O óleo que já era visto na Região Metropolitana, desceu pelo Litoral Norte e chegou em Salvador. Na manhã desta sexta-feira (11), já era possível ver fragmentos das manchas escuras na praia de Piatã, por exemplo. A prefeitura da capital, que já aguardava a chegada da substância, organizou equipes da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (Limpurb) nas praias de Stella Maris e Itapuã, desde às 5h, segundo informou o Secretário Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo, Sérgio Guanabara. Diretor de Fiscalização do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), Marcos Machado confirmou que o óleo que amanheceu na praia da capital é o mesmo que já era visto em águas próximas. “O óleo é o mesmo, petróleo cru”, disse, em entrevista à TV Bahia, esta manhã.
Salvador
De acordo com Sérgio Guanabara, a prefeitura prepara um plano de emergência em conjunto com o Ibama para a proteção e limpeza das praias. Ele disse que o óleo já teria chegado nas praias de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, por isso, o município estará aguardando a chegada dos resíduos de prontidão. “A emergência é para retirar porque não tem como evitar. O óleo está na água e a dificuldade de conter é imensa. A nossa ação é só de limpeza, mas é um trabalho difícil e vamos enfrentar em conjunto com o Ibama”, pontuou o secretário. Ainda não se sabe qual o destino do material que pode ser recolhido.
A limpeza das áreas afetadas é necessária para que seja possível reduzir os impactos nas praias oleosas, segundo o professor Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba). “A mancha já está se partindo. O que não for retirado volta flutuando para o mar com a maré alta. Quando se concentra, os pedaços colam um nos outros. Por mais rápido que a equipe trabalhe, a quantidade é muito grande e é difícil fazer a limpeza”, pontuou o diretor. Em nota, a prefeitura de Lauro de Freitas informou que a secretaria de Meio Ambiente, Saneamento e Recursos Hídricos (Semarh) vistoriou as orla da cidade nesta quinta-feira (10).
No município, as praias de Buraquinho, Vilas do Atlântico e Ipitanga estão limpas. O Rio Sapato também foi inspecionado e não há indícios de manchas. Na manhã de quinta, a Semarh recebeu denúncias de frequentadores e trabalhadores da praia de Vilas do Atlântico de que uma mancha havia aparecido. Um cliente da Barraca Buraco da Velha afirmou ter encontrado uma pelota de óleo na areia. Mesmo assim, as praias são apontadas como limpas.
“Percorremos as três praias do município e alguns pontos do Rio Sapato e até o momento não encontramos nenhuma mancha. O vestígio encontrado é um sinal de que as pelotas sólidas podem chegar, mas até o momento as praias estão limpas”, afirmou a oceanógrafa da Semarh, Marina Motta. Kelmo afirmou que a chegada do óleo depende das condições climáticas e que os resíduos poderiam não atingir a capital se fossem recolhidos a tempo. “Se for tudo recolhido antes ou tiver uma contenção pode se evitar que a mancha chegue. Se as condições climáticas permitirem, ela chega”, ressaltou.
Mancha no Litoral Norte
Nesta quinta, a Marinha do Brasil confirmou a chegada da mancha em Arembepe, no município de Camaçari. O óleo percorre a costa da Bahia trazida pela corrente marítima e pelos ventos. Na última quarta-feira (9), os resíduos haviam chegado em Guarajuba. De uma praia para a outra são cerca de 20 Km. Até agora, o Ibama só confirmou 14 praias afetadas em seis municípios baianos. Neste cenário, os pontos mais extremos são Mangue Seco e Arembepe. O órgão ainda não confirmou a chegada do óleo nas praias de Lauro de Freitas. O professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho, explicou que os resíduos que chegaram em Sergipe e na Bahia estavam à deriva no mar e foram trazidos após o início do incidente nos outros estados do Nordeste.
Impacto ambiental
O temor do professor é de que o petróleo cru siga no sentido sul até Abrolhos, onde as baleias jubarte permanecem até meados de novembro. Entretanto, o óleo é mais denso que o que seguiu para o Maranhão e deve ter um deslocamento mais vagaroso. “O óleo que continua boiando tem risco de chegar até Abrolhos. A mancha está indo para o sul e não se sabe se ela vai se depositar porque pode ficar densa e pesada, o que faz com que ela tenha a tendência de afundar”, disse. A região afetada pelo óleo tem a incidência de tartarugas marinhas. Em Saubaúma, uma tartaruga e alguns filhotes do animal foram encontrados mortos, segundo informações do presidente da Associação de Moradores do local, Geisy Brandão.
