Após mais de 8 horas, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro concluiu seu depoimento em Curitiba, no inquérito que apura se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) cometeu crimes por interferência na Polícia Federal (PF). o ex-ministro reiterou acusações e entregou novas provas contra o presidente sobre sua atuação para intervir diretamente na PF. Moro entrou por volta das 14h20 deste sábado e saiu por volta das 22h50, segundo confirmou seu advogado ao Portal UOL. O ex-ministro chegou em um carro oficial da corporação, por volta das 13h15, à sede da Superintendência da Polícia Federal na capital do Paraná.
O secretário-geral da seccional paranaense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), Rodrigo Sánchez Rios, e mais três advogados de um escritório criminalista acompanham o ex-ministro. Após mais de 7 horas de depoimento, uma entrega de pizzas foi pedida na sede da PF. O horário impresso na nota fiscal mostra que ela foi pedida por volta das 19h38 e teve um custo de R$291,60. O depoimento foi também acompanhado pelo delegado federal Igor Romário de Paula, diretor de Investigação e Combate à Corrupção (Dicor/PF).
O delegado chefiou a equipe de policiais federais que atuaram na Operação Lava Jato, cujos processos em primeira instância eram presididos por Moro, quando ele era juiz federal. Três procuradores da República e dois delegados federais da SINQ (Serviço de Inquéritos da Dicor/PF) conduzem o depoimento. O depoimento se realiza em uma sala ampla da sede curitibana da PF. Os participantes mantêm uma distância de pelo menos 1,5 m uns dos outros. Todos os presentes usam máscaras.
Clima de tensão
Durante a manhã deste sábado, apoiadores de Bolsonaro e de Moro, se concentraram em frente à sede da PF em Curitiba. Os dois grupos começaram a trocar insultos e um dos manifestantes (não se sabe integrante de qual grupo) chegou a agredir um cinegrafista da RIC TV (afiliada da Record no Paraná). Policiais militares intervieram e controlaram a confusão.
Inquérito no STF
A investigação foi aberta a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, que também quer investigar se o ex-juiz da Lava Jato cometeu crime de denunciação caluniosa. O inquérito corre no Supremo Tribunal Federal (STF). O relator é o ministro Celso de Mello, que deixa a corte no fim do ano. Em entrevista à revista Veja, Moro disse que considerou “intimidação” o fato de a Procuradoria-Geral da República o investigar por suposta denúncia falsa.
Aras foi indicado ao cargo pelo próprio Bolsonaro, numa ação em que o presidente deixou de escolher um nome da lista tríplice de candidatos eleitos internamente pelo Ministério Público Federal. Em resposta, Aras disse que não admite ser manipulado ou intimidado. A demissão de Moro foi o desfecho de uma crise que começou em 2019, quando Bolsonaro interveio na PF no Rio de Janeiro.
Ao pedir exoneração do cargo de ministro no último dia 24 de abril, Moro afirmou que Bolsonaro tentou interferir e receber dados sigilosos de investigações da Polícia Federal. Bolsonaro admite que quer ter acesso a relatórios de inteligência diretamente da PF todos os dias. Moro afirma que isso é interferência e que é uma atitude antirrepublicana e contra os princípios constitucionais. Bolsonaro considera que esse procedimento é normal. As informações são da UOL e do Globo.