Por meio de uma nota, a revista Piauí revelou que está desde o dia 12 de agosto proibida de publicar uma nova reportagem sobre o caso Marcius Melhem. O ator é acusado de assediar sexualmente pelo menos oito mulheres, todas colegas de trabalho do humorista.
“No dia 5 de agosto, quinta-feira, entrei em contato com a assessora de imprensa Isabela Abdala, contratada por Melhem em dezembro do ano passado para lidar com as denúncias de assédio sexual. Contei as revelações que havia apurado e pedi uma entrevista com o humorista, ou seus advogados. Abdala pediu que as perguntas fossem enviadas por escrito. Mandei seis questões e dei um prazo de cinco dias para receber as respostas”, conta o jornalista João Batista Jr.
Com o fim do prazo para que o ator enviasse as respostas, a assessoria do ator pediu mais tempo, porém, “enquanto negociava mais tempo para responder à Piauí, Marcius Melhem, por meio de seus advogados, entrou na Justiça pedindo que a revista fosse submetida à censura prévia e, assim, impedida de publicar a reportagem em apuração. No dia 12, a juíza Tula Corrêa de Mello, da 20ª Vara Criminal da Justiça do Rio de Janeiro, acatou o pedido de Melhem e determinou “a suspensão, pelo tempo que durarem as investigações, da publicação de matéria na revista Piauí ou seu respectivo site”.
Caso a publicação descumprisse a medida judicial, seria multada em R$ 500 mil reais, os exemplares seriam recolhidos em todas as bancas e reportagem seria removida do site. A revista afirma que está recorrendo da decisão “que submete a revista à censura”.
O comunicado da revista pode ser lido na íntegra aqui.
“O que mais você quer para calar a boca?”
Na primeira vez, o diretor Marcius Melhem teria tentado beijar a humorista Dani Calabresa em uma comemoração. Ela conseguiu se desvencilhar e deixou o palco de um karaokê, acompanhada da atriz Débora Lamm.
De acordo com longo texto do repórter João Batista Jr. para a revista piauí, na mesma noite, no entanto, “ao sair do banheiro, Dani deu de cara com Melhem, que estava à sua espera e tentou agarrá-la. Ela reagiu, bateu com a parte traseira da própria cabeça na parede e pediu que Melhem a deixasse passar. Em vão. Com uma das mãos, ele imobilizou os braços da atriz. Com a outra, puxou a cabeça dela para forçar um beijo. Assustada, Calabresa cerrou os lábios e virou o pescoço, mas Melhem conseguiu lamber o rosto dela”.
“Em seguida, tirou o pênis para fora da calça. Enquanto a atriz tentava soltar os braços e escapar da situação, acabou encostando mão e quadris no pênis de Melhem. Ao reencontrar os colegas no salão, Calabresa teve uma crise de choro. Os atores Luis Miranda e George Sauma ofereceram a ela um copo d’água e confortaram a amiga”.
A matéria fez com que o nome de Marcius Melhem fosse parar, mais uma vez, entre os assuntos mais comentados do Twitter, nesta sexta-feira (4). Internautas afirmam se sentir “enojados” com a descrição da cena e a impunidade com que, até agora, o ex-diretor da Globo é tratado.
Para a reportagem, a piauí diz ter ouvido 43 pessoas, em conversas presenciais, virtuais ou por meio da troca de mensagens de texto ou áudio. Entre elas, duas vítimas de assédio sexual de Marcius Melhem, sete vítimas de assédio moral e três vítimas dos dois tipos de assédio, o sexual e o moral.
Outro lado
Em nota enviada à Fórum pela assessoria de imprensa de sua defesa após a publicação desta matéria, o ator Marcius Melhem informou que não pediu à Justiça para censurar a revista.
Confira, abaixo, a íntegra da nota.
Piauí pede segredo de justiça e mente sobre censura
Não é verdade que meus advogados pediram à Justiça para censurar uma reportagem da Piauí. Meu pedido foi tão somente para que fosse apurado o vazamento de informações sigilosas e para que eu pudesse me defender com as provas que tenho. Não pedi segredo de justiça em nenhum processo. A Piauí, sim, pediu sigilo sobre um processo que movo contra a revista. Eu luto por transparência e verdade e, por mim, este processo não teria segredo algum. Seria aberto a qualquer jornalista. Mas sou obrigado a obedecer a Justiça, inclusive pelo sigilo pedido pela Piauí. Assim que for possível, virei a público mostrar a verdade. Piauí, suponho, não publicará.
O repórter João Batista alegou que fazia uma matéria sobre os “desdobramentos jurídicos” do caso, apesar de não ter publicado uma linha sobre os 6 (seis) processos que abri após as mentiras publicadas. Como a investigação aberta no MP corre sob sigilo judicial, ele sabe que não posso comentar. Mesmo se tivesse acesso às minhas respostas e provas de minha inocência, João Batista não publicaria, pois algumas delas já vieram a público e foram cobertas amplamente pela imprensa – menos pela Piauí.
Meus advogados jamais pediram censura à revista. Pedi tempo para responder porque tinha que consultar a juíza sobre quais fatos eu poderia mencionar em minha defesa, como mensagens trocadas com as supostas vítimas. A Juíza tomou as medidas de preservação do sigilo que julgou necessárias e me manteve proibido de divulgar provas a meu favor. Se a revista se julga censurada por não poder quebrar um segredo de Justiça, por que não me considera também vítima da censura?
O repórter divulgou trechos aos pedaços, como sempre fez em sua parcialidade. Omitiu por qual motivo ele não escreveu uma linha para informar o público da Piauí sobre as provas que deixam claras as mentiras da primeira matéria. Por que a revista Piauí quer vazar um inquérito antes de ter minha defesa lá, ao mesmo tempo em que pede segredo de Justiça no processo que movi contra ela? Afinal, a Piauí é contra ou a favor do sigilo?
Marcius Melhem
A redação é do site da Revista Fórum.