Quatro anos de distância e uma eleição municipal pelo meio, em 2020, não têm sido suficientes para deixar os aliados do governador Rui Costa (PT) menos preocupados com relação ao posicionamento que ele adotará no fim do seu segundo mandato no governo do Estado: se irá concluí-lo ou decidirá renunciar a fim de disputar uma vaga ao Senado pela Bahia ou mesmo a Presidência da República, opção que os petistas dizem ser a preferida do gestor baiano.
Caso Rui decida concluir o mandato, os aliados acreditam que tudo tende a se ajeitar em torno de uma discussão, provavelmente liderada pelo próprio governador, da qual deverá emergir o nome que todo o grupo poderá apoiar à sua própria sucessão. Se, ao contrário, o governador optar por renunciar para engajar-se numa outra disputa eleitoral, os aliados preveem que os problemas emergirão de imediato, comprometendo as bases da aliança que os une hoje.
O principal motivo é que, se Rui deixar a gestão do Estado para disputar um novo cargo, seu vice, João Leão (PP), assumirá o governo do Estado. O primeiro ponto é que os aliados alegam que não apoiaram a reeleição do governador para vê-lo entregar o comando do Estado ao correligionário do PP. O segundo é que nenhum deles acredita que, uma vez governador, Leão abrirá mão de concorrer à reeleição, um direito considerado inalienável.
“Quem garante que, uma vez investido da condição de governador, Leão abrirá mão de disputar a reeleição? Acho que nem o governador acredita nesta hipótese”, diz um aliado de Rui, observando que seria necessária uma verdadeira obra de engenharia política para que o grupo se mantenha unido mantendo as mesmas características da coalizão até agora bem sucedida que garantiu a reeleição do governador e a sustentação ao seu mandato.
A modelagem foi construída ainda no processo que resultou na reeleição do governador Jaques Wagner, em 2010, quando ele trouxe para a base o então conselheiro do TCM Otto Alencar, fazendo-o vice-governador do Estado. Hoje, não por acaso o nome mais citado para herdar o comando do grupo liderado por Rui e Wagner é o de Otto, do PSD, que enfrenta, no entanto, resistências no PP de João Leão e mesmo em outras legendas da base.
Em segundo lugar, as citações vão para o próprio PT, sob o entendimento de que o partido não pode, em 2022, ao final de 16 anos de hegemonia política no Estado, entregá-lo a um dos representantes do carlismo, como Otto e Leão são vistos na militância petista e mesmo entre partidos mais à esquerda que integram a coalizão. O problema é construir um nome no PT, projeto a que nem Rui nem Wagner, não se sabe se deliberadamente, se dedicaram.
Muitos chegam a dizer que o nome do coração do governador seria o do seu secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues, pasta a que Rui gostaria de dar a atenção que não conseguiu dedicar em seu primeiro mandato, embora outros, no próprio partido, digam que o petista não teria estofo para enfrentar uma batalha, primeiro interna entre os aliados, e depois pela caça de votos necessária à eleição ao governo.
Este teria sido o motivo porque, recentemente, Wagner resolveu insinuar que não descartaria a possibilidade de concorrer mais uma vez ao governo. Ele é visto como a única unanimidade no grupo, capaz de garantir, inclusive, a manutenção do PT no comando do Estado. Pelo senador, a maioria dos partidos dizem que abririam mão de disputar a cabeça da chapa no grupo. O surgimento do nome de Wagner, no entanto, não pacifica automaticamente os aliados.
Os partidos dizem que, para a costura ser perfeita e garantir o apoio de todos ao projeto do PT de permanecer no comando com o senador, Rui deveria evitar a marola que uma eventual renúncia poderia provocar entre os aliados, cumprindo obrigatoriamente seu mandato até o fim. Quem defende a tese acha que o governador e Wagner não poderão fechar os olhos para o fato de que o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), será candidato ao governo em 2022.
E que o democrata poderá marchar tanto com o grupo que já o apóia como com aliados do governador que não se sentirem prestigiados com as escolhas que porventura forem feitas ao final do segundo mandato de Rui. “Hoje, parece que está tudo bem, mas em 2022 a música vai tocar de uma forma completamente diferente, por causa da candidatura de ACM Neto, que se apresenta como o nome mais forte hoje para a sucessão”, diz um deputado governista. Texto extraído na íntegra do site Política Livre.