Marcelo Adnet disparou contra o governo do presidente Jair Bolsonaro e a forma como ele e seus apoiadores reagem as suas imitações críticas.
“O bolsonarismo, ele tem uma coisa assim, que tudo bem matar as pessoas, não tem problema matar, afinal de conta as pessoas merecem morrer na cabeça dessas pessoas. Só que se você chamar, por exemplo, você falar ‘Bolsonaro é viado’. Isso vai machucar ele. Porque ele não se incomoda de ser assassino. Mas são pessoas que são extremamente preconceituosas, tem coisas que a ofendem muito”, afirmou o humorista durante participação no ‘Papo de Segunda’, que vai ao ar toda segunda-feira, às 22h30min, no ‘GNT’.
Adnet continuou: “É engraçado isso. É um cara (Bolsonaro) que foi muito incomodado pelo humor. (…) Eles temem essa desconstrução, eles temem essa porrada. E é importante pra caramba no Brasil que a gente tá vivendo (…) O bolsonarista, ele se ofende com certas brincadeiras. Chamar de assassino, que mal tem? Mas beijo gay é o problema.”
O assunto surgiu quando Porchat questionou Adnet sobre incômodos gerados por caricaturas. “Tem uma coisa sobre o governo Bolsonaro, quando ele deu aquele ataque de pelanca contra minha pessoa, que era um absurdo eu ter feito um vídeo sobre o Mário Frias… E não tinha nada no vídeo. Como eles ficaram muito chateados, chateadíssimos. Eles sentiram aquilo”.
O humorista continuou falando contra o governo ao comentar a cobertura que tem feito da CPI da Covid. Perguntado por Porchat se a ideia de cobrir a mesma veio do ódio, Adnet respondeu diretamente:
“Eu prefiro ser odiado, perder seguidores, perder trabalhos, mas não guardar aqui dentro as coisas que eu penso. Acho isso horripilante. Acompanhar a CPI é muito importante. (…) Tá todo mundo revoltado, chateado, os absurdos são diários, você não consegue digerir um absurdo porque vem outro logo depois. É muito problema, muito estresse, a gente fica muito abalado e cada um faz o que pode. Narrar essa CPI tem uma coisa de levar as pessoas a olharem pra ela, porque ela é muito importante. E numa linguagem popular, engraçada. Então acho que tem a ver com isso sim, você botar pra fora”, confessou.
Adnet completou: “Eu não odeio de querer matar ninguém. Queria apenas poder conversar com as pessoas. Mas infelizmente encontraram aí uma forma de criminalizar a classe artística. Como se cultura fosse errado. E essa narrativa tá dando muito certo. Eleger grandes inimigos. Então hoje o Bonner é o inimigo, quem poderia imaginar? Eu sou um canalha, ladrão. Porchat é um ladrão de Roaunet (…) Criou uma guerra cultural e a gente tá no meio dela”.
Papel da imitação
O humorista aproveitou ainda a oportunidade para falar sobre o papel da imitação e como ela pode ofender alguém. “A imitação tem uma coisa de desvendar alguém. Quando o imitador ele manda bem, consegue acertar uma imitação, ele consegue desnudar o imitado. Ele fica com seus vícios revelados. Vícios de linguagem, vícios corporais. É uma espécie de tradução. Você traduz aquela figura, com manias, gestos. Porém você pode sim incomodar, ofender alguém, se você fizer uma imitação que não é baseada necessariamente nos trejeitos daquela pessoa, mas baseada em preconceito sobre ela. É um papo complicado, exige muita sensibilidade e bom senso. Acho que quem é imitador, a gente sabe quando a gente tá sacaneando, desnudando alguém, e afrontando ou desrespeitando.”
João Vicente perguntou a Adnet se ele não sentia medo de que, de alguma forma, as imitações passassem a impressão errada de que “aquilo” é engraçado. O humorista respondeu: “Eu já ouvi que eu tava humanizando ele, conferindo a ele uma humanidade que ele não tem. Eu acho a crítica válida, mas eu acho que o trabalho que eu fiz desde a eleição presidencial um trabalho importante de oposição, porque como já falei, ele desnuda o presidente, ele mostra as intenções por trás das falas.”
“Agora ele já descontrolado, já chutou o balde, mas foi uma fase muito importante. (…) Quando eu tava lá, criticando o Bolsonaro, foi uma fase onde ele era querido. Era querido pelo mercado financeiro. Lembro de receber e-mail do banco, se o Haddad ganhar o dolár a 5, Bolsonaro ganhar o dolár a 2. Então assim, acho que lá atrás, foi importante. A crítica vale mais que essa consideração. Eu não voltaria atrás”, completou, acrescentando que respondeu o banco em questão questionando como eles mandavam esse e-mail para um artista.”
Paternidade
O humorista conversou com os apresentadores sobre a chegada de Alice, sua primeira filha com a esposa, Patrícia Coelho. A bebê nasceu em dezembro do ano passado.
“Eu não botei muita regra não. A gente decidiu que não ia ter babá, por causa da pandemia e também por um certo orgulho, de falar que não preciso, eu aguento. E talvez essa seja a primeira coisa que tô começando a repensar. Já tô doente de novo, meu sono foi pro cacete, eu durmo em qualquer horário, tô acordado seis da manhã, tô acordado meia noite, não tem hora pra dormir. Então essa é a primeira coisa, que é um orgulho meu. A outra coisa é que eu não queria que ela visse muita televisão, olhando pra tela. Depois de um mês, ela já tava vendo desenho, TV Globinho. Sei todas as músicas da TV Globinho”, comentou Adnet.
“Na hora que o cansaço bate, a gente vê que o importante é a gente tá bem. Porque se eu tiver mal, acabado, derrubado, doente, eu não vou ser um bom pai para a minha filha”, desabafou o humorista.
Mulheres no humor
Adnet comentou também no programa sobre o espaço que as mulheres tem ganhado cada vez mais no ramo do humor, durante um debate sobre o uso da ironia e do humor no dia a dia. “Foi esperado delas beleza, perfeição, tem que tá bonita, maquiada, tem que ta em casa, tem que cuidar das crianças. É uma coisa que a sociedade moldou. Eu vi muito a Dani Calabresa. Hoje a gente vê mulheres poderosíssimas como a Tatá Werneck, a Juliette, Juliette não é comediante, mas é engraçada. Então são mulheres poderosas que quando chegam, chegam com tudo. A gente não tá acostumado a ver essas meninas brincando consigo mesma”. em>As informações são do site TV e Famosos, do portal UOL.