“É triste demais, estou de coração partido com essa situação nunca antes vista aqui no litoral”, emocionou-se. O Projeto Tamar, entretanto, afirmou não ter notificações de animais mortos. A coordenadora de pesquisa e conservação da fundação Projeto Tamar, Neca Marcovaldi, explicou que os agentes trabalham com foco nos ninhos das tartarugas. De acordo com ela, os filhotes que nascem no extremo norte do estado são transportados para localidades mais ao sul, a partir de Praia do Forte, para serem liberados no mar.
“O volume [de óleo] que chegou aqui foi bem menor. Por enquanto, nosso protocolo aqui está mantido como sempre foi. Estamos atentos para ver qual é a tendência para saber o que acontece. Por enquanto, é apenas um alerta, a preocupação maior é com o extremo norte”, afirmou Marcovaldi. As aves migratórias também podem ser afetadas, segundo Coelho. Ele explicou que estes animais vêm do hemisfério norte e passam pelo Nordeste nesta época do ano para descansar e se alimentar. “Me preocupa porque as aves passam pelos trechos contaminados. Elas se alimentam de organismos na areia da praia que estava em contato direto com o óleo. É possível que elas estejam se contaminando”, disse.
Investigação da Marinha
Após apuração do tráfego de navios na região de onde a mancha pode ter partido, a Marinha do Brasil começou a notificar 30 navios-tanque de 10 nacionalidades para prestarem esclarecimentos. Em nota, a instituição afirmou que vai entrar em contato com as autoridades destes países, com a Organização Marítima Internacional e com a Polícia Federal, para apurar os fatos. As atividades em curso são apoiadas pelo Ministério da Defesa, Exército Brasileiro e de instituições dos EUA. Segundo a Marinha, foram mobilizadas 1.583 militares de 48 Organizações Militares, cinco navios, uma aeronave, além de embarcações e viaturas pertencentes às diversas Capitanias dos Portos, Delegacias e Agências, sediadas ao longo do litoral nordestino.
Óleo pode vir de naufrágio
Apesar da origem do óleo já ser conhecida – a Venezuela, ainda não se sabe, no entanto, onde o petróleo cru foi despejado no mar. Até o momento, existem algumas hipóteses do local de partida do resíduo. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), um grupo de três pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) trabalha com a tese de que o óleo pode ter como origem uma navio que naufragou em 1944 a 1000 Km na altura da costa de Pernambuco. De acordo com o oceanógrafo e biólogo Luis Ernesto Arruda, que integra a equipe, a tese começou com a pesquisa sobre o aparecimento de fardos no litoral do Nordeste em 2018, por volta da época em que as manchas de óleo apareceram neste ano.
O oceanógrafo Carlos Teixeira, outro participante do grupo, fez um lançamento virtual das caixas no ponto do naufrágio e estas chegaram nos mesmos pontos que o óleo. “A possível ligação entre o fardo e óleo é que o navio poderia estar no fundo do mar, se decompôs, liberou primeiro a borracha e depois liberou o óleo”, afirmou o terceiro integrante da equipe, o químico Rivelino Cavalcante. De acordo com Arruda, uma fonte da Petrobras informou ao grupo que o óleo que chegou na costa do Brasil é de extração recente. Mesmo assim, a hipótese não é descartada e o grupo vai enviar amostras para a análise no Instituto de Oceanografia de Woods Hole (WHOI), nos EUA.
Óleo é venezuelano
Nesta quinta (10), a Universidade Federal da Bahia (Ufba) divulgou laudo sobre o óleo que atinge o Nordeste. O documento indicou que o resíduo encontrado na região é proveniente de uma bacia petrolífera da Venezuela. Anteriormente, a Marinha do Brasil e a Petrobras haviam chegado à mesma conclusão. O novo documento foi produzido com a justificativa de ser independente e mais um instrumento de colaboração com as investigações. Também nesta quinta, a Marinha informou que a mancha avançou pelo litoral e já chegou a Arembepe, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).
O professor do instituto de ciências biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), Clemente Coelho, explicou que apesar dos laudos apontarem que o óleo vem de uma bacia da Venezuela, a mancha não poderia ter chegado ao Brasil se fosse despejada ao mar no país. “Temos uma corrente predominante no Atlântico Sul, chamada Sul Equatorial. Ela basicamente conecta a África com o Brasil na altura de Pernambuco, Alagoas e Paraíba. É como se ela se direcionasse nesse trecho. Quando chega nesse trecho, uma parte deriva a norte e uma parte deriva a sul”, afirmou. Por esse motivo, o óleo não poderia fazer o sentido inverso a corrente para chegar até a Bahia. As informações foram extraídas na íntegra do site Correio 24h.