As informações de que os focos de incêndios dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) estão controlados foram contestadas por internautas e não condizem com a apuração feita pelo Jornal da Chapada, nesta sexta-feira (20), em contato com as brigadas que atuam diretamente no combate às chamas. De acordo com as informações, o fogo segue em regiões dentro e fora do PNCD, como nas regiões do Morro Branco, no Vale do Capão, em Palmeiras, e se espalham pelo Bomba e pelo Gerais do Vieira, podendo chegar ao Vale do Pati. Em Mucugê, apenas um foco de incêndio segue na região, em local de difícil acesso, há 14 km da cidade, próximo a uma zona intangível do PNCD.
Tem incêndio que castiga a região do Morro do Pai Inácio, na divisa entre Lençóis e Palmeiras, embora com menos intensidade, o mesmo que chegou até a BR-242, na última semana. Existem focos também em outros municípios, como Jacobina, Seabra, Ibicoara (em monitoramento, não foi extinto) e na região de Bonito (Catuaba), onde um grande foco segue em direção a Morro do Chapéu e Cafarnaum, conforme vídeo enviado ao Jornal da Chapada.
Esse fogo na região do Bonito é novo e está ganhando grandes proporções devido às condições climáticas e à falta de equipamentos. Segundo aponta vídeo de desabafo de um brigadista que combatia as chamas no local, um grupo quase é consumido pelas chamas, devido a problema em máquinas que auxiliavam no combate. Confira abaixo.
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Ameaça ao Vale do Pati
De acordo com informações confirmadas ao Jornal da Chapada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), há fumaça também nos Gerais do Vieira, e moradores do Vale do Capão temem que chegue ao Vale do Pati. “O incêndio no Morro Branco, no Vale do Capão, avançou em direção sudeste até a Serra da Moitinha, e hoje de tarde [sexta, 20] ele começou a cair da Moitinha sentido Córrego das Galinhas, mas até o momento, onde a gente teve informação, ele não tinha chegado no Gerais do Vieira. Mas o fogo segue neste sentido. O do Bomba é esse do Morro Branco que já chegou na Moitinha”, explica o analista ambiental do Parque Nacional, Pablo Casella, em entrevista ao Jornal da Chapada.
Em Conceição dos Gatos, comunidade a cerca de 9km do Vale do Capão, um grande incêndio segue no sentido Palmeiras. “Outro foco na Conceição dos Gatos também ficou muito forte. Tivemos que mobilizar outros voluntários e estamos agora com quase 30 brigadistas voluntários em combate”, informa a Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão (ACV-VC) em nota.
Nesta sexta-feira (20), o secretário estadual de Meio Ambiente, Eugênio Spengler, e o comandante do Corpo de Bombeiros Militares da Bahia, Francisco Luiz Telles, afirmaram à Agência Brasil, que os incêndios dentro do PNCD teriam sido controlados e que equipes de bombeiros militares e brigadistas voluntários que trabalham na região vão permanecer no parque até o início do período chuvoso a fim de prevenir novos focos.
Entretanto, as informações sobre os controles não foram confirmadas por nenhuma brigada consultada pelo Jornal da Chapada. A estimativa das autoridades é que cerca de 15 a 30 mil hectares do PNCD tenham sido atingidos pelas chamas. Ainda conforme dados divulgados pela Agência Brasil, 10 técnicos do ICMBio fazem pesquisas de campo para verificar a situação do parque após o incêndio.
Fogo em Lençóis não foi controlado
De acordo com a brigadista voluntária da Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis (BRAL), Marta Ferreira, em entrevista ao Jornal da Chapada, na noite desta sexta-feira (20), o tempo está fechando em Lençóis e pode ser que chova durante a madrugada de sexta para sábado, mas os combates continuam e não há foco controlado na região.
