A prisão do professor Sérgio Delvair da Costa, conhecido pelo seu canal no Youtube THC Procê, em que ensinava técnicas de cultivo de maconha para mais de 16 mil assinantes, tem causado discussões sobre o programa antidrogas do Brasil. Existe um debate, em específico, que critica a polícia que prende um cultivador, mas não consegue descobrir a origem dos 445 quilos de pasta base de cocaína apreendidos no helicóptero da família do senador Zezé Perrella. Sérgio cultivava 120 pés da planta em sua casa e tinha uma espécie de clube sementeiro, a Cooperativa de Cultivadores do Brasil (CCB), onde cerca de 1.500 pessoas pagavam para participar e recebiam sementes de cannabis sativa. Ele é militante pela legalização da maconha e “grower”, como são chamados os apreciadores dedicados ao cultivo da erva.
Talvez por não militar nas sombras, tornou-se alvo fácil da polícia civil. Não foram encontradas armas, nenhuma quantia em dinheiro, nem a jacuzzi onipresente nos esconderijos dos chefes do tráfico do Rio de Janeiro. THC Procê foi autuado por tráfico e se condenado pode pegar até 20 anos de prisão. Com pose de quem acabou de pegar um chefão da máfia mexicana, os policiais que o prenderam usaram o próprio canal do THC Procê para deixar um recado aos growers associados à cooperativa.
“Nós temos o endereço de cada um dos colaboradores que pagam R$ 37 por mês para receberem e cultivarem suas plantas de maconha em casa. Vamos bater na casa dos senhores e vocês vão responder por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Esse é o último vídeo do canal. A casa caiu. Cada um dos senhores está na nossa lista, com endereço e com identificação”, diz o policial, anunciando o que pode ser a maior operação de combate ao tráfico do país, com uns 1.500 investigados.
Apesar do absurdo que seria uma operação desse porte para pegar um punhado de sementes e algumas plantas, os growers têm motivo para se preocupar. Ao contrário do caso do “helicoca”, no qual todos os envolvidos estão livres, a situação não tem sido fácil para quem se aventura a plantar maconha para consumo próprio. Adepto da religião rastafári, o ativista Geraldo Antonio Baptista, ou Ras Geraldinho, autoproclamado “maior expert em maconha do Brasil” está preso e cumpriu três dos 14 anos de condenação por tráfico de drogas. Geraldinho foi condenado por cultivar 37 pés de maconha em sua propriedade. Segundo seu advogado, as plantas renderiam menos de um quilo da droga.
Se fosse comercializada, o dinheiro obtido seria uma migalha comparado aos 50 milhões de reais que a cocaína apreendida no helicóptero dos Perrella valeria no mercado final. As prisões dos ativistas e a liberdade dos envolvidos com o “helicoca” mostram que o Estado trata alguns com a fúria do ex-chefão do FBI John Edgar Hoover, enquanto com outros é leniente feito uma vovó carinhosa. Com informações do Pragmatismo Político.