O velório da cantora Beth Carvalho foi realizado nesta quarta-feira (1º), a partir das 10h, no Salão Nobre da sede do Botafogo de Futebol e Regatas, seu clube do coração, em Botafogo. De lá, o cortejo seguiu em carro aberto do Corpo de Bombeiros para o crematório do Cemitério São Francisco Xavier, do Caju, zona portuária da cidade, onde o corpo de Beth Carvalho foi cremado. O velório foi aberto ao público. Na página do clube no Facebook uma homenagem a botafoguense de coração. “Nossa estrela foi brilhar no céu. Descanse em paz, madrinha!”.
A sambista morreu na última terça (30) às 17h33, de septicemia (infecção generalizada) no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, onde estava internada desde o dia 8 de janeiro deste ano. A sambista completaria 73 anos no próximo domingo (5), quando tinha programado uma grande festa para comemorar a data. Centenas de fãs e amigos se despediram da cantora Beth Carvalho. Bandeiras do Botafogo e da Estação Primeira de Mangueira, escola de samba do coração de Beth, foram posicionadas ao redor do caixão. Nas caixas de som, tocam diversos sucessos gravados pela sambista em seus quase 60 anos de carreira.
Ao se despedir da companheira de música, a também cantora Zélia Duncan disse que o Brasil está chorando a perda da Madrinha do Samba. “O Brasil está chorando [a morte de] uma representante corajosa, de um talento raro, que contribuiu imensamente para a música brasileira, para o pensamento brasileiro e para mulher brasileira. O repertório de samba da Beth é o mais lindo do Brasil e um dos mais completos”, declarou.
A cantora Teresa Cristina lembrou que, apesar da saúde debilitada dos últimos anos, Beth Carvalho nunca se deixou abater. “Uma pessoa que convive 12 anos com dor. Às vezes, com qualquer mal-estar, a gente fica em casa e não consegue cantar. E ela quis cantar até o último dia. Ela queria cantar no dia 5”, disse a cantora, referindo-se ao show de aniversário da sambista, marcado para o próximo domingo (5).
Segundo o empresário da sambista, Afonso Carvalho, mesmo internada no hospital, Beth não conseguia ficar parada. “Ela foi uma guerreira que buscava nos palcos a força para se manter confiante, com alegria. Ela estava agora numa situação delicada, fragilizada e ela idealizou fazer o aniversário dela no palco do Vivo Rio. Era difícil para uma pessoa comum olhar aquela pessoa no leito do hospital se programando para fazer um show”, explicou.
Um dos principais nomes do samba, Zeca Pagodinho lembrou o apoio que Beth Carvalho deu a novos talentos da música brasileira, inclusive a ele próprio, no início de sua carreira. “Ela botou muita gente lá em cima. Costumo brincar que eu era um simples compositor e virei um Zeca Pagodinho por causa da Beth. Meu negócio era compor. Ela me pôs para gravar ‘Camarão que dorme a onda leva’ com ela e eu virei esse Zeca Pagodinho que o Brasil hoje aplaude”, recordou.
Trajetória
A carreira de Beth Carvalho teve origem na bossa nova. Em 1965, gravou o seu primeiro compacto simples com a música Por Quem Morreu de Amor, de Menescal e Bôscoli. Em 66, já envolvida com o samba, participou do show A Hora e a Vez do Samba, ao lado de Nelson Sargento e Noca da Portela.
Participou de festivais como o Festival Internacional da Canção (FIC) e o Festival Universitário. No FIC de 68, conquistou o 3º lugar com Andança, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, e ficou conhecida em todo o país. A partir de 1973, passou a lançar um disco por ano e se tornou sucesso de vendas, emplacando vários sucessos como 1.800 Colinas, Saco de Feijão, Olho por Olho, Coisinha do Pai, Firme e Forte e Vou Festejar.
Beth Carvalho é reconhecida por resgatar e revelar músicos e compositores do samba. Em 1972, ajudou no resgate de Nelson Cavaquinho, que lhe presentou com a canção Folhas Secas, parceria de Nelson com Guilherme de Brito, e de Cartola, de quem três anos depois gravou a até então inédita As Rosas Não Falam. As duas se tornaram clássicos da música brasileira
Para Caetano Veloso, a cantora Beth Carvalho foi uma das maiores maravilhas do Brasil. “Eu a conheci logo que cheguei ao Rio com Bethânia. Ela muito menina cantando Bossa Nova, depois se tornou a madrinha do renascimento do samba de raiz do Rio de Janeiro. É uma das maiores expressões da nossa cultura”.
Paulinho da Viola também homenageou a Madrinha do Samba. “Perdemos hoje uma pessoa muito importante para o nosso samba. Beth Carvalho terá seu lugar entre aqueles que contribuíram para a construção do patrimônio musical brasileiro. Sua importância se estende também aos compositores cujas obras ela deu voz. Tive a satisfação de ouvi-la gravar Dança da Solidão. Minha solidariedade aos familiares, amigos, amantes do samba, fãs e à Estação Primeira de Mangueira”. Da Agência Brasil.