“Tem incêndio em Lençóis nas áreas do Barro Branco e Folha Larga, Mucugê e no Vale do Capão na região do Morro Branco. Não teve nenhum foco controlado, o que acontece é o seguinte, a gente apaga o fogo à noite e durante o dia volta, porque está muito seco e muito quente aqui e a gente deveria fazer um trabalho conjunto com os bombeiros, com o ICMBio, a gente combate à noite e os bombeiros e ICMBio deveriam fazer o rescaldo de manhã, e isto não está sendo feito, por isso o fogo volta tudo de novo”.
A BRAL atua em dois grupos em Lençóis, uma parte em Barro Branco a outra em Folha Larga. A noite desta sexta ainda será longa para os brigadistas, que vão em dois grupos para o combate. Sobre as informações difundidas pelas autoridades que acompanham as atividades, a brigadista que atua há 10 anos na Chapada Diamantina volta a dizer que é preciso um trabalho em conjunto.
“Eles têm que amenizar a situação para eles. A realidade para nós que somos voluntários é outra. Temos que fazer um trabalho conjunto, mas eles não fazem, isso é difícil. Não fazem o monitoramento, aí eles dão essa desculpa, para amenizar a situação, mas isso não é real. Hoje é o sétimo dia de queimada em Lençóis, e o fogo ainda está intenso. Já saíram dois grupos nesta sexta, agora à noite vai sair o terceiro grupo, todos os grupos não saem com menos de 18 pessoas, e ainda não conseguiram debelar o fogo. Tem uma aeronave sobrevoando e jogando água aqui também”. Ainda conforme informações da BRAL, os brigadistas precisam atualmente de equipamentos para combate, como bombas costais e abafadores. Já o ICMBio, aponta para a carência geral de EPIs, coturnos e lanternas.
Grande incêndio na Moitinha
Em informativo enviado para o Jornal da Chapada, nesta sexta-feira (20), a ACV-VC confirmou a atuação em “foco no fundo do Vale, em área conhecida como ‘Moitinha’, que se tornou muito grande agora no final da tarde. Tivemos que reorganizar todas as ações e acabamos ficando praticamente sem nada de material de combate. Tivemos dificuldade de ajuda de outras brigadas da ICMBio e Bombeiros”, aponta trecho de nota da associação.
Sobre Andaraí
Conforme o ICMBio, não há focos no município de Andaraí. De acordo com o analista ambiental do Parque Nacional, Pablo Casella, o que aconteceu foi que o secretário estadual Eugênio Spengler fez contato com o instituto imaginando que havia começado um incêndio numa cachoeira conhecida como Samuel e depois falou que poderia ser na Serra da Onça, todas em Andaraí. “Na verdade, o mesmo incêndio do Morro Branco que avançou muito em direção leste e confundiu o fogo, a fumaça ficou aparentando que estava nestas localidades. Não estão não. Mas se a gente não conseguir segurar ele, ele avança para essa região mesmo. Por isso, essas áreas continuam sendo nossa prioridade”.
Frentes de atuação
Atualmente o ICMBio atua na região do Cumbuca, em Mucugê, onde o fogo está controlado. “Temos perspectiva de extinguir ele amanhã [sábado, 21]”. A equipe do instituto também combate os focos em outras frentes. “Teve uma reignição, uma linha que a gente tinha controlado, mas voltou próximo à Conceição dos Gatos, o fogo chegou na região da Cachoeira. Esta área é parte do fogo que começou no Mucugezinho. E o fogo no Morro Branco, que está em combate há muitos dias, entre 25 e 26 dias. Existe outra frente, próximo de Lençóis, que está em combate há muito tempo, pelos bombeiros com as brigadas voluntárias de Lençóis”, confirma Pablo.
Atuação em conjunto
Conforme contato com o ICMBio, existe um grupo que dividiu os esforços para atuar em várias frentes de combates. “Então, os recursos que cada instituição tem estão sendo compartilhados, inclusive os recursos humanos que são os brigadistas voluntários”, finaliza o analista ambiental do Parque Nacional da Chapada Diamantina.
Jornal da Chapada
Fotos dos combates aos incêndios na Chapada Diamantina:
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