O vice-governador da Bahia, João Leão (PP), virou uma figura fundamental para os próximos capítulos da corrida eleitoral de 2018. “O desejado”, como ele mesmo se define, pelos grupos de Rui Costa (PT) e ACM Neto (DEM), continua fazendo mistério sobre o seu futuro político. No entanto, assegura: não será ministro do governo Michel Temer (PMDB). “Para ser ministro, não poderia ser candidato. Então, não tenho nenhum interesse. Quero ser candidato e continuar trabalhando pela Bahia. Quero continuar dando minhas horas, o meu empenho, visitando o interior e fazendo o que faço todos os dias”, revela em entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia.
O progressista, que tem diálogo aberto com a oposição, deixa implícito que acha improvável a candidatura do prefeito de Salvador. “Quem vai compor a chapa de Neto? Nem ele sabe. Meu amigo Jutahy Magalhães disse que quer, mas a turma não quer Jutahy. Tenho diálogo com todo esse povo do lado de lá, porque sou aquele político que dialoga com todos os lados. Aí você tem o prefeito de Feira, Zé Ronaldo, será que ele vai? Está numa situação igual a de Neto”, analisa.
E completa: “Pelo gênio que Neto tem, ele vai querer entregar a prefeitura e continuar como prefeito. Isso está no DNA dele. Ele quer comandar! O cara tem que cumprir aquilo que ele diz. Bruno Reis vai aceitar? É um ponto de interrogação. Neto tem a confiança de entregar essa prefeitura a Bruno Reis? A chapa dele está cheia de interrogação”. Ainda no papo, Leão revela quais serão os próximos passos do PP e revela quais são as impressões que tem sobre as cenas políticas local e nacional. João Leão diz que não gostaria de estar no lugar do prefeito ACM Neto, que terá que definir se renuncia à prefeitura de Salvador para se lançar ao governo
Tribuna da Bahia – Como o senhor vê a antecipação do processo eleitoral na Bahia. A gente tem um indicativo de que vai ser uma eleição tensa?
João Leão – Vejo até que o processo eleitoral não está muito acirrado. Acirrado vai ficar depois do prazo legal, que é quando você vai ter televisão, comícios e a estrutura própria da campanha. Nesta pré-campanha, até que está morno.
Tribuna – Como o senhor vê o governo Rui Costa? O senhor acha que ele vai chegar fortalecido nessa disputa eleitoral?
Leão – Tenho certeza que sim. Se você pegar os índices de avaliação do governador Rui Costa, é o mais bem avaliado do Brasil. Os índices de avaliação do governo são excepcionais. Então, um governador que continua num processo eleitoral com esses índices de avaliação, você vai ter uma eleição tranquila.
Tribuna – O que o senhor acha que foi o principal erro e o principal acerto do governador?
Leão – O governador não tem erro, quando é do nosso lado. E os acertos de Rui foram muitos. Grandes acertos, grandes acertos…
Tribuna – Cite alguns…
Leão – Você tem aí uma questão de recursos hídricos, uma série de obras que foram construídas. Uma série de cisternas, uma série de barragens resolvendo o problema de água em Vitória da Conquista, Itabuna… Você tem grandes obras. Na estrutura, vamos terminar esse mandato com algo em torno de cinco mil quilômetros de rodovias implantadas.
[O ex-governador Jaques] Wagner fez quatro mil quilômetros quando fui secretário no primeiro governo dele, fez no segundo governo mais quatro mil quilômetros e Rui já começa com cinco mil. Outra coisa, são grandes os projetos de desenvolvimento econômico que nós estamos fazendo na Bahia, aqui na Seplan e na Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Nós temos uma série de empresários de fora, europeus, chineses e americanos, pessoas que já estão se instalando com projetos que já começaram. Essas coisas são muito importantes para a Bahia.
Tribuna – Projetos, como…
Leão – Projetos como a Euroeste, que está se instalando para criação de 200 mil porcos e levar essa carne de suínos para a comunidade europeia. Tem outro grupo holandês, Agri Brasil, que é um projeto de leite. Nós tivemos um sucesso absoluto que é o Leitíssimo, que é um sucesso encontrado em todas as prateleiras dos supermercados. Agora vem um novo projeto para iniciar com 60 mil vagas e revolucionar, não só a Bahia, mas o Brasil no processo de produção de leite. Aí você tem os projetos das usinas de açúcar na Bahia. O estado só produz 10% do seu álcool e 11,3% do seu açúcar.
