A manifestação popular ‘Senhor dos Passos’ – Padroeiro dos Garimpeiros – que começou no último sábado (23) na cidade de Lençóis e imediações, na Chapada Diamantina, pode se tornar mais um Patrimônio Imaterial da Bahia. Equipe multidisciplinar, formada por antropólogos e fotógrafos, do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), viajou para a cidade para monitorar a secular ‘Festa do Padroeiro dos Garimpeiros de Lençóis Senhor Bom Jesus dos Passos’. O Ipac é vinculado à secretaria estadual de Cultura (SecultBA).
“Essa festa tem mais de 150 anos e sua pesquisa nos foi solicitada pela Sociedade União dos Mineiros no ano passado”, explica o diretor geral do Ipac, João Carlos de Oliveira. Os trabalhos do Ipac se estenderá por 10 dias, até 3 de fevereiro, quando termina a programação. Dentre os eventos, a lavagem das escadarias da capela Senhor dos Passos com baianas, capoeiristas e marujadas, filarmônicas, além de novena, terno de reis, reisados, alvoradas, missas e até o ‘jarê’, que é uma união de candomblés de origem bantu e nagô com o culto aos caboclos.
Parcerias e Territórios
Segundo o diretor do Ipac, mais de 20 ações de proteção aos bens materiais e imateriais estão sendo realizadas pelo Instituto em municípios baianos. “Em período de contingenciamentos e crise, a criatividade e as parcerias são fundamentais numa gestão bem sucedida”, afirma João Carlos.
O Ipac está fazendo restaurações e orientações em seis municípios de vários territórios baianos. “Do ano passado até agora fechamos acordos com as prefeituras de Palmas de Montes Altos (sudoeste), Banzaê (norte), Xique-Xique (oeste) e Santo Amaro (Recôncavo)”, diz o diretor do Ipac. Em Salvador foi entregue a reforma do Passeio Público e está se recuperando a Igreja de Brotas em parceria com a paróquia. Obras e pintura foram realizadas na Igreja do Rosário dos Pretos em parceria com a irmandade, além de repintado o Mercado Municipal de Santa Bárbara.
Com os bens culturais intangíveis, o Ipac atua no Baixo Sul baiano, em Cairu, Nilo Peçanha e Valença pesquisando o ‘Zambiapunga’. Em Saubara, na Baía de Todos os Santos, as ‘Caretas do Mingau’. Na Ilha de Itaparica, os ‘Caboclos’. Em Serrinha, a ‘Procissão do Fogaréu’. E em Bom Jesus da Lapa, a ‘Romaria à Lapa’, completando agora com o Senhor dos Passos na Chapada.
Patrimônio Imaterial
“O ciclo de celebrações dos Passos marca a vivência coletiva de trabalho, religiosidade, entretenimento e práticas coletivas de Lençóis, fundamental para essa população”, esclarece o diretor de Preservação do Patrimônio (Dipat) do Ipac, Hermano Queiroz. Ele informa que após os estudos é elaborado um dossiê e a festa poderá ser inscrita na categoria de Patrimônio Imaterial, via Lei nº 8.895/2003 e decreto estadual nº10.039/2006.
“Em 1852, grupos remanescentes de garimpeiros recebiam a imagem do Senhor dos Passos, de Portugal, vinda pelos portos de Salvador e Cachoeira, navegando pelos rios Paraguaçu e Santo Antônio, até chegar a Lençóis, no dia 02 de fevereiro, e por isso essa data é especial”, relata Queiroz. O Ipac também está em contato com o Ministério Público da Bahia para garantir a realização da festa junto à Igreja Católica, e em parceria com a Prefeitura de Lençóis que apoia o monitoramento e as pesquisas.
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