Agora cidadã baiana, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) fez de tudo para tentar não deixar a cerimônia da entrega da honraria tão enfadonha como foi com um cerimonial fraco e chinfrim. Infelizmente ou felizmente, vai depender do seu ponto de vista, Dilma conseguiu tirar leite de pedra e fez um relato geral da sua gestão e dos programas sociais, criticando, de quebra, o governo interino de Michel Temer (PMDB). Para alguns, ela conseguiu encobrir a frieza e tirou aplausos e risos da militância no plenário, que, por diversas vezes era chamada a atenção pelo presidente da Casa, deputado Marcelo Nilo (PSL).
Dilma, além da honraria concedida pelo parlamentar Rosemberg Pinto (PT), ainda recebeu uma maquete da deputada Fátima Nunes (PT), simbolizando a construção de um milhão e trezentas mil cisternas, correspondente ao número de “mulheres que deixaram de carregar lata d’água na cabeça”, comemora Nunes. “Aprendi que a Bahia é uma terra aguerrida, uma terra em que as pessoas, desde logo, tomaram a posição diante do que a gente pode chamar de lutas pela independência deste país, no 2 de Julho, uma terra que tem esta posição de lutar contra práticas de opressão, pela independência e soberania do país”, salienta Dilma fazendo referência à data magna da Bahia.
Dilma grava vídeo com o governador Rui Costa:
A presidente diz que os governantes devem usar o estado para diminuir as desigualdades no país. Citou as obras do metrô, a via expressa, a Rótula do Abacaxi, parabenizou o governador Rui Costa pelas iniciativas na capital baiana e destacou as medidas impopulares do governo interino.
“Uma proposta [do governo Temer] no Congresso Nacional vai reduzir os gastos mínimos em saúde e educação. Não há nenhuma justificativa, não há razão para reduzir justamente os gastos em saúde e educação em um país como o Brasil. Nós sabemos que todo esse programa levado à cabo pelo governo golpista provisório, ninguém votaria nisso, ninguém votaria na redução do pré-sal, ninguém votaria na redução de toda cadeia de petróleo e gás, pelo fato de que isso comprometeria o desenvolvimento do país. Aliás, aqui na Bahia, essa cadeia é muito importante”.
Militância grita ‘volta, querida!’:
Falando do golpe
Sobre o processo de impedimento, que a afastou do cargo de presidente, Dilma disse que para haver impeachment tem que ter crime de responsabilidade, “porque eles não conseguem discutir a questão dos quatro decretos – eram seis, mas diminuíram dois, agora são quatro decretos, porque chegaram à conclusão que dois não dava para iniciar a conversa e também com o Plano Safra”.
Na sequência, a presidente disse que esses tipos de decretos foram feitos nos governos anteriores ao dela e nunca foram crime e virou crime agora, “quando precisavam de um argumento para iniciar o impeachment como uma vingança do então presidente da Câmara [Eduardo Cunha]”. “Além disso, esse golpe é diferente dos golpes militares, é muito simples a gente entender a diferença. Se nós imaginarmos que a democracia é uma árvore e que um golpe militar é um machado destruindo, derrubando e matando a árvore, e portanto matando democracia e instituindo a ditadura”.
Trecho do pronunciamento:
De acordo com Dilma, “o modelo do atual golpe é como imaginar a árvore sendo atacada por parasitas implacáveis”, que querem tirar dela a sua seiva. “Tirar de quem? Das instituições brasileiras. Por isso nós temos que lutar em todas as instâncias. Primeiro precisamos lutar, dialogando com os senadores sérios, que têm compromisso com este país. Além disso nós temos que ir às ruas, dialogar com a população, com os movimentos sociais”, declara a presidente sobre o julgamento final do impeachment no Senado.
“Temos que acreditar na força da democracia em nosso país, temos que lutar, porque é só lutando pela democracia que nós conseguiremos, de fato, extirpar todas as raízes dos parasitas que tentam sugar a nossa árvore da democracia. Aqui é a terra que lutou pela independência deste país, aqui nós sabemos que tem uma tradição de lutas, o povo é um povo alegre, que vive a vida, mas é também um povo aguerrido na hora que precisa. Daí que eu peço a vocês, não vamos deixar que esses parasitas matem a nossa árvore da democracia”, completa Dilma em seu pronunciamento. A presidente afastada também participou de um ato político no estacionamento da Assembleia, que reuniu a militância petista, movimentos sociais e políticos.
Jornal da Chapada
Confira imagens do Jornal da Chapada