Um novo Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para as culturas do pessegueiro e da nectarineira identificou novas áreas com potencial e condições favoráveis para os cultivos da fruta, como os municípios de Piatã e Mucugê, na Chapada Diamantina. Estas duas cidades chapadeiras possuem 1.000m de altitude que, em sistema irrigados, apresentaram condições agroclimáticas de baixo risco (até 20%), mas que atualmente não possuem cultivo. Outras regiões que foram identificadas pelo zoneamento são: Mato Grosso do Sul e Goiás, incluindo também o Distrito Federal.
O documento indica as áreas e períodos de menor risco climático para essas culturas no Brasil, e define as regiões mais indicadas para o cultivo, com o intuito de reduzir perdas e garantir rendimentos mais elevados. Elaborado com base em estudos da Embrapa Clima Temperado (RS) e da Embrapa Informática Agropecuária (SP), o novo Zarc foi publicado neste mês pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Contudo, de acordo com o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária também responsável pela agrometeorologia e geoprocessamento do zoneamento, Ivan de Almeida, o documento indica regiões potenciais para o cultivo comercial apenas com base no clima e na disponibilidade hídrica. Para o pesquisador, no entanto, outros fatores precisam ser levados em conta para o bom desenvolvimento do pomar e sucesso econômico da propriedade, como perfil do produtor, nível de tecnologia empregado e acesso a mercados.
“É preciso ponderar com cuidado antes de iniciar qualquer empreendimento”, alerta. Ao longo dos anos, entidades realizavam estudos específicos para seus respectivos estados. Nestes estudos não eram considerados riscos hídricos, apenas de temperatura. Além disso, recomendavam o cultivo com base em oito regiões climáticas do estado, o que demandava atualização anual para inserção das novas cultivares.
Mas, agora, o novo zoneamento trabalha com a exigência de frio das cultivares registradas e com datas médias de floração, que é o momento que baliza a ocorrência das demais fases da planta. Logo, é possível estabelecer os níveis de risco para cada fase, que é feita com base na disponibilidade de água e nos índices de temperatura de cada região avaliada, para as diferentes fases da cultura.
No caso, locais com mais de 40% de risco não são recomendados para o cultivo. Os resultados podem ser acessados e baixados no Painel de Indicadores do Mapa, nas Portarias de Zarc por Estado e via aplicativo Zarc Plantio Certo (Android e iOS). A consulta é feita por município, tipo de solo, ciclo da planta e decêndio do ano.
“Não significa que as áreas com risco superior a 40% não possam ser cultivadas. Mas, na política do Banco Central para concessão de crédito e seguro agrícola essas áreas não estão contempladas. Quem tem recursos próprios e condições de assumir pessoalmente esses riscos, não há qualquer impedimento”, explica o pesquisador Ivan de Almeida.
O zoneamento definiu como regiões de alta disponibilidade de frio (superior a 450 HF) aquelas com temperatura mínima média no mês de julho inferior a 10º C; regiões de média disponibilidade de frio (de 200 a 450 HF) com temperatura entre 10º C e 14º C; e regiões de baixa disponibilidade de frio (de 75 a 200 HF) com temperatura entre 14º C e 15º C. São consideradas impróprias regiões com temperatura mínima média do mês de julho superior a 15º C.
Sendo parentes próximos, o pessegueiro e nectarineira pertencem à espécie Prunus persica L. No Brasil, a cultura do pessegueiro é a mais importante e está presente em cerca de cinco mil estabelecimentos rurais. Já a nectarineira é cultivada em número de propriedades quase 20 vezes menor, isto é, em cerca de 280 estabelecimentos.
O cultivo dos frutos não é indicado para regiões com períodos de chuvas muito prolongados, que propiciam o aparecimento de doenças, sendo a podridão parda a principal delas. Além disso, o pessegueiro e a nectarineira fazem parte de um grupo de cerca de dez culturas com atualização do Zarc prevista para este ano, conforme o Ministério da Agricultura.
Portanto, o zoneamento considera a avaliação de riscos para os sistemas de produção de mesa (mais exigentes em disponibilidade hídrica); para processamento (menos exigentes nesse quesito); irrigado (sem risco hídrico); e irrigado e com controle de geada (sem risco hídrico nem de geada). Jornal da Chapada com informações de Embrapa Clima Temperado e Notícias Agrícolas.