Presidente do PT na Bahia, Everaldo Anunciação acredita que é imperiosa a necessidade de o partido se reconstruir como forma de garantir a própria sobrevivência, construindo novas lideranças e buscando uma maior participação popular. Nesta entrevista à Tribuna da Bahia, o petista faz uma análise sobre as eleições municipais em Salvador e no interior do Estado, e atribui a derrota da candidata Alice Portugal (PCdoB) a um erro estratégico.
Everaldo Anunciação disse ainda que a legenda não cogita colocar o ex-governador Jaques Wagner como candidato ao governo em 2018, e que os esforços caminham no sentido de garantir a reeleição do atual governador, Rui Costa. Para ele, os partidos aliados do prefeito ACM Neto estão imbuídos em dividi-los. “É uma tentativa de nos dividir, porque unidos nós demonstramos capacidade de continuar esse projeto que está dando certo na Bahia”. Confira abaixo:
Tribuna – Que leitura o senhor faz desse momento da política no país? Ainda muito tenso?
Everaldo Anunciação – Sem dúvida, a gente vive um momento no Brasil onde o ataque à democracia, materializado no golpe no Congresso Nacional, independente de quem queira fazer avaliação a favor ou contra, modificou o estado de direito democrático que o país vinha vivendo. E isso, por consequência, também as eleições de 2016, com suas regras diferenciadas.
Ela também traz no seu bojo, em algumas cidades, a presença de atores que chamam a atenção da democracia e da segurança da sociedade, que atuam no ilícito, nas drogas, nos jogos de azar, coisas que criam um cenário de reflexão. Associado a isso, temos um número de abstenções, votos brancos e nulos, que muitas vezes são superiores aos votos de alguns prefeitos. Então há esse clima no Brasil, e recentemente com investigações no Senado questionadas pelo próprio STF.
Tribuna – O PT foi o partido que mais perdeu espaço nas últimas eleições, principalmente na Bahia. Como avalia esse cenário?
Everaldo Anunciação – É verdade. Acho que se fizer uma análise cronológica do que aconteceu nesse novo milênio das eleições, dá para entendermos que tem muita ligação entre quem está no poder central, na Presidência da República, e as eleições municipais. Por exemplo, em 2000, o DEM, na época, PFL, o PMDB e o PSDB, cada um administrava mais de mil prefeituras no Brasil, estamos falando de 70%. Já em 2002, com a eleição do presidente Lula, esse quadro começou a se reverter nas eleições de 2004.
O PT e o PMDB passam a dirigir o governo central. O PMDB se estabiliza e o PT vai em uma crescente. Com o golpe em 2016 e a perda do governo central, esses partidos de oposição apresentam um crescimento melhor, e o PT tem uma queda de 600 prefeituras para algo próximo a 300. Isso também tem a ver com os ataques que o PT sofre desde 2005, com o mensalão, e agora mais recentemente a investigação da Lava Jato, que foi direcionada a um único partido. Isso influencia até mesmo na Bahia, onde temos o terceiro melhor governador avaliado nas pesquisas, e a base aliada tendo eleito 278 prefeituras.
O PT tinha a expectativa de eleger mais, fez 39, estamos participando do segundo turno em Vitória da Conquista e mais cinco cidades estão com ações judiciais. Então, o PT teve uma diminuição apesar da boa distribuição e do retorno de alguns prefeitos a cidades importantes como Lauro de Freitas, Senhor do Bonfim e Cruz das Almas.
Tribuna – Como o senhor avalia a derrota de Alice Portugal nas eleições de Salvador? Houve erro na escolha ou na condução da campanha?
Everaldo Anunciação – Uma coisa que nós temos que aprender é a ter um plano estratégico. O tempo que levamos discutindo uma candidatura em Salvador levou a uma decisão muito próxima às eleições, que já foram curtas. Esse foi um dos erros. Não materializo na pessoa ou no partido o erro, mas na estratégia e na ausência ao longo dos últimos quatro anos de uma oposição em relação ao governo municipal, que viveu basicamente da mídia, de propaganda enganosa, pongando em obras do governo do Estado.
É comum vermos placas do governo municipal em obras do governo do Estado, o que fazia uma confusão na cabeça do eleitorado. Mas também não resta dúvida que o prefeito pegou uma prefeitura arrasada, e o feijão com arroz que ele fez terminou dando uma sensação de melhoria para a população.
Tribuna – Muitos se queixam que o governador Rui Costa se prendeu muito à gestão e deixou a política muito solta. Isso vai ter impacto em 2018?
Everaldo Anunciação – Primeiro que há uma divergência sobre essa questão de Rui se preocupar com a gestão e não fazer política. A melhor coisa para a política e para a população é ter um bom gestor, que cuida do dinheiro público com carinho e atenção e materializa em realizações para a população. É para isso que elegemos um governador, um presidente… Acho que a articulação política de Rui, de coordenar uma base aliada ampla, como a que temos na Bahia, dá uma demonstração de força política quando toda a base aliada vota contra o golpe. Tivemos manifestações de 24 parlamentares federais de unidades da base, e olha que só temos seis votos do PT. São 18 votos que tivemos na Câmara contra o golpe, sob coordenação do governador.
No momento mais crítico da política, de defesa da democracia, a liderança política de Rui Costa demonstrou unidade da base aliada, e saiu das eleições com 70% dos municípios sob a coordenação do governo. Acho que é um equívoco deixar de reconhecer o pequeno crescimento que a oposição teve em algumas cidades, centros como Camaçari e Simões Filho, mas penso que a intervenção política do governador foi de manter a base unida, e isso ele conseguiu. Acho que temos que ter cuidado nas avaliações porque quem tem uma base aliada que teve a vitória de 278 prefeituras não pode minimizar essa avaliação por interesses de partido e de parlamentares e não ficar fazendo críticas que só beneficiam a oposição que quer nos dividir.
Confira entrevista completa na Tribuna da Bahia…