Com a escalada de casos de coronavírus no país, o neurocientista Miguel Nicolelis, presidente do comitê científico para o combate ao novo coronavírus do Consórcio Nordeste, diz que a decretação de ‘lockdown’ é uma possibilidade concreta no Brasil e que o país pode ser tornar o novo epicentro da Covid-19. Segundo o neurocientista, mesmo antes da criação do comitê científico, suas previsões já indicavam que o país seria epicentro da pandemia.
“Se você for ver as minhas previsões feitas em março, antes mesmo do comitê científico ser criado, eu já dizia que o Brasil dava toda a impressão de ser, depois dos Estados Unidos, o novo epicentro da crise mundial. Nos Estados Unidos, você vê uma estabilização do número de casos. Ainda não caiu, chegou num platô, com números ainda bem altos. Está migrando pelo país. Em Nova Iorque, os números estão caindo. E é bem claro para mim que o Brasil será o novo centro mundial da Covid”, diz o especialista.
Ele continua dizendo que a subnotificação não dá um panorama real da doença no nosso território. “Se você olhar e projetar as curvas, o Brasil tem uma subnotificação enorme, então os nossos números de casos reais devem ser de 10 a 12 vezes maiores do que o oficial. Nós estaríamos chegando a um milhão de infectados no País, possivelmente”, continua. Outro ponto destacado por ele, é a subnotificação também das mortes.
“Se você acompanhar os dados da Síndrome Respiratória Aguda Grave para o Brasil você vê um número muito grande. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, 73% dos óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave são, provavelmente, casos de covid-19 não notificados. Certamente esse número de óbitos é muito maior, cinco a sete vezes maior, são as estimativas que eu ouvi”, alerta o neurocientista.
A curva de crescimento é outro dado apontado por Miguel Nicolelis como indicativo de que o Brasil irá ocupar o lugar de epicentro da crise sanitária. “Se você olhar para as curvas, mesmo com os dados oficiais, vai ver o quão rápido estamos aumentando o número de casos. A cada oito dias, nós estamos dobrando a quantidade de casos. Isso mostra claramente que a chance de nós passarmos ou chegarmos próximo dos Estados Unidos é real”, assevera.
O cientista diz que o negacionismo capitaneado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), tem contribuído muito para que as pessoas não levem a sério as medidas de isolamento amplamente divulgadas e orientadas pelos especialistas e por gestores estaduais e municipais.
“Sem dúvida nenhuma, isso é um contribuinte inédito no mundo inteiro. Você não tem isso em lugar nenhum do mundo. O Brasil é o único País que enfrenta uma crise política, institucional no meio da pandemia. Eu estou dizendo, há mais de um mês, que é a interferência do pandemônio na pandemia. E esse pandemônio gera mortes. Você viu uma quantidade enorme de pessoas que negavam o coronavírus e vieram a falecer”, afirma ele.
E continua. “O mundo inteiro não entende. O Brasil está nas manchetes do mundo inteiro, como tendo que lidar com um governo federal que não assumiu a existência da maior crise sanitária do mundo”. O presidente do Comitê de Saúde do Nordeste, finaliza dizendo que a falta de condução por parte do governo federal vai ficar marcada na história de todos os que estão impedindo que os estados tenham a ajuda necessária e urgente para o combate a pandemia.
“A negação disso e a falta de uma diretriz federal e de apoio aos Estados são um ônus histórico, que vai ficar na biografia de todas essas pessoas que estão impedindo que os Estados brasileiros tenham condições de receber auxílio do governo federal, em todos os níveis, desde financeiro, até em equipamentos, suporte e ajuda estratégica. É um ônus histórico. Realmente, como médico e como brasileiro, para mim, é chocante e deprimente, sentir que, em meio a esse caos sanitário, a gente ainda tem que perder tempo e perder vidas por causa dessa atitude irresponsável do governo federal e do presidente, finaliza”. Jornal da Chapada com informações do Jornal do Commercio.