras. Questionado por Raul Juste Lores, da Folha de S.Paulo, sobre a investigação e os processos contra a estatal brasileira que correm nos EUA, Obama disse ter “uma política de não comentar sobre casos em andamento no sistema de Justiça”. Obama, entretanto, fez o que chamou de “declaração genérica” e lembrou ter trabalhado ao lado de Dilma na Iniciativa de Governo Aberto, cujo objetivo é ampliar a responsabilização e a transparência dos Estados. “O Brasil tem sido um ótimo parceiro nesse processo”, afirmou. “Isso demanda muito trabalho e leva muito tempo, mas o Brasil tem sido um firme parceiro nesse processo”.
A pergunta da jornalista e as respostas de Obama e Dilma sobre o papel do Brasil podem ser vistas no vídeo abaixo, a partir de 1h03min. A pergunta sobre a Petrobras aparece a 1h24min:
Extraído na íntegra do site da Revista Carta Capital.