Queremos que a Bahia produza 90% ou 80% disso. Fizemos um projeto e já vamos começar a implantar a primeira usina de açúcar, lá no Vale do São Francisco. Vamos ter mais duas no município de Barra, mais duas em Xique-Xique e o nosso objetivo é implantar 10 usinas de açúcar [no total]. Você implantando essas 10 usinas, a Bahia vai ter toda sua produção de álcool e açúcar que vêm de caminhão de São Paulo. O que vai acontecer depois disso? Vamos tirar tráfego das rodovias federais do Brasil inteiro. E fomentar o desenvolvimento local…
Tribuna – Qual será o maior legado do governo Rui Costa?
Leão – A seriedade, a competência, o bom andamento da coisa pública e de você dizer ‘o governo tem gestor’. Nós temos um grande gestor a frente do Governo da Bahia. O governador Rui Costa é aquele que paga em dia o salário dos funcionários, que coloca em dia as empresas que prestam serviços ao Estado. Lá, uma vez ou outra, escorrega-se porque alguma secretaria esqueceu uma fatura aqui, às vezes é algum empresário que não deu entrada na época certa e vai receber no mês seguinte.
Mas, no total, nós estamos com nossas obrigações em dia. Se você olhar o espelho do Brasil, é o contrário. E ainda tem outra grande obra, que é o nosso metrô. A Bahia é um estado que, em termos reais de investimento, só perdemos para o estado de São Paulo. Eles fizeram investimento público em torno de R$ 3,8 bilhões. A Bahia colocou R$ 1,6 bilhão. São essas coisas que vão fazer com que a Bahia saia na ponta do Brasil. Em terceiro, vem Pernambuco com R$ 800 milhões.
Tribuna – Mas tem muito projeto que foi anunciado e não saiu do papel, como a Ponte Salvador-Itaparica, a Ferrovia Leste-Oeste, o Porto Sul e outras intervenções que foram faladas e não saíram…
Leão – Mas vão sair! A Ferrovia Oeste-Leste, por exemplo, é uma obra do Governo Federal com uma parceria do Governo Estadual. O Porto é nosso. O que nós estamos querendo aí é desenvolver uma macrorregião no Estado da Bahia: a região Sul. Você vai pegar o escoamento de tudo isso que estamos fazendo. Toda a região Oeste vai mandar os seus produtos para a região.
Lá, nos estamos implantando uma zona franca tipo a de Manaus, onde vamos ter condições de receber siderúrgicas, indústria de extração de óleo, de produção de cacau. Você vai ter uma malha de indústrias que poderão ser instaladas nessa zona, com o empresário tendo a vantagem de que não vai pagar imposto. Então, você tem uma série de indústrias que serão implantadas nessa região. Aí você tem uma ferrovia que já está 72% pronta. no momento político que vivemos no Brasil, é muito difícil você continuar implantando uma obra de tamanha grandeza.
Tribuna – E sobre a Ponte Salvador-Itaparica… O fato de ter suspendido o pregão na bolsa de valores fragiliza o projeto da ponte?
Leão – O projeto da ponte está pronto. Nós estamos aqui com duas grandes empresas chinesas interessadas. Ao contrário, o adiamento fortifica o projeto. Porque nós suspendemos o projeto lá? O dia 19 de abril era a data que nós iríamos fazer o pregão. Foi suspenso porque nós temos duas empresas chinesas interessadas e elas não teriam tempo de estudar o projeto e aprová-lo junto ao governo chinês. A China trabalha um pouco diferente das empresas brasileiras. Todas elas são estatais. Uma é uma estatal do governo federal chinês e outra é uma estatal de uma província. Então, essas duas empresas têm que se reportar ao governo federal e à província.
Elas precisam que o governo local dê o aval para que eles possam participar da obra. Você não vai me dizer que uma empresa que manda para cá 17 técnicos, que leva um mês rodando a Bahia, estudando o processo, sentando com técnicos nossos, traduzindo tudo para o mandarim, que essa empresa não tem interesse em fazer essa obra. Elas estão numa fase de estudo e planejamento. Já está pronto isso com eles e agora eles pediram autorização para que eles possam participar dessa licitação. A ponte vai sair.
Tribuna – Vamos falar agora de política. Leão vai para o Senado, se mantém na vice ou sai para ser ministro de Temer?
Leão – Leão é um soldado do nosso povo. Eu sou um dos soldados que compõem esse grupo, e nós temos o nosso companheiro Rui Costa como líder. Ao meu lado, nós temos Wagner, Otto, Lídice e outros companheiros que compõem esse grupo. Senador Walter Pinheiro, senador Roberto Muniz e “N” deputados que fazem parte também. Então, estou conversando e estudando. Ministro não vou ser.
