O jovem do Vale do Capão, distrito de Palmeiras, na Chapada Diamantina, Ulan Bastos Galinski, de apenas 20 anos, vem se destacando como uma das principais promessas do mountain bike nacional. Atualmente ele mora em Governador Valadares, mas sua infância contribuiu muito para o atleta que tem se tornado. “O que sou hoje é graças ao lugar de onde eu vim. Nasci no Vale do Capão, um pequeno povoado na Chapada Diamantina com cerca de 2,5 mil habitantes. É um lugar muito livre que chamamos de ‘Vale Encantado’, rodeado de montanhas e muita natureza”, contou o ciclista.
“Tive uma infância muito livre. Como lá não tem violência, desde os 5 anos já saía sozinho na rua, então já fiz muitas loucuras. Nadava na enchente, pulava das cachoeiras, subia em árvores e também descia com jaca nos dentes e roubava frutas dos vizinhos”, afirmou rindo enquanto rememorava o passado. “Sou muito grato à minha infância, acho que uma das maiores dádivas de Deus é a parte da infância, já que ela é muito importante para a formação de um ser humano”.
Como era de se esperar, tamanha liberdade colocou Ulan em contato com a bicicleta desde muito cedo, principalmente porque ela era seu maior meio de transporte. A magrela era utilizada para fazer obrigações como ir para a escola e também nos momentos de diversão, como visitar os amigos ou jogar futebol.
Inspirações
A vida de competidor de mountain bike de Ulan começou apenas no final de 2013, quando ele tinha cerca de 14 anos. Logo de cara, a inspiração veio de dois exemplos da Bahia: Alexandre Arthur e Anilton Marques, os melhores mountain bikers do estado naquela época. “Eles eram campeões e aquilo virou febre! Todos os meus amigos começaram a competir! Inclusive, fui o último a começar. Então, fui fazer uma coisa em conjunto com meus amigos e foi assim que fui parar na minha primeira etapa do Campeonato Baiano”, relembrou.
Animado, Ulan passou a levar as coisas mais a sério, procurou um treinador e mergulhou de cabeça nas planilhas. A dedicação rapidamente gerou frutos e, em 2016, ele já colecionava dois títulos baianos de mountain biking, o que rendeu para o atleta um bom destaque local.
Saindo do Capão
A verdade é que um país do tamanho do Brasil certamente está repleto de grandes talentos esportivos que jamais serão descobertos. Para piorar, o mountain bike está longe de ser um esporte barato, não só pelo equipamento, mas também pelo custo envolvendo treinamento e as constantes viagens para competir. Por isso, em uma primeira fase de sua carreira, Ulan precisou trabalhar como garçom para poder sustentar sua vida competitiva.
Obviamente, dividir as atenções entre treinos, estudos e trabalho está longe de ser a melhor opção para um atleta. Por isso, o projeto Adote um Atleta da TSW, sua atual patrocinadora, caiu como uma luva na vida da jovem revelação – o exemplo de Ulan mostra a importância deste tipo de projeto que visa encontrar jovens que têm talento e precisam de apoio.
“É um projeto muito bacana para incentivar o pessoal em nível estadual. Nele, cada lojista adota dois ou três atletas, e foi aí que apareceu o cara que eu chamo de ‘anjo da guarda’, o ‘Maurício TSW’, representante da marca na Bahia. Ele me convidou para fazer parte da TSW Team Bahia em 2016”, contou.
Com o apoio para pagar inscrições e hospedagens, Ulan pode focar 100% em sua carreira de ciclista, primeiramente com objetivos estaduais e depois nacionais. Mais uma vez, o empenho gerou bons resultados, com ele conquistando a vitória na terceira etapa da Copa Internacional de Mountain Bike na categoria Junior.
“Foi então que me descobriram em nível nacional. Em 2017, a TSW me fez uma proposta: caso conseguisse bons resultados naquela temporada, no próximo ano seria contratado como atleta na equipe oficial. Tive bons resultados e consegui manter uma constância, e aí fechamos este contrato. A partir de 2018, passei a ser atleta profissional da TSW Racing Team, a equipe oficial da marca”, contou.
Segundo o jovem atleta, uma de suas missões como esportista é justamente incentivar o maior número possível de jovens, usando sua própria trajetória para mostrar que atingir seus sonhos é possível. “Isso eu aprendi graças a ele”, explicou. Porém, o objetivo de Ulan, que saiu do Vale do Capão, conquistou a Bahia e agora se prepara para ganhar o Brasil é ainda maior. “Quero um dia ser atleta olímpico”.
Para esta temporada, Ulan pretende continuar sendo constante, apostando sua estratégia na conquista de pontos. “Quero me manter entre os três primeiros em minha categoria e entre os dez na Super Elite. Quero vencer o Campeonato Brasileiro de XCO, fechar o Brasil Ride entre os três melhores na categoria América e terminar o ano ainda na liderança do ranking na minha categoria”, explicou.
Para isso, certamente ele deve seguir com o foco nos treinamentos, além de apostar em algumas tecnologias como o canote retrátil e as bicicletas com suspensão integral. “Por enquanto ainda prefiro as hardtail pela minha característica de escalador, elas respondem melhor quando ataco na subida. Mas acho que vou mudar de opinião em alguns meses”, afirmou Ulan deixando um mistério no ar. Jornal da Chapada com informações do site Pedal.