O jornalista Reinaldo Azevedo, que era titular de um dos blogs mais lidos no site da revista Veja, foi flagrado em conversas com a irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG), Andrea Neves, grampeadas pela Polícia Federal (PF), com autorização da Justiça. De acordo com site BuzzFeed, após a publicação da reportagem sobre o assunto, Azevedo anunciou sua demissão da Veja. A PF, entretanto, não constatou indícios de crimes nas conversas entre os dois. Mesmo assim, as gravações foram anexadas pela Procuradoria-Geral da República ao conjunto de áudios anexados ao inquérito que provocou o afastamento de Aécio e a prisão da irmã.
A primeira gravação, feita no dia 13 de abril, traz os dois criticando a Odebrecht, a Lava Jato e a própria revista, sempre em defesa de Aécio. Andrea diz: “Agora, que está acontecendo na Veja, o que o pessoal fez… Assinaram todos os jornalistas e vão pegar a loucura desse cara [Alexandre Acioly, delator] para esquentar a maluquice contra mim”. Azevedo responde: “Ah, eu vi. É nojento, nojento. Eu vi. Tanto é que logo no primeiro parágrafo, a Veja publicou no começo de abril que não sei o que, na conta de Andrea Neves. Como se o depoimento do cara endossasse isso. E ele não fala isso”.
Em outras conversas, os dois criticam o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de separar os inquéritos contra Aécio para que ele se tornasse o campeão de investigações. O senador afastado responde a cinco inquéritos no STF. O tom amistoso entre os dois é tão grande que, em uma das interceptações, eles chegam a recitar poemas um para o outro. Em nota, Azevedo disse que garantias constitucionais suas foram violadas com a divulgação do áudio. “Pedi demissão da Veja. Na verdade, temos um contrato, que está sendo rompido a meu pedido. E a direção da revista concordou”. Com informações do BuzzFeed e redação do Bahia Notícias.
Reinaldo publicou texto em redes sociais e pontuou os fatos, confira abaixo:
“1: não sou investigado;
2: a transcrição da conversa privada, entre jornalista e sua fonte, não guarda relação com o objeto da investigação;
3: tornar público esse tipo de conversa é só uma maneira de intimidar jornalistas;
4: como Andrea e Aécio são minhas fontes, achei, num primeiro momento, que pudessem fazer isso; depois, pensei que seria de tal sorte absurdo que não aconteceria;
5: mas me ocorreu em seguida: “se estimulam que se grave ilegalmente o presidente, por que não fariam isso com um jornalista que é crítico ao trabalho da patota;
6: em qualquer democracia do mundo, a divulgação da conversa de um jornalista com sua fonte seria considerada um escândalo. Por aqui, não;
7: tratem, senhores jornalistas, de só falar bem da Lava Jato, de incensar seus comandantes.
8: Andrea estava grampeada, eu não. A divulgação dessa conversa me tem como foco, não a ela; [… ]
9: Bem, o blog está fora da Veja. Se conseguir hospedá-lo em algum outro lugar, vocês ficarão sabendo.
10: O que se tem aí caracteriza um estado policial. Uma garantia constitucional de um indivíduo está sendo agredida por algo que nada tem a ver com a investigação;
11: e também há uma agressão a uma das garantias que tem a profissão. A menos que um crime esteja sendo cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua fonte é um dos pilares do jornalismo”.