O ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, André Nassar, disse nesta terça (14) à Comissão Processante do Impeachment que o Banco do Brasil (BB) tinha interesse em “fazer o dinheiro girar” ao emprestar dinheiro do Plano Safra para produtores rurais, mesmo recebendo os repasses em atraso por parte do governo. Segundo Nassar, que depôs como testemunha de defesa da presidenta afastada Dilma Rousseff, o banco tinha a garantia de que receberia a equalização dos juros do programa e a manutenção dos pagamentos aos produtores foi importante para evitar que houvesse um prejuízo maior para o país.
“O fato de ter havido ou não atraso – não estou afirmando nada – não prejudicou o andamento do Plano Safra. Eu acho que, do meu ponto de vista como secretário de Política Agrícola e do ponto de vista do setor agropecuário, agricultura patronal, comercial, familiar, isso é o mais importante, porque você não gera descontinuidade em uma política que, se tivesse ocorrido, teria gerado uma crise de grandes proporções para o setor”, disse.
Em vários momentos, no entanto, ao ser questionado sobre detalhes referentes aos atrasos nos pagamentos, o ex-secretário explicou que tinha informações repassadas pelos técnicos do Tesouro Nacional e não era da sua alçada tratar do assunto. “Toda informação que eu tenho a respeito dos pagamentos que foram feitos me foi passada pelo Tesouro Nacional, pelas mesmas pessoas que depuseram aqui anteriormente”, disse.
Agilizar processo
A oitiva de Nassar foi a mais rápida entre todas as testemunhas ouvidas pela comissão até o momento porque os senadores favoráveis ao impeachment de Dilma adotaram a estratégia de reduzir o número de perguntas ou se inscrever e não perguntar nada para acelerar o depoimento. Além disso, alguns senadores disseram que a testemunha não tinha conhecimento técnico suficiente para embasar as respostas e optaram por não questionar.
“Diante do fato de que nós estamos tratando das pedaladas fiscais, e o que está sendo discutido aqui são basicamente duas irregularidades, entendo que a testemunha não tem condições de respondê-las. Primeiro porque não é advogado para entender se houve ou não uma operação de crédito”, disse a senadora Simone Tebet (PMDB-MS). “E tendo em vista que não trabalhou no Banco Central, para tentarmos entender por que o Banco Central não contabilizou essa dívida, que é uma dívida pública muito grande com os bancos públicos, na época de mais de R$ 40 bilhões, fora a subdimensão também do resultado primário de R$ 7 bilhões. Eu agradeço à testemunha, não quero, com isso, demonstrar que estou sendo indelicada. Vou aguardar a próxima testemunha”.
Ao fazer sua intervenção, a advogada de acusação, Janaína Paschoal, também disse que a testemunha não tinha total conhecimento sobre os fatos em questão e acusou a defesa de estar arrolando testemunhas apenas para procrastinar o processo. “É muito chato que nós fiquemos aqui, de certa forma, atrasando o processo, ouvindo 40 testemunhas. No primeiro momento, a testemunha já disse que assumiu o cargo posteriormente ao período objeto deste processo. Então, eu gostaria de pedir à Presidência que se atentasse para isso”, disse.
Desrespeito
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) acusou a advogada de ser muito “agressiva” com o depoente. A estratégia de redução do número de perguntas também foi criticada pelos senadores favoráveis à presidenta afastada como sendo uma falta de respeito com Nassar.
“Eu estava inscrita em sexto lugar e a senadora Vanessa deve ser a segunda. Eu pulei de lugar. Então, isso quer dizer que nós estamos sendo mais ágeis agora? Os nossos integrantes não estão participando”, disse a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). A última testemunha prevista para esta terça seria o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Luciano Coutinho, mas ele foi dispensado a pedido do advogado de defesa, José Eduardo Cardozo. Da Agência Brasil.