A novela de que o senador baiano Walter Pinheiro, o primeiro eleito pelo PT no estado, poderá deixar o partido ganhou um novo capítulo nesse Dois de Julho. O petista estaria negociando sua ida para o Partido Republicano Brasileiro (PRB), legenda ligada à Igreja Universal do Reino de Deus. A presidente do PRB na Bahia, a deputada federal Tia Eron, admitiu que faz parte da vontade do partido ter o senador em seu quadro político. “Walter é uma grande conquista para qualquer partido que ele quiser ir. Espero que ele dê a prioridade para o PRB. Isso não é fato, apesar de todas as conversas comigo, com o próprio senador [Marcelo] Crivella que é um amigo querido, e dele também, e vice-versa. Mas não há nada de concreto, apenas conversa”, contou a parlamentar ao site Bahia Notícias.
Ainda segundo Tia Eron, o futuro partidário do petista estaria sendo disputado também pelo PSB, presidido na Bahia pela senadora Lídice da Mata. “Lídice [da Mata] não sabe se pega no meu pé para ficar lá ou se pega no pé dele para ele aceitar ir para o PSB. Todo mundo disputando o homem, é um homem para duas mulheres”, descontraiu a republicana, que ainda afirmou que o senador poderá anunciar a saída do PT em agosto. “Walter pensa até agosto, logo depois do recesso, a gente tem 15 dias de recesso em julho, logo depois ele pretende anunciar. Vou torcer para que seja o PRB”, disse Tia Eron. Antes de ter essas duas siglas como destinos possíveis, Walter Pinheiro teve seu nome em uma especulação que indicava sua ida para o PSD, partido liderado na Bahia pelo também senador Otto Alencar.
No entanto, o próprio pessedista descartou a possibilidade na época em que os rumores apareceram e negou que tivesse ocorrido conversas entre ambos sobre o assunto. “Isso não existe. Jamais tomaria a iniciativa de convidar, ate porque Pinheiro não é um homem público capaz de ser cooptado por interesses políticos ou materiais. […] Se eu fosse fazer algum trabalho para trazer o senador para o PT, eu estaria cometendo uma grande burrice de trazer uma pessoa importante do PT e colocar o partido todo contra mim”, disse Otto na ocasião.
O senador Walter Pinheiro tem apresentado comportamentos no Senado dignos de um legislador da oposição. Em maio, durante votação da medida provisória que modificava as regras de acesso dos trabalhadores a benefícios como seguro-desemprego e abono salarial, Pinheiro foi um dos três senadores petistas que se rebelaram e votaram contra a medida oriunda do Poder Executivo. Antes disso, o senador concedeu uma entrevista ao diário Folha de S. Paulo, onde fez um desabafo afirmando que o governo federal não consegue ouvir a sociedade, admitir erros e está “atolado em letargia” .
Após os momentos de autocrítica, o petista começou a se ausentar de eventos ligados ao partido, como as convenções que antecederam o 5º Congresso Nacional do PT ocorrido em junho, em Salvador. “Não tenho insatisfação com nada. Esse é apenas um encontro preparatório para o nacional, não há nenhum fórum de deliberação, nada do tipo”, disse o senador à Tribuna na época, mas posteriormente, a ausência do petista no evento principal foi notada no meio político.
De acordo com o presidente estadual do PT, Everaldo Anunciação, a ausência de Pinheiro foi devido ao cumprimento de uma agenda oficial na cidade de Munique, na Alemanha. “Ele comunicou sobre a viagem dele com antecedência. Essa história de que ele quer deixar o partido é mera especulação. Ele está se dedicando muito ao trabalho no Senado, mas já me disse que quer ficar no partido”, declarou Everaldo.
Recentemente, o legislador não compareceu a um encontro realizado pelo ex-presidente Lula com senadores do PT. Os dois se estranharam quando Pinheiro ainda era deputado e criticou o tratamento dado pelo partido ao escândalo do mensalão. O senador foi procurado para falar sobre as especulações, mas sua assessoria informou que o petista não comenta o assunto.
Prejuízos ao PT
Enquanto se intensificam as especulações de que o senador Walter Pinheiro vai deixar o PT, dentro da corrente Democracia Socialista (DS), tendência à qual o parlamentar pertence, o sentimento é de que o partido sofrerá uma grande perda caso se concretizem os burburinhos. “Ainda não tem nada oficializado. Pela procedência do senador, se isso ocorrer ele vai nos convidar para comunicar a todos”, minimizou o deputado estadual Bira Coroa, colega do senador na corrente petista. O PT, como todos os partidos, está aberto para todas as pessoas irem e virem. Para nós do PT, Pinheiro é um instrumento importante, um acúmulo político significativamente importante. Sem dúvidas, um dos melhores quadros políticos que a Bahia tem. Perder Pinheiro seria um grande prejuízo político”, considerou Bira em entrevista ao jornal Tribuna da Bahia.
Integrante da mesma tendência interna, a deputada Neusa Cadore vê com tristeza a possibilidade de saída do parlamentar. “Uma pessoa extraordinária, mas eu prefiro aguardar os desdobramentos. Deu a contribuição dele ao partido, ficará essa marca. Torço muito para que Pinheiro fique com a gente. É um homem que gosta da política, se dedica ao que faz”, elogiou a petista.
Colegas de longa data no partido, o deputado federal Afonso Florence diz ter a expectativa de que essas especulações não se concretizem e o senador permaneça no partido onde se encontra há quase 30 anos. “Ainda não tive a oportunidade de conversar com ele sobre esses assuntos. Mas é um ator político importante, ocupa o cargo de senador construído com toda a militância. É uma história construída conjuntamente. É fato que ele desfruta de uma enorme densidade eleitoral e política na Bahia”, pontuou Florence, que diz também ter divergências com algumas medidas adotadas pelo governo federal, mas que faz isso de modo a não criar conflito no partido.
“A posição do senador é diferente. Não sei se ele está pensando em sair. Não são nem autocríticas [o que ele faz], são críticas mesmo. Quando eu divirjo, é de uma forma saudável, como tive posicionamento contrários nas votações das Medidas Provisórias 664 e 665”, exemplificou. O secretário de Relações Institucionais do estado, Josias Gomes, também lamentou a informação. “Não entendo essa possível decisão dele. Ele construiu o partido na Bahia e no Brasil. Ele faz parte do PT que fez a inclusão social”, disse. O petista teceu comentários a respeito da postura de autocríticas que o senador tem apresentado ultimamente. “Eu também sou contra determinadas pessoas no partido, no entanto não saí e não vou pedir para sair”, disse Josias. Extraído na íntegra da Tribuna da Bahia.