Ao som de músicas como Cálice, de autoria de Chico Buarque e Gilberto Gil, e de gritos como “Não vai ter golpe”, representantes de centrais sindicais, movimentos sociais e da sociedade civil fizeram nesta quinta (31), uma caminhada no centro de Salvador contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Um trio elétrico acompanhou o percurso, onde representantes discursaram em apoio à presidente Dilma. Uma banda em um microtrio elétrico cantou músicas de resistência à ditadura, ao som da guitarra baiana. Segundo a Polícia Militar, cerca de 12 mil pessoas estiveram no ato, ao qual se uniram manifestantes que saíram do Campo Grande, uma pequeno bairro em Salvador, momentos antes.
Com a união dos dois grupos, participavam da passeata, além de partidos políticos, movimentos sociais, centrais sindicais e representantes de grupos minoritários, como pessoas da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) e indígenas da etnia Pataxó, da região sul da Bahia. Um deles é Kâhu Pataxó, que disse ter vindo à capital somente para participar do ato, junto com outros familiares da etnia. “Viemos apenas para defender a democracia, para as pessoas entenderem que não se tira presidente eleito pelo povo se não houve crime. Crime é negar nossos direitos e esquecer das minorias. Estamos aqui para dizer que queremos continuar lutando pelos nossos direitos e não daremos espaço para a bancada da bala, da Bíblia e do boi, que é a favor do impeachment e contra os nossos direitos”, disse o Kâhu.
Vaias na OAB
Durante a caminhada, alguns manifestantes pararam em frente à sede da seccional baiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na Avenida Joana Angélica, onde vaiaram advogados que apoiam o pedido de impeachment de Dilma e gritaram a frase “A verdade é dura, a OAB apoiou a ditadura”. Enquanto isso, um grupo de advogados participou do ato contra o impedimento da presidente segurando uma faixa em apoio à democracia.
“O impeachment não tem respaldo na legislação brasileira, principalmente porque quem defende é uma oposição inconformada com o resultado das urnas. Estamos resistindo à saída da presidente e vamos continuar lutando até a última gota de sangue e suor”, disse o advogado baiano Túlio Tavares. O ato foi escolhido para o dia de hoje, “Dia Nacional de Mobilização contra o Golpe e em Defesa dos Direitos Sociais”, que faz referência a 31 de março de 1964, quando ocorreu o golpe que deu início à ditadura militar no país.
Homenagem
Ao chegar no Campo da Pólvora, antigo Campo dos Mártires, os participantes, inclusive do Grupo Ditadura Nunca Mais, fizeram uma homenagem aos perseguidos pelo governo militar. “Como somos contrários ao golpe, lembramos amigos e familiares que foram perseguidos e mortos pela ditadura. Aqui [Campo da Pólvora ] está o monumento que homenageia 32 pessoas que desapareceram na ditadura. Eu tive uma irmã e um cunhado, que desapareceram no fim dos anos 70 e até hoje não tivemos informação sobre o que fizeram com eles, que foram à guerrilha do Araguaia. Isso não pode se repetir, a democracia é vital para o avanço do Brasil”, disse a vice-presidente estadual do grupo Tortura Nunca Mais, Diva Santana.
Na Praça do Campo da Pólvora, em frente ao monumento onde estão os nomes dos militantes perseguidos na ditadura, os manifestantes cantaram, em coro, a canção Para Não Dizer que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré, música considerada hino de resistência contra a ditadura militar. Na placa onde estão os nomes dos desaparecidos, foram colocadas flores e o nome de cada um foi lido por Diva Santana, do grupo Tortura Nunca Mais. Os manifestantes continuaram na praça, em frente ao Fórum Ruy Barbosa, onde cantaram e entoaram frases contra o impeachment, ao som de tambores. Da Agência Brasil.