Explorar a noção de público e privado nas relações entre mulheres é o desafio que leva o casal de artistas Roberta Nascimento e Talitha Andrade a transformar sua casa em galeria para a exposição multimídia Nosso Amor Sapatão – 10 anos de Revolução, que vai durar 10 dias, com câmeras de monitoramento, registrando a rotina das duas 24h, exposição fotográfica de Brenda Matos e Milena Palladino, registros fotográficos e escritos pessoais feitos ao longo de 10 anos de relacionamento e instalações multimídias. A abertura da exposição acontece no dia 29 de agosto, data que marca o Dia da Visibilidade Lésbica em todo o Brasil e o encerramento será no dia 7 de setembro, data que registra a Independência do país.
O período de casa aberta também faz referência aos 10 anos de relacionamento entre Roberta Nascimento e Talitha Andrade, que querem não só celebrar em comunidade, como dar destaque a temas que atravessam a identidade de mulheres lésbicas, como as violências de gênero e lesbofobia, experiências que o próprio casal já carrega, como o conhecido episódio ocorrido na Galeria do ACBEU, em 2013, que quase tirou a visão de uma delas; o artivismo, tendo em vista a arte lésbica como uma forma de resistência e o ativismo como consequência de quem assume essa identidade; e a ocupação de espaços legitimados, não só por mulheres lésbicas, como por pessoas LGBTI+ em suas diversidades.
“Já fomos expostas uma vez de uma maneira que não desejo a nenhuma mulher. Com meu rosto deformado, marcado pela violência e pelo ódio, 5 anos depois eu/nós é que escolho/escolhemos nos expor. Dessa vez inteiras e cheias de amor, de um amor revolucionário”, disse Roberta Nascimento, uma das artistas e idealizadoras da exposição. Para Talitha Andrade, em um momento onde a vigilância é uma constante nas redes sociais, elas abrem as câmeras de monitoramento instaladas provisoriamente na própria casa, compartilhando a rotina do casal na internet, para mostrar ao mundo o que de fato acontece na vida privada de duas mulheres.
Desmistificado essa relação e abrindo às questões que interessam não somente a elas, como a toda sociedade que transforma a afetividade lésbica e LGBTI+ em estereótipos carregados de violências e invisibilidades. “O pessoal é político, ainda mais quando se trata de mulheres lésbicas no contexto latino-americano. Levar para o público o privado faz parte desse processo de romper silêncios, expor feridas, dar voz aos nossos corpos e construir fissuras no olhar sobre às vivências de mulheres lésbicas e LGBTI+”, comenta.
Quatro câmeras de monitoramento estarão ligadas 24 horas nos três principais cômodos do apartamento – quarto, sala e ateliê –, transmitindo em tempo real o cotidiano e a vida privada das artistas na internet, além de exposição fotográfica de Brenda Matos e Milena Palladino e instalações com videoartes produzidos por Roberta Nascimento sobre violências às pessoas LGBTI+, ativismo lésbico e ocupação de espaços legitimados por esta comunidade. O espaço estará aberto para visitação do público, especialmente para mulheres lésbicas que queiram compartilhar depoimentos de resistências amorosas, de vida e de ativismo, do período de 29 de agosto a 7 de setembro, das 10h às 19h.
Após a exposição, esses depoimentos devem compor um videodocumentário extensão do mesmo trabalho. A noite de abertura contará com a participação da cantora e compositora Verona Reis, que atua na cena musical de Salvador e no decorrer dos 10 dias de exposição, as artistas também vão promover um cine debate com um filme que traga a temática lésbica para ser discutida em grupo, com transmissão ao vivo. Data deve ser divulgada nas redes da exposição durante o período.
Serviço:
O quê? Exposição multimídia Nosso Amor Sapatão: 10 Anos de Revolução.
Quando? De 29 de agosto a 7 de setembro, das 10h às 19h.
Onde? Rua direta da Piedade, 35.
Quanto? Gratuito.