Nos 14 dias em que o prefeito Bruno Covas, morto no último domingo (16), ficou internado no Hospital Sírio-Libânes, em São Paulo, para tentar conter o avanço do câncer, a sua companhia diária era o seu único filho, Tomás Covas, de 15 anos, que recepcionava as visitas de políticos, movia articulações por zoom e conversava com auxiliares e amigos.
Tomás, que ocupava o sofá do hospital que serve de cama para os visitantes, fazia aulas remotas e nos intervalos os dois faziam juntos a lição de casa. Embora o pai do prefeito, Pedro Lopes, a mãe, Renata Covas, e o irmão Gustavo também tivessem passado a maior parte da última quinzena nos corredores e salas de espera do hospital, Tomás foi o principal anfitrião.
Ele que recebia as pessoas autorizadas a subir para se encontrar com o prefeito. Após a vitória do prefeito no segundo turno e antes da internação do político, Tomás havia optado, com o esquema de aulas virtuais, por ficar no apartamento do pai, que fica em um flat na Barra Funda. Anteriormente, com as aulas presenciais, tinha dificuldades nesse arranjo, já que a casa da mãe fica bem mais perto do colégio que frequenta em Alto de Pinheiros.
Depois do expediente na prefeitura, Bruno e Tomás se “reuniam” com Volpi, o cachorro Bul Terrier, que é praticamente mais um membro da família Covas. Era Tomás que passava a maior parte do tempo com Volpi e cuidava dos passeios e rações, mas Covas fazia questão de brincar e passear com o animal de estimação, sendo na vida privada, o seu trio preferido.
De acordo com relatos de amigos próximos ao tucano, Tomás foi uma “liderança nata” durante o intenso período eleitoral de 2020. “Ainda é cedo para saber se ele vai seguir a carreira política, mas ele tem uma postura de liderança”, afirmou o secretário de Habitação da capital, Orlando Faria, um dos integrantes da nova geração de tucanos que Covas levou para o governo para tentar renovar o partido.
“Conheci o Tomás ainda bebê. Ele gosta de política e sempre acompanhou o pai. É natural que ele siga esse caminho e mantenha o legado do Bruno”, comentou Fernando Alfredo, presidente do PSDB paulistano e também amigo de Covas. Na saída do velório, um parlamentar tucano lembrou um episódio de Tomás. Quando ainda era deputado em 2015, Bruno levou Tomás para Brasília e o filho acabou participando de uma reunião da bancada do PSDB, que então estava dividida sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
O então líder do partido, Carlos Sampaio (SP), fez uma brincadeira sobre o “novo” deputado presente e perguntou se ele gostaria de dizer algo. Tomás pegou então o microfone e “enquadrou” a bancada: “Vocês estão esperando o que para pedir o impeachment?”.
No dia da apuração do segundo turno do ano passado, políticos que estavam reunidos na frente do escritório estadual do PSDB, nos Jardins, foram surpreendidos por um discurso do filho do prefeito: “Vamos ganhar com muito pé no chão”, disse o estudante do ensino médio. “Se Deus quiser, vamos pegar o (Guilherme) Boulos e provar que em São Paulo o radicalismo não tem vez.”
Com a presença constante ao lado do pai desde o início da campanha, Tomás contou que o discurso não havia sido combinado. “Falei um pouco do que acho do outro candidato, que é despreparado”, explicou ao Estadão. “Pretendo entrar na juventude do PSDB quando fizer 17 ou 18 anos. Eu tenho vontade de fazer política”, afirma. A imersão de Tomás começou há tempos. “Acompanho desde que ele era deputado estadual. Estava também no impeachment da Dilma”, completou.
Bastante emocionado no velório do pai neste domingo (16), Tomás ajudou a carregar o caixão com o corpo do prefeito para o caminhão dos bombeiros, que partiu em cortejo pelas ruas do centro da capital paulista. Jornal da Chapada com informações de Estadão.