Uma ossada de um tatu gigante pré-histórico, encontrada em caverna do município de Iramaia, na Chapada Diamantina, há cinco anos, é um exemplar de uma nova espécie, segundo os pesquisadores do grupo de Paleontologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Eles apontam que o animal viveu há 21 mil anos de idade, tinha mais de 2 metros de comprimento e 200 quilos em massa. Sob a orientação do professor Marcelo Adorna Fernandes, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva, o aluno de doutorado Jorge Felipe Moura de Jesus foi o responsável pela descrição da novidade.
Ele ‘assumiu o domínio’ da ossada considerada o exemplar do tatu pré-histórico mais completo do Brasil. “Só concluímos depois de comparar com a literatura, visitar coleções e conversar com especialistas”, afirma Jorge. A nova espécie foi chamada de ‘Holmesina criptae’, o tatu gigante das cavernas, e se diferencia por características no crânio, mandíbula e dentições, detalhes que só puderam ser observados pela conservação da ossada. “Escavamos com pincéis, com as mãos e com pequenas pás… todo o cuidado para não danificar os ossos e para não perder nenhuma parte”, explica o estudante.
Por que gigante?
O tatu descoberto pelos pesquisadores da UFSCar pertence à megafauna, um conjunto de animais de grandes proporções que conviveram com os seres humanos e foram extintos há aproximadamente 10 mil anos. No Brasil, apenas os estudos de um naturalista dinamarquês já descobriram mais de 12 mil ossos de espécies desse período que habitaram nosso território. Preguiças gigantes, cachorros das cavernas, capivaras gigantes e até tigres-dentes-de-sabre já viveram no Brasil
Marcelo Fernandes explica que o gigantismo ocorria pela abundância de alimento e espaço disponível. As mudanças climáticas e a ocupação humana, porém, fizeram essas espécies “encolherem evolutivamente”. “O aumento da predação e a diminuição dos habitats, especialmente pela ação humana, têm comprometido o desenvolvimento de grandes animais, sobrevivendo apenas aqueles de menor porte”, diz. Além disso, a ‘Era do Gelo’ (há quase 10 mil anos) pode ter levado inúmeros animais herbívoros, como o tatu, à extinção.
Tatu já ganhou vida
A ossada bem preservada e os relatos científicos sobre o tatu ofereceram base para o paleoartista Julio Lacerda reconstruir a imagem do animal. Inspirado também pelos tatus modernos, suas musculaturas, movimentos e comportamentos, ele demonstrou a relação dos primitivos com as cavernas através de uma ilustração. Foram 20 dias de trabalho e o desafio de retratar a oposição entre a luz e os animais. “É através do contato com ilustrações e outras formas de mídia como essa que muitas crianças decidem se tornar cientistas e paleontólogos e ter um papel nessa formação de novas gerações me traz muita realização”, afirma o paleoartista.
A descoberta das ossadas
O encontro com os ossos ocorreu acidentalmente em 2014 durante uma expedição pela Chapada Diamantina por membros do Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GPME), especialista em cavernas. “Eles nos enviaram algumas fotos do esqueleto, para nos consultar se não seria de um animal atual, como os restos de uma vaca ou cabra”, explica Marcelo Adorna Fernandes. O grupo da UFSCar se deslocou a campo e, em dois dias, recolheu não apenas uma, mas três ossadas de animais: uma completa, outra faltando a cauda e a terceira incompleta, mas todas muito conservadas.
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“As cavernas podem ‘parar o tempo’, pois o isolamento em seu interior possibilita a preservação dos restos dos animais e até mesmo as fezes muito antigas ficaram por lá, intactas”, define o professor. Pegadas de mamíferos de 135 milhões de anos, ossos de 85 milhões de anos, a primeira evidência de “xixi” de dinossauro do mundo e até a origem “bicho do pé” nas costas de um tatu gigante foram descobertas do Laboratório de Paleontologia da UFSCar.
Quanto ao tatu gigante, as alunas de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFSCar continuam as investigações. Carolina Nascimento estuda a interação entre os parasitas e os tatus extintos, já a Nancy Rêgo investiga os ossos do outro indivíduo, o quarto encontrado na caverna, uma espécie que conviveu com o tatu-gigante, mas que era um filhote. Jornal da Chapada com texto base do G1.
Serviço
A ossada completa e original do tatu gigante pode ser admirada na ‘Exposição do Tatu Gigante das Cavernas’
Local: Museu da Ciência Prof. Mário Tolentino – Praça Coronel Sales s/n, São Carlos (SP)
Horário de funcionamento: Segunda à Sexta, das 8 às 17h
Entrada gratuita e permitido o registro de fotos!
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