Em contato com o Jornal da Chapada (JC), a categoria dos trabalhadores de Saúde em Seabra, na Chapada Diamantina, denuncia o que pontua como “descaso da administração”, as medidas adotadas pela Secretaria Municipal de Saúde e prefeitura municipal, na gestão do prefeito Fábio Lago Sul (PP). Dentre as reivindicações estão a jornada de trabalho, que querem implementada, fim da aglomeração dos servidores, visto que a unidade central de saúde encontra-se em reforma, e debate sobre os salários – que estão estagnados há quase 16 anos.
Segundo os profissionais, há mais de 20 anos, os servidores de saúde trabalham em regime de carga horária reduzida, de 30h semanais, e em revezamento. Contudo, “comprometidos com o bem-estar da população, garantem atendimento ao público 12h por dia, ininterruptas”, informa a nota de repúdio. Além disso, informam que a maior unidade de saúde do município chapadeiro é o Centro de Saúde Aloísio Rocha, que se encontra em reforma há mais de um ano.
Logo, eles afirmam que isso fez com que cerca de 30 servidores precisassem ficar aglomerados, mesmo em contexto de pandemia, na Unidade Básica de Saúde (UBS) Vasco Filho. Eles informam ainda que a Secretaria de Saúde determinou, de forma unilateral, que todos os servidores trabalhem por 40h semanais, mesmo sem ter ocorrido a obra no Centro de Saúde referência na cidade. Com isso, os cerca de 30 servidores da unidade central foram colocados em uma unidade local e extintos o regime de revezamento de 6h.
Essa situação, de acordo com a categoria, gera “ainda uma maior aglomeração, oferecendo risco à saúde dos servidores e contrariando todas as normas de proteção neste contexto pandêmico”, informa. “Nós não estamos pedindo para trabalhar menos que ninguém, na verdade, nós estamos pedindo que seja adequada a carga horária em relação à carga de trabalho que a enfermagem tem”, esclarece Gilney Guerra, enfermeiro e conselheiro do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).
A categoria pontua que o horário de atendimento à população deixará de ser das 6h30 às 18h30, como era normalmente, fora do contexto da pandemia, para funcionar apenas em horário comercial, das 8h às 12h e das 14h às 17h, o que “dificultaria ainda mais o acesso à saúde aos trabalhadores e trabalhadoras e aumenta a jornada de trabalho acordada há 20 anos com as anteriores gestões municipais”, reivindica a categoria. Nesse momento de pandemia de covid-19, o horário de encerramento foi reduzido para 17h30.
“Não compactuamos com essas medidas, que afeta negativamente e indistintamente a todos, e colocam em risco iminente os profissionais. Por isso, nos negamos a acatar a determinação da Secretaria, até que seja aberto o diálogo pra solução da situação, e seja apresentado um plano de realocação dos servidores, de modo e evitar a aglomeração e o risco, ainda maior e já inerente à profissão, de contágio dos profissionais com covid-19”, descreve a nota.
Eles afirmam que além da luta contra a covid-19, precisam lidar com um novo “inimigo” que dizem ser a gestão municipal. “É de causar profunda revolta o que vem acontecendo no nosso município. Não bastasse os profissionais de saúde, que diariamente se arriscam atuando na linha de frente em condições muitas vezes desfavoráveis, estarem expostos ao risco de contaminação pelo novo covid-19 [fato inclusive que já é realidade em um dos PSF’s de Seabra, aonde nove dos 10 funcionários testaram positivo para a covid), agora também precisam lidar com um novo ‘inimigo’: a gestão”, citam.
Segundo a nota de repúdio, a gestão do prefeito Fábio Lago Sul contraria a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Internacional do Trabalho (OTI), ao “insistir em aumentar a jornada de trabalho dos Enfermeiros, Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de seis [jornada estabelecida e acordada há 20 anos com as gestões que por aqui passaram] para oito horas diárias”.
Além das reivindicações de jornada de trabalho, em meio às medidas adotadas pela Secretaria Municipal de Saúde e prefeitura municipal, eles pontuam que os salários são exatamente os mesmos há quase 16 anos. “Respondam-me senhor prefeito e [excelentíssima] senhora secretária, é justo uma classe que lida com a desvalorização, com as condições inóspitas de trabalho e com um salário estagnado há quase 16 anos, tenha ainda que se submeter a uma extenuante jornada de trabalho?”, questiona a categoria.
“Exigir o aumento da carga horária dos profissionais de saúde para 8 horas por dia é demonstrar total falta de sensibilidade para com aqueles que fazem de tudo, muitas vezes além da sua realidade, para melhor servir a população”, lamentam os profissionais, por meio de nota de repúdio. O Jornal da Chapada procurou a Secretaria de Administração da prefeitura, assim como a secretária de Saúde do município, mas até o momento desta publicação, não obteve retorno.
Jornal da Chapada