O empresário flagrado em uma foto divulgada pela Polícia Militar (PM) fazendo uma selfie durante o próprio salvamento e de outros passageiros em um naufrágio da lancha em que estavam e que fazia a travessia entre Salvador e Morro de São Paulo, no baixo-sul da Bahia, negou que tenha brincado com a situação. Felipe Gonzalez, de 31 anos, disse que começou a fazer imagens após ver a chegada do resgate e ter certeza de que todos já estavam salvos. Gonzalez ainda destacou, em entrevista ao G1, na última sexta-feira (3), um dia após o acidente, que não pretendia publicar as imagens que fez com o celular na internet, mas sim guardá-las como recordação. A foto da polícia em que ele aparece com o celular na mão no meio da água, no entanto, foi parar em redes sociais e até virou meme.
“Naquele momento que peguei o celular, foi para fazer filmagens para que pudessem ficar entre nós mesmos. Achamos que estávamos vivendo um momento único, por termos sobrevivido, e a gente gravou porque queria ficar com isso guardado somente para a gente. Quando vimos a embarcação do resgate se aproximar, ficamos muito felizes. Disseram que eu tinha brincado com a situação e que gente estava rindo, mas todo mundo já estava salvo”, destacou o empresário. Gonzalez contou que sempre costuma andar de lancha e que foi a primeira vez que enfrentou situação parecida. Ele e os amigos, outros cinco homens e duas mulheres, iam para uma festa em Morro de São Paulo na lancha particular, quando tudo aconteceu. Todos os oito ocupantes da embarcação foram resgatados sem ferimentos.
“Eu sempre andei de lancha a vida toda, sempre vivi no mar e nunca achei que um dia iria passar por essa situação. Foi assustador olhar para o horizonte e não saber ao certo onde a gente estava. Mas a gente conseguiu falar com todo mundo. Eu liguei para o meu pai e também para outras pessoas que têm lanchas”, destacou. Ainda conforme o empresário, no momento em que a água começou a invadir a lancha até a chegada do resgate foram cerca de 3 horas. Gonzalez disse que a embarcação pertence a um amigo e que está com tudo em dia.
“Não tinha nada de errado com a lancha, estava tudo dentro dos conformes. No dia anterior, ela passou por inspeção. Então, não sabemos ao certo o que aconteceu. Já naveguei com o mar em condições piores e nunca passei por isso. Acho que realmente foi uma fatalidade. O importante foi que, apesar da situação, eu mantive a calma. Procuramos passar tranquilidade sobretudo para as meninas, que estavam mais nervosas. Eu sabia que iríamos sair bem dali”, destacou.
“Eu não sei até que horas a gente vai estar com celular. Pede ajuda que a lancha está afundando. A gente está em cima da lancha. Já perdemos as coisas”. Em tom de desespero, foi esse o pedido de socorro feito por uma das vítimas através de mensagem de áudio. O grupo só conseguiu pedir ajuda porque estava com dois celulares que eram a prova d’água. Ainda assim, eles ficaram cerca de três horas no mar à espera do resgate, que foi feito por outra embarcação que passava pelo local. O Grupamento Aéreo da Polícia Militar também deu apoio na retirada do grupo da água.
Outro passageiro que estava na lancha, o músico e empresário Moisés Sande também conversou com o G1 sobre o acidente. Ele afirmou que chovia bastante quando a embarcação começou a afundar. A Capitania dos Portos está investigando as causas do ocorrido, entretanto a suspeita é de que o mar agitado provocado pelo mau tempo pode ter causado o naufrágio. O resultado da investigação deve sair em até 90 dias.
Segundo Moisés Sande, após uma hora de viagem sob forte chuva, a tripulação sentiu um forte impacto. Antes do naufrágio, quando os ocupantes perceberam que algo de errado estava acontecendo, Sande disse que os passageiros acionaram o 190 e também um grupo de lanchas [de pilotos] em um aplicativo de bate-papo no celular. Antes do naufrágio, os ocupantes conseguiram retirar um dos assentos da lancha, que serviu como apoio para os passageiros. Sande também disse que os ocupantes fizeram fotos para mandar para familiares mostrando que tudo estava bem e que registaram a situação para ficasse como arquivo pessoal e não para divulgação.
Apesar do susto, o grupo de amigos não desistiu da viagem, e o final de semana de passeio em Morro de São Paulo não foi cancelado. Sande falou que o susto fez valer ainda mais a premissa de que a vida não pode ser desperdiçada. “Numa situação como essa, você repensa muita coisa. Pensa na família, nos planos, nos assuntos mal resolvidos. No fim de tudo, o que vale é viver. Já que a gente está a salvo, temos que aproveitar a vida”. Jornal da Chapada com informações do G1BA.