No pequeno povoado de Campos de São João, município de Palmeiras, na Chapada Diamantina, moradores se reuniram para impedir que uma família enterrasse um parente, morto por covid-19, em um jazigo da família. O caso ocorreu nesta terça-feira (26) e a comunidade fechou, por conta própria, a entrada com barreira e ainda queimou pneus para evitar a entrada do caixão.
O medo tem tomado conta desde a chegada da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Armando Carlos Mateus Barbosa da Silva, de 70 anos, faleceu de covid-19 nesta terça, no Hospital Português, em Salvador, e foi transportado para a localidade, para ser enterrado. A saga da família iniciou em explicar à comunidade sobre a possibilidade do sepultamento de acordo com recomendações dos órgãos, com documentações impressas.
No entanto, os moradores do pequeno povoado não abriram mão, alegando que seria pela própria segurança e que não havia infraestrutura no cemitério local. “O cemitério de Campos de São João está em obras, não tem estrutura pra enterros de causa-mortis covid-19. Não há sequer alvará de entrega da obra. Portanto, nenhum enterro deveria está ocorrendo neste cemitério. Se chover nas próximas 72h existiria o risco do vírus descer com a enxurrada e contaminar os moradores do Humaitá, já que o cemitério está em declive e não há drenagem”, frisa um dos moradores da comunidade por meio de aplicativo de mensagem.
Para Thissia Ramos, filha de Armando, a comunidade impediu que seu pai tivesse um descanso digno e que não se trata de uma “questão de capricho, mas sim de uma tradição da família todos serem sepultados no jazigo”. Ela explicou ao Jornal da Chapada que seu pai é casado com a pessoa natural do povoado. Portanto, ele deveria ser enterrado no mesmo lugar. “Toda a família está enterrada lá, minha mãe, minhas tias e toda uma geração. Se a esposa dele vier a falecer – está internada por covid-19- eles gostariam de ficar juntos”, aponta a jovem fragilizada com a situação.
Na segunda tentativa para realizar o enterro de Armando, os moradores queimaram pneus para impedir o retorno dos familiares com o caixão com o corpo do idoso. “Estão retornando a Palmeiras sem conseguir o sepultamento”, informa Thissia sentida desapontada e no momento de dor. Segundo fontes da região, “o prefeito [Ricardo Guimarães – PSD] chegou com o promotor de justiça municipal para intervir na situação. Segundo eles, tudo estava preparado para o sepultamento em Palmeiras, mas de última hora, o sobrinho do falecido foi contra e insistiu em trazer o corpo para Campos de São João”.
Ainda de acordo com informação de fontes, a versão do sobrinho de ter tentado impedir o sepultamento em Palmeiras foi negada. “[O sobrinho] não resolveu nada de última hora e a família toda em nenhum momento tinha concordado em sepultar em Palmeiras. Mesmo porque, o sepultamento em Palmeiras é que foi induzido de última hora pela equipe da prefeitura, pois antes disso a prefeitura tinha tentado realizar o enterro no Carmona e lá também os moradores impediram”, completa. O idoso foi enterrado em Palmeiras após todos os empecilhos criados.
Jornal da Chapada
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