O presidente Jair Bolsonaro anunciou a aprovação do início de um estudo sobre a privatização da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), por meio de sua conta pessoal nas redes sociais. “Demos Ok para estudo da privatização dos Correios. Temos que rememorar para a população o seu fundo de pensão. A empresa foi o início do foco de corrupção com o mensalão, deflagrando o governo mais corrupto da história. Com o Foro de SP destruíram tudo em nome da Pátria Bolivariana”, escreveu.
A companhia vem sendo lembrada pelo presidente como onde começou o Mensalão, para justificar que seja desestatizada. Em nota, os Correios informaram que o presidente da empresa, general Juarez Cunha, soube sobre essa medida “por meio das notícias veiculadas na mídia”. “Segundo o general, não houve até o momento conversa nesse sentido e que o diálogo estará sempre aberto com o governo, pois os Correios são uma empresa pública federal”, informou a companhia.
Para Roberto Piscitelli, professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB), a privatização deve ser vista de forma cautelosa, buscando analisar pontos importantes, como se isso vai atender ao interesse público, se vai baratear o serviço, se vai ser melhor para o consumidor.
“Antes de fazer uma privatização, cada empresa deve ser examinada de forma equilibrada, cautelosa e passar por uma discussão ampla e que não pode ficar centrada somente no Executivo”, afirmou. De acordo com o professor, a questão não está em colocar face a face a iniciativa privada e o setor público como antagônicos, mas em pensar na melhor opção para a população. “A natureza pública deve atender ao interesse conjunto da população, inclusive a população mais desprovida de acesso. O papel de uma empresa prestadora de serviço público é atender a todos”, complementou.
Já o economista Reginaldo Galhardo, da Treviso Corretora, lembrou que a privatização dos Correios é bem vista pelo mercado. “A privatização é propícia para o país, pois estabelece a confiança, atrai investimentos. Após a privatização dos serviços de telecomunicações, por exemplo, o Brasil passou a recolher muitos impostos, várias empresas ofereceram os serviços, os consumidores também foram beneficiados”, declarou.
Abacaxis
Durante a transição, um relatório elaborado pela diretoria da estatal, que foi apresentado a Juarez e integrantes do novo governo, mostrava uma série de dificuldades para a privatização dos Correios. Um dos abacaxis dessa lista é o ônus da companhia para cumprir uma obrigação prevista na Constituição, que é a universalização dos serviços postais. Apesar de a maioria da população não mandar mais cartas e as cobranças não serem mais enviadas por correspondência tradicional graças ao e-mail, a obrigação de estar presente em todos os 5,5 mil municípios do país continua sendo tarefa da estatal. Com isso, a empresa tem mais capilaridade que os demais órgãos públicos.
O relatório mostrou, ainda, que apenas 324 cidades são superavitárias em R$ 6 bilhões, responsáveis por 92% da receita dos Correios. A maior parte, mais de 5,2 mil, responde pelos 8% do faturamento da estatal, mas gera um prejuízo acumulado de R$ 8 bilhões até 2018. Essa operação é taõ deficitária que precisa ser arcada pela União. E, para piorar, a companhia tem um passivo trabalhista gigantesco, de R$ 42 bilhões, algo que pode afugentar qualquer investidor desavisado. As informações são do site do Correio Braziliense.