Sem comida, os moradores Zona Sul do Rio de Janeiro fazem fila em caminhão que recolhe ossos e pelancas de supermercados da cidade. Sensibilizados, motorista e ajudante da empresa doam toda terça e quinta parte do que foi recolhido. Ao ‘Globo’, o motorista do caminhão, José Divino Santos, de 63 anos, conta que, nos últimos meses, aumentou o número pessoas pedindo ossos e restos de sebo.
“Tem dias que chego aqui e tenho vontade de chorar. Um país tão rico não pode estar assim. É muito triste as pessoas passarem por essa situação. O meu coração dói. Antes, as pessoas passavam aqui e pediam um pedaço de osso para dar para os cachorros. Hoje, elas imploraram por um pouco de ossada para fazer comida. Duas ou três pessoas em situação de rua passavam aqui e levavam. Hoje, tem dia que tem umas 15 pessoas”, narra José Divino.
Ele lembra ainda que os restos seguem para uma fábrica no bairro Santa Rita, em Nova Iguaçu. Lá, parte do material vira ração para animais e a a gordura é utilizada para fazer sabão em barra. “Às vezes, está meio estragado, a gente fala, mas as pessoas querem assim mesmo”, conta sem conter as lágrimas.
Diante do desemprego — que ficou em 14,1% no segundo trimestre de 2021, atingindo 14,4 milhões de brasileiros — e da inflação galopante — que com a prévia deste mês chegou a 10,05% no acumulado em 12 meses, ultrapassando os dois dígitos pela primeira vez desde fevereiro de 2016 —, é a esperança daquelas pessoas de encontrarem um pedaço de carne para matar a fome.
Segundo um levantamento da Rede Brasileira de Pesquisas em Segurança Alimentar e Nutricional mostrou que mais de 116,8 milhões de pessoas vivem hoje sem acesso pleno e permanente a alimentos. Dessas, 19,1 milhões (9% da população) passam fome, vivendo “quadro de insegurança alimentar grave”. Os números revelam um aumento de 54% no número de pessoas que sofrem com a escassez de alimentos se comparado a 2018. As informações são do jornal O Globo.