Antônia Pelegrino e José Padilha irão produzir uma série sobre Marielle Franco para a o Globoplay, a plataforma de streaming da Rede Globo. O anúncio foi feito na última sexta-feira (6), durante um evento no qual foi exibido o primeiro episódio de um documentário produzido pelo jornalismo da emissora que conta a história da vereadora assassinada brutalmente há quase dois anos. Antônia Pellegrino e José Padilha vão criar uma série ficcional sobre a socióloga que saiu do Complexo da Maré para a Câmara dos Vereadores.
Eles já estavam praticamente acertados com uma plataforma de streaming internacional –especula-se que era a Amazon – para fazer a série de ficção sobre a trajetória da vereadora do PSOL Marielle Franco, quando a Globoplay se mostrou interessada no projeto. A socióloga Marielle Franco foi morta a tiros junto com o motorista Anderson Gomes, na zona norte do Rio de Janeiro, no dia 14 de março de 2018. A morte da vereadora causou grande comoção no Brasil e reverberou para outras nações que pediam a identificação e punição dos assassinos –até hoje, a pergunta de quem matou a vereador segue em aberto.
Críticas na rede
A escolha de Padilha para a direção da série foi recebida com críticas nas redes sociais. No Twitter, destacou-se o fato de se tratar de um homem branco, crítico ao PT que, na série da Netflix ‘O Mecanismo’, retratou com tons elogiosos a Operação Lava Jato e o personagem inspirado em Sergio Moro –embora já tenha dito à BBC Brasil que cometeu “um erro de julgamento”. A autora da série, Antônia Pellegrino, em 2018, escreveu um artigo de opinião publicado na Folha, em que chama a série ‘O Mecanismo’ de “panfleto fascista” e “clichê binário, digno dos padrões mentais dos milicianos da narrativa contra tudo isso que está aí”.
À coluna de Maurício Stycer no UOL, a autora disse que “ele [Padilha] se arrependeu. As pessoas erram. E não acho que seja um erro suficiente para a gente cancelar uma pessoa.” Pellegrino diz que pensou em ter um diretor negro no projeto, mas não dá a entender que não achou alguém com as características que procurava. “Se tivesse um Spike Lee, uma Ava DuVernay…” Essa frase também gerou críticas e Pellegrino disse, em seu perfil no Instagram, que “não tem uma Ava DuVernay no Brasil não porque não existam diretoras negras talentosas. Mas porque existe sim racismo estrutural.”
Padilha afirma que o projeto da série ficcional já estava sendo desenvolvido, com um bom aporte financeiro, até que a “Globo fez uma oferta ainda mais generosa”. “Nós pensamos que isso era o ideal, porque vamos ter uma distribuição enorme no Brasil, e o interesse é levar essa história para o brasileiro.” O cineasta diz ainda que já costuram parcerias para que a produção seja apresentada no mundo inteiro, “já que a Marielle representa valores que são universais”.
Projeto
O projeto é o primeiro desenvolvido pelo cineasta com a Globo. A ideia da série, que ainda não tem título e deve estrear em 2021, foi desenvolvida por Antônia Pellegrino, escritora, diretora, roteirista e amiga pessoal de Marielle Franco. Ela convidou Padilha para entrar no projeto e, mesmo com outros trabalhos, ele diz que sentiu que deveria se debruçar sobre a série. Amigo do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), Padilha conta que estava no dia em que o parlamentar conheceu a vereadora do PSOL.
Foi em uma exibição aberta ao público no Cine Odeon, no Rio, do seu documentário “Ônibus 174”. “A gente não sabia, mas estava sentada na plateia a Marielle, que depois veio se apresentar e conversar com a gente”. Foi ali, segundo o cineasta, que nasceu a parceria entre Freixo e a futura vereadora. Por esse fato e por ter uma carreira profissional com longas que narram a violência no Rio (como os dois filmes Tropa de Elite”), que Padilha diz ter aceitado entrar no projeto. “Eu sempre fui muito amigo de Marcelo Freixo, apesar de muitas pessoas acharem que eu sou de direita, eu já doei bastante dinheiro para o PSOL”, brinca.
Pellegrino conta que resolveu chamar Padilha para o projeto porque “precisava de alguém que pudesse levar a história ainda mais longe”. “O assassinato de Marielle Franco não é o único crime que aconteceu no Rio de Janeiro, mas é sim o único crime capaz de revelar esse esgoto da cidade, que a gente insiste em chamar de maravilhosa, mas que talvez a gente já tenha que começar a chamar de cidade do crime”. Antônia afirma que conheceu e se tornou próxima de Marielle cinco anos antes do atentado que a matou. A vereadora, aliás, teve papel de cupido ao comentar com Freixo de que ele deveria namorar alguém como Antônia –os dois se casaram no ano passado.
A escritora lembra que foi uma das primeiras pessoas a chegar à cena do crime, antes da polícia, e diz guardar na memória a imagem “brutal” e que jamais vai esquecer. Antônia vai atuar como criadora e produtora executiva da série. Já Padilha como diretor, criador e produtor executivo. Soma-se ao projeto George Moura –de séries como “Onde Nascem os Fortes” (Globo, 2018) e “Amores Roubados” (Globo, 2014)– que vai liderar o time de roteiristas. A obra será realizada em coprodução com os Estúdios Globo.
Com previsão de duas temporadas, a primeira vai girar em torno da biografia de Marielle Franco, culminando com as circunstâncias do crime que chocou o Brasil e o mundo. Já na segunda, o foco será nos mandantes e, se o caso for solucionado, na resolução do crime. Ainda não foi divulgado o elenco que deve integrar a série. “A série será ficcional, como os dois ‘Tropa de Elite’ foram ficcionais. Mas baseada em uma história real e na vida de Marielle Franco, e em tudo o que ela representa”, pontua José Padilha. Com informações da Folha.