Menos de 24 horas depois do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defender mais uma vez o distanciamento social como única maneira de evitar o aumento de contaminação pelo novo coronavírus e com isso provocar o consequente colapso no sistema de saúde do país, o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro (sem partido), fez um passeio por Brasília, parando em vários pontos para cumprimentar apoiadores e provocando aglomerações, na contramão das orientações de cientistas e especialistas.
Nas interações sociais, Bolsonaro defendeu que somente idosos e doentes deixem de sair às ruas por conta do coronavírus, disse que as medidas de restrição foram tomadas pelos governadores, e falou que “a cloroquina está dando certo em tudo que é lugar”, ao se referir a pesquisas sobre uso do medicamente para tratar Covid-19. Ontem, Mandetta foi cuidadoso ao falar que a substância não é “panaceia” e está em fase inicial de estudo.
A um vendedor de churrasquinho, em Ceilândia, cidade do Distrito Federal a cerca de 25 km de Brasília, Bolsonaro afirmou que defende que todos trabalhem, com exceção dos idosos. Ele deu a declaração ao ouvir do homem que após duas semanas em casa, a comida estava acabando. O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), foi o primeiro a decretar medidas de isolamento.
“Cada governador decidiu o que fazer no seu estado. Às vezes, o remédio demais vira veneno”, disse, completando: “Eu defendo que você trabalhe, todo mudo trabalhe. Lógico, quem é de idade fica em casa”. O interlocutor, então, disse ao presidente que tentará se preservar para não contrair o coronavírus, mas garantindo o sustento da família com saídas para trabalhar ao menos uma vez na semana. Ele afirmou que “a morte está aí, mas seja o que Deus quiser”. Ao que Bolsonaro respondeu: “vai morrer, não”.
“A cloroquina está dando certo em tudo que é lugar”, afirmou Bolsonaro, citando um “estudo francês” que diz ter recebido há pouco. Na porta de um supermercado, também em Ceilândia, Bolsonaro perguntou a pessoas que se aglomeravam ao redor dele o que elas achavam da regra de ficar em casa. Em meio a gritos de “mito” e pedidos para foto, ele levantou a questão: “Na ideia de vocês, o povo tem que trabalhar ou não?”, perguntou Bolsonaro.
As pessoas responderam positivamente: “Tem que trabalhar sim, rapaz. O Brasil tem que andar, não pode parar, não”, respondeu um dos populares. Em rápida entrevista à imprensa, enquanto visitava um açougue, Bolsonaro disse que não ia “desautorizar quem quer que seja” ao ser questionado sobre sua defesa pelo isolamento vertical, que abrange apenas idosos e pessoas com comorbidades, ao contrário de uma restrição mais ampla como defendida pelo ministro Mandetta.
“Eu não vou desautorizar quem quer que seja. Estou achando que esse isolamento horizontal, se continuar assim, lá na frente, com a brutal quantidade de desempregados que vem pela frente, teremos um problema seríssimo que vai levar anos para ser resolvido. Essas pessoas humildes que perdem emprego não conseguem mais”, disse o presidente.
Ao ser perguntado se a própria atitude de circular pela cidade não era descumprimento das orientações do Ministério da Saúde, Bolsonaro questionou o repórter se ele seguia. O jornalista disse que está trabalhando porque a imprensa é “serviço essencial”. A inclusão do setor nessa categoria foi feita por ato do próprio governo federal.
O presidente, então, respondeu: “Eu também estou trabalhando, vendo povo, perguntando sobre essa questão de demissões, o que eles acham de trabalhar ou não, se estão com medo do vírus ou não. Não marquei a minha vinda aqui, estou parando de forma aleatória, colhendo sentimentos por parte da população. Logicamente não tenho conversado com muita gente, mas o desemprego aqui tem apavorado as pessoas, pessoas humildes, de Ceilândia, Taguatinga. E essas pessoas não têm mais o que comer em casa”.
Ele voltou a falar que recebeu um “estudo de uma entidade francesa via um hospital de renomado no Brasil”, sobre o uso da cloroquina para tratar pacientes de Covid-19, em que 78 infectados foram curados, em um grupo de 80 pessoas. Bolsonaro não deu, no entanto, mais detalhes sobre a origem dos dados. Com informações do site do jornal O Globo.