Um estudo publicado pelo renomado instituto de pesquisa na área de desenvolvimento infantil, o ‘Child Development’, concluiu que palmadas e punições corporais podem gerar um impacto negativo no funcionando cerebral da criança, semelhante aos provocados por uma agressão física mais violenta ou abusos sexuais. Anteriormente, alguns estudos já haviam sinalizado que as palmadas e outras formas mais severas de agressão, impactavam no aprendizado, comportamento, e a capacidade de adaptação, mas em intensidades diferentes. De acordo com os pesquisadores, é a primeira vez que fica comprovada a ligação entre palmadas e reações neurais exageradas à percepção de risco no meio ambiente.
Uma das autoras do estudo, Katie McLaughlin é diretora do laboratório de estresse e desenvolvimento em Harvard, no qual ela resolveu um modelo que já indicava a alta probabilidade de que vivências adversas (incluindo palmadas e testemunho de violência) teriam impacto parecido sobre o desenvolvimento emocional e neural, variando apenas em intensidade, junto com os outros autores do estudo são David Weissman e Jorge Cuartas, ambos também de Harvard, Margaret Sheridan, da Universidade da Carolina do Norte, e Liliana Lengua, da Universidade de Washington eles buscaram comprovar na prática, parte do que McLaughlin havia previsto na teoria.
O estudo final foi composto por 147 crianças, de diversas raças e contextos socioeconômicos, entre 10 e 12 anos, que foram acompanhadas, desde os três anos, em uma analise longitudinal mais amplo nos Estados Unidos. Os participantes foram divididas em dois grupos e os resultados foram comparados. Um dos grupos foi composto por 40 crianças que sinalizaram terem recebido palmadas algumas vezes ou muitas vezes. O outro por 107 crianças que declararam terem sido alvo desse tipo de punição corporal apenas uma vez ou nunca. Os dados de outras 26 crianças vítimas de agressões físicas mais severas e abusos sexuais foram analisados, mas não foram incluídos na avaliação final sobre os efeitos de palmadas.
Especialistas sinalizaram que apesar do Brasil ter aprovado em 2014 a ‘Lei Menino Bernardo’, conhecida como ‘lei da palmada’, esse tipo de agressão física ainda tem uma grande aprovação social. Em entrevista com à Folha de São Paulo, a jornalista Paula Perim, afirmou que em seu mestrado na PUC-SP ela verificou essa aprovação em relação às palmadas na prática, fazendo uma análise do discurso de alguns comentários de leitores em reportagens sobre o tema.
“Em 2010, quando a lei da palmada começou a ser discutida no Brasil, me impressionava muito o que as pessoas diziam sobre o assunto, manifestando opiniões normalmente favoráveis a esse tipo de punição” afirma a jornalista. Devido a dedicação dela ao tema na época por conta do mestrado, Perim que trabalhava na revista ‘Crescer’ havia feito muitas reportagens na época sobre diversos estudos que mostravam os efeitos deletérios da violência física contra crianças.
“Muitas pessoas continuavam defendendo a palmada, como se fosse algo menor do que outros tipos de violência”, declara, Paula, que atualmente é diretora de comunicação da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, entidade que busca à melhora da qualidade da educação infantil. O mestrado da jornalista, concluído em 2020 analisou comentários de leitores nos posts que dois jornais fizeram em suas páginas do Facebook, sobre a legislação ou castigos físicos em crianças, entre janeiro de 2010 e outubro de 2019.
Em sua pesquisa ela concluiu que os discursos dos leitores não era sobre legitimação da palmada, em si, mas era a percepção da ideia deles de querer “filhos bem educados”. “Percebi que o principal objeto de valor do discurso é a formação de cidadãos de bem”. Em defesa dessa formação, ainda são comuns frases como “eu apanhei e foi importante para a minha formação” ou “apanhei na infância e ficou tudo bem” pontuou.
Segundo a ‘End Corporal Punishment’, iniciativa apoiada pela ONU, que apoia o fim da violência contra crianças, no mundo, apenas 62 países tem uma legislação clara que proíbe qualquer forma de punição contra crianças em qualquer ambiente. No entanto, outras 137 nações ainda não baniram totalmente a punição física. Jornal da Chapada com informações da Folha de São Paulo.