A luta como mãe na vida de Emanoele Freitas começou com o seu filho aos dois anos de idade. Mesmo desde bem pequeno, já apresentava um comportamento desafiador fora do normal. Segundo ela, parecia que a criança testava o tempo todo a paciência e a autoridade. “Toda criança nessa idade tem um desafio natural em relação aos pais, pois estão mudando e criando sua autonomia, mas a dele fugia a esse requisito, ia além. Não sabia como lidar no início”, relata.
Emanoele conta que nunca foi a favor de bater nos filhos, mas que aquela situação passava dos limites da capacidade de lidar. Mesmo disciplinando o menino, nada surtia efeito. Ela diz que teve de ouvir pessoas fazendo comentários do tipo: “se fosse meu filho dava logo um jeito”; ou “se fosse meu filho ele não faria isso” ou “como mãe é muito mole, quando ele crescer vai bater em você”, entre tantas outras falas. “Certa vez ao bater no meu filho, ele virou para mim chorando e perguntou o porquê daquilo. Sem saber o que responder, comecei a chorar junto e pedi perdão”, diz.
Depois desse episódio, ela procurou médicos e descobriu que, além de ser autista, o filho tinha o Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD). Foi quando os profissionais de saúde recomendaram administrar medicação prescrita. “Aos 6 anos de idade, houve uma grande redução da agressividade. Quando ele atingiu os 8 anos, conheci a terapia cognitiva comportamental”.
Por meio da terapia, Emanoele conta que começou a mudar o jeito de ser e a forma como lidava com o filho. Ela iniciou as técnicas de antecipação, prevendo uma possível mudança no comportamento do filho, reforçador positivo, mostrando que o filho agiu de maneira correta em uma situação, e buscou não fazer tanto o reforçador negativo, falar o que ele fez de errado. “Foi muito difícil no início, eram horas de “luta”, momentos que machucavam a mim e a ele emocionalmente. Mas tudo isso é para o bem dele”.
“Hoje aos 12 anos, vejo as pessoas falando como ele está diferente e como melhorou. Porém, entendo que não posso fraquejar, fico repetindo isso o tempo todo comigo. Apesar da melhora, não posso dar brechas”, diz. Segundo o neuropediatra Dr. Clay Brites, da Neuro Saber, o TOD é um transtorno de comportamento que ocorre mais na infância e adolescência. É caracterizado por ações inadequadas e excessivamente antissociais. A pessoa se mostra muito negativista, desafiadora, desobediente e hostil há mais de 6 meses pelo menos.
“Nestas crianças, observa-se, frequentemente um descontrole emocional, perfil de discussão frequente com os adultos, desafia e se recusa a seguir regras, tem intuito de aborrecer pessoas, não reconhece erros e se ressente demais chegando a agir de forma vingativa”, relata. Brites diz que os motivos podem envolver alguns fatores como, por exemplo, predisposição genética e um ambiente em que a criança viva como muitos favorecimentos, como pais divergentes, permissivos ou que não sabem estabelecer regras e limites. “Esse transtorno pode ocorrer entre 6 e 11% das crianças. Os sintomas emergem mais a partir dos 4-5 anos podendo persistir por toda a vida. Existem escalas de avaliação que ajudam a orientar no processo de diagnóstico”.
O neuropediatra diz ainda que o TOD pode ocorrer em qualquer pessoa, porém é mais comum em pacientes com Transtornos do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou em pacientes com transtornos de Humor. “Os familiares devem sempre procurar ajuda especializada, especialmente de psiquiatras infantis, neuropediatras e/ou psicólogos. Para os casos de TOD, o tratamento é multidisciplinar e envolve medicações, psicoterapia de manejo parental, suporte escolar e estratégias psicoeducativas”, diz.
Brites reforça que o papel da escola e da família no tratamento é essencial. Para ele, a escola deve conhecer as formas e os caminhos mais indicados para conversar e manejar situações críticas com estes jovens. “É fundamental trabalhar para prevenir o bullying e oferecer reforço”. “A família, por sua vez, deve implementar mecanismos de como conversar e dialogar com estas crianças e saber de estratégias comportamentais para reduzir tais comportamentos e melhorar seu engajamento para cumprir atividades condicionadas”, conclui.