Para ser ministro, não poderia ser candidato. Então, não tenho nenhum interesse. Quero ser candidato e continuar trabalhando pela Bahia. Quero continuar dando minhas horas, o meu empenho, visitando o interior e fazendo o que faço todos os dias. Vejo aqui, vejo lá e discuto com empresários para investir na Bahia. Hoje mesmo atendi dois grupos empresariais fortes que vieram aqui no intuito de colocar uma fábrica de tecelagem lá no oeste da Bahia, onde nós temos o melhor algodão do mundo e que não é industrializado.
Tribuna – Acredita que o prefeito ACM Neto será candidato nessa eleição? Quais seriam os prós e contras que pesariam na decisão dele?
Leão – Nem ele sabe. Ele disse que vai anunciar no dia 16. Hoje já estão anunciando no jornal que vai ser no dia 30. E já estão dizendo por aí que vai ser na véspera da convenção o anúncio pessoal dele. A situação de Neto não é fácil. Eu não gostaria de estar no lugar dele. Primeiro, gostaria só de uma coisa: ele é bem mais jovem do que eu.
É jovem, tem um futuro muito grande pela frente, é uma pessoa dinâmica, herdou muita coisa do avô Antônio Carlos Magalhães. É um lutador, um batalhador. Tem a malvadeza e não sei se tem a bondade do avô. Porque o avô, quando queria, era um poço de vontade. Mas quando não queria, saia de baixo, era Toninho Malvadeza. Foi meu amigo. Tivemos época que fomos adversários ferrenhos. Ele dizia que o Leão não tinha dente e eu dizia que tem dente, que morde e que tirasse a bundinha da frente se não o leão iria arrancar um pedaço. Ele disse que fui um dos grandes adversários que ele teve na vida dele. Nós tínhamos o respeito um pelo outro. Antônio Carlos era um pouco diferente de Neto. Não é o Neto, que é um pouco diferente do velho ACM e não tem as qualidades. ACM Júnior tem, que é a bondade personificada.
Então, vejo como muito difícil a situação de Neto. Quem vai compor a chapa de Neto? Nem ele sabe. Meu amigo Jutahy Magalhães disse que quer, mas a turma não quer Jutahy. Tenho diálogo com todo esse povo do lado de lá, porque sou aquele político que dialoga com todos os lados. Aí você tem o prefeito de Feira, Zé Ronaldo, será que ele vai? Está numa situação igual a de Neto. E outra coisa: Zé Ronaldo vai entregar a prefeitura a Colbert Martins? Será que ele vai entregar mesmo a prefeitura ao célebre adversário dele? É difícil. Aí você tem o problema interno de Neto na Prefeitura: tem o jovem Bruno Reis, que é outro rapaz de futuro.
Agora, meu amigo, quando o prefeito passa a caneta, passa pelo sucessor. Pelo gênio que Neto tem, ele vai querer entregar a prefeitura e continuar como prefeito. Isso está no DNA dele. Ele quer comandar! O cara tem que cumprir aquilo que ele diz. Bruno Reis vai aceitar? É um ponto de interrogação. Neto tem a confiança de entregar essa prefeitura a Bruno Reis? A chapa dele está cheia de interrogação. Sem contar que o povo quer Rui governador e Neto prefeito.
Tribuna – Há um risco real hoje de o PP marchar com o Democratas, já que o senador Ciro Nogueira declarou o apoio do partido a Rodrigo Maia. O PP poderia marchar com Neto pela pressão nacional e o senhor com Rui? O senhor acha que tem espaço e cenário para isso?
Leão – Estou indo segunda-feira [hoje] para conversar com o senador Ciro Nogueira. Quem é Ciro Nogueira? Senador do Piauí. No Piauí, ele tem aliança com quem? Com o governador Wellington Dias, que é do PT, onde Ciro vai ter direito a duas vagas: uma de vice e a vaga dele de senador. Então, ele não pode dizer que o partido vai fazer coligação com Rodrigo Maia, porque se ele fizer a coligação lá, não vai poder fazer coligação no Piauí. A coligação tem que vir de baixo para cima. Ele poderá fazer uma coligação branca, a nível nacional, com o Democratas, mas não vai fazer uma coligação no papel.
O PP é um partido de deputados federais e senadores. Cada estado do Brasil tem um líder do partido que vai tomar a decisão de apoiar o lado A ou B. Poderá ficar com o PT, o DEM ou o “P” que for. Isso é natural no PP e nós sempre trabalhamos assim. Ciro Nogueira está fechado com o PT e aqui na Bahia nós estamos fechados com o PT Como é que ele vai me obrigar a apoiar Neto? Não existe isso. O que existe é diálogo, é conversa. Então, é isso que nós estamos tendo.
