Por Luiz Carlos Suíca*
É difícil ver a estrada com fumaça ou com neblina, nesses casos é preciso se manter equilibrado e alerta. Assim temos atravessado a crise política e econômica brasileira, iniciada em 2015. E no momento de definição a respeito do impedimento, o povo e os movimentos precisam de uma nova atitude. Muitos são os debates internos do PT desde que me filiei, há 20 anos, e digo para todos que muito me orgulho em ter sido forjado por este partido, que foi um instrumento para que lideranças negras e populares pudessem implementar uma nova política, com mais atenção às periferias, cito a presença de Benedita da Silva, Vicentinho, Valmir Assunção, Senador Paim, Marina Silva, Lula e o próprio Rui Costa, como políticos que tiveram acessão dos movimentos de base.
Outro ponto fundamental no PT é a democracia interna. O único partido na história recente do Brasil que possui mecanismos consolidados – mesmo com suas eventuais falhas – de consulta direta ao filiado. Sem falar que sempre foi um partido de debate. Um espaço que reúne uma diversidade de tendências e setores sociais e profissionais, que compõem o PT e participam em diversos congressos, encontros, escolas de formação e grupos setoriais.
Desde o ascenso governamental, muitas questões internas se colocaram, especialmente a forma prática de lidar com a autonomia na relação entre partido, movimentos sociais, parlamento e governo. A tese majoritária que tem sido vitoriosa ao longo das gestões de Lula e início de Dilma apontou para garantir a unidade no PT, por meio da defesa irrestrita ao governo, apostando na ideia de que o ciclo de crescimento do partido estaria assegurado no arco de alianças forjado por Lula do primeiro para o segundo governo. Essa tese à época foi refutada por frentes como a Esperança Vermelha, porém, foi vitoriosa nos fóruns internos e nas práticas governamentais e da direção partidária ao longo dos anos.
Ao mesmo tempo que manteve parceria real com os movimentos sociais e suas bases, o governo Lula se sustentava em primeira instância nos acordos parlamentares, impondo entraves a reformas estruturais e convivendo com cenários como do genocídio da população negra e indígena no Brasil. Este posicionamento gerou insatisfações e um relativo enfraquecimento de algumas frentes de luta social. Em alguns casos, governos petistas entraram em conflito direto contra sindicatos e outros movimentos. Pode-se dizer que, nos últimos anos, o diálogo se tornou muito frágil e, não à toa, adentramos a crise de sustentação do Governo Federal.
Com a percepção de esgotamento da antiga tese majoritária sobre a sustentação no parlamento, a direção nacional assumiu em 2014 uma ampla mobilização nacional em torno da reforma política que é importante. O PT foi pioneiro nesse debate, apresentando, inclusive, uma proposta ainda nos anos 1990, que aponta avanços como o fim do financiamento privado, proibido recentemente pelo STF [Supremo Tribunal Federal]. Esta atitude demonstra uma retomada do diálogo com a sociedade e a militância, que deve ser ampliada.
Ao caminhar, principalmente na periferia da cidade de Salvador, tenho percebido que o PT ainda está muito vivo. As pessoas reconhecem o diferencial da gente e querem dar sua contribuição para melhorar a situação local e nacional. Existe uma militância petista que precisa ser melhor observada pelo partido.
Agora, que vamos virar o jogo e comprovar que o impedimento de Dilma é ilegal, precisamos derrotar, de uma vez por todas, as antigas teses majoritárias que apostaram apenas na maioria parlamentar e ampliar a atuação junto aos movimentos e às bases sociais. Este é um caminho para fazer um novo PT, ainda mais popular, que, no parlamento ou no governo, prefere governar nas ruas e com as pessoas.
*Luiz Carlos Suíca é historiador, vereador de Salvador e membro da tendência Esquerda Popular Socialista – EPS