Tribuna – O deputado Ronaldo Carletto irá para o lado do prefeito ACM Neto e para o PR ou vai ficar aliado do PT e de Rui?
Leão – Não acredito que o deputado Ronaldo Carletto vá se aliar com o prefeito. Não acredito. Primeiro, porque é um deputado que tem uma história consolidada e toda a sua base está dentro do PP Ele deve ter uns 15 prefeitos do PP compondo a sua base. Esses prefeitos vão apoiar um deputado que é ligado a ele, que é o Neto Carletto, um sobrinho dele que vai ter uma história política muito grande.
Uma figura maravilhosa, empresário do setor de motos e com um dinamismo muito grande. Pode ser, inclusive, que tenha mais votos do que Ronaldo teve. Juventude é empolgante. Esse rapaz vai herdar isso. E esses prefeitos todos? O Neto Carletto continua no PP Como é que ele vai ficar? Esses prefeitos vão apoiar ACM Neto? Não existe isso. Em política, você desce de cima para baixo. Então, se ele [Ronaldo Carletto] for, não leva.
Tribuna – O senhor acredita que o ex-presidente Lula será candidato?
Leão – Eu acredito que ele vai tentar. Pode ser que tenha a possibilidade. Possibilidade ainda tem de Lula ser candidato. São possibilidades difíceis, mas ainda continuo apostando na possibilidade de Lula ser candidato. Lula foi o maior presidente que a Bahia já teve nesses 500 anos. Nós tivemos dois grandes presidentes: um foi Juscelino Kubitschek, que fez todas essas rodovias, e Lula que trabalhou na área da educação, no semiárido e fez tantas coisas pela Bahia. Nós temos cinco novas universidades federais, sendo que só tivemos uma durante 200 anos.
Tribuna – Mas é um fato real: a lei da Ficha Limpa existe e, pelas regras atuais do jogo, Lula está fora do páreo. Com ele fora do páreo, o PT vai amargar uma baixa em todo o país. Qual o impacto que isso vai trazer na eleição da Bahia?
Leão – Realmente vai ter um impacto. Mas eu não acredito que será grande. O candidato de Lula vai avançar. Se for Wagner, então, aqui na Bahia, em termos de impacto, vamos crescer. Você vai colocar o espírito de baianidade [na campanha]. Aí Wagner sai com 80% ou 90% dos votos na Bahia. Rui tem hoje 83% de aprovação no seu governo. Então, isso tudo vai se somando.
Tribuna – Wagner é o melhor nome do PT para ocupar o lugar de Lula ou o senhor acredita que o ideal para ele é garantir e tentar uma vaga ao Senado?
Leão – Eu, se fosse Wagner, seria candidato a senador. Principalmente depois desse problema que aconteceu agora. Um negócio que estava parado aí há 8 anos. Isso é coisa de 2010 e nós estamos em 2018. Ninguém nunca mexeu nisso. Agora que saiu o nome de Wagner para a Presidência da República é que resolveram ir lá.
Tribuna – Esse episódio da Operação da Polícia Federal contra o ex-governador Jaques Wagner, querendo ou não, iguala o jogo. Se a gente levar para o outro lado, vemos Geddel no outro campo político, que já foi aliado do PT e era recentemente aliado de ACM Neto…
Leão – Não iguala o jogo, não. Geddel tinha as malas. Wagner tinha, coitado, 15 reloginhos. E um, segundo o Sargento Isidório, foi comprado na “Feiraguay”. Então, as diferenças são grandes. As coisas não são bem nesse porte.
Tribuna – As malas de Geddel e a presença dele ao lado do ACM Neto vão causar incômodo na campanha?
Leão – Lógico que vai. Isso é lógico que vai. Isso aí é uma coisa que daria impacto em qualquer campanha. Mas eu acho que nós não vamos fazer uma campanha visando isso, a não ser que se comece a procurar perseguir. O que é que vamos fazer? Uma campanha propositiva. Vamos dizer que Rui Costa precisa continuar com João Leão, porque nós fizemos isso, isso e isso. Queremos continuar para fazer aquilo, aquilo e aquilo. Por exemplo: quero dizer que quero continuar para tornar minha ponte Salvador-Itaparica uma realidade. Então, Rui quer fazer essa revolução que já faz na Bahia, melhorando a vida das pessoas. Da Tribuna da Bahia.