Em mais um gesto de campanha antecipada marcado por seu habitual populismo, o presidente Jair Bolsonaro, sem agenda oficial, foi passear em Peruíbe, no litoral paulista, neste sábado (9), e tentou passar a imagem de “humilde” ao comer pastel com caldo de cana em um barraca e almoçar em um restaurante self-service.
Como de praxe, o chefe do Executivo, sem máscara, causou aglomerações com apoiadores, sem qualquer intervenção da Polícia Militar, que acompanhou tudo de perto, postou para fotos e desfilou em carro com teto solar.
Em dado momento em que estava aglomerado com bolsonaristas, o presidente colocou uma criança em seus ombros. O menino estava fantasiado de militar e fazia gesto imitando uma arma com as mãos – sinal que se tornou uma marca de Bolsonaro e seus apoiadores.
Assista à cena.
– Peruíbe (SP) / 09/10/2021 pic.twitter.com/PTNUaYiVxa
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) October 9, 2021
ONU pede punição
Na última terça-feira (5), o Comitê dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu uma declaração em que condena a exibição de uma criança vestida de policial militar, armada, por Jair Bolsonaro em evento na última semana em Belo Horizonte (MG).
“O comitê condena com veemência o uso de crianças pelo presidente Bolsonaro, vestidas com trajes militares e com o que parece ser uma arma de fogo, para promover sua agenda política, mais recentemente em 30 de setembro de 2021″, diz um trecho do comunicado.
“O Brasil é um Estado parte tanto da Convenção quanto de seu Protocolo Opcional sobre o envolvimento de crianças em conflitos armados, e tem a obrigação de garantir que as crianças não participem de hostilidades ou de qualquer atividade relacionada a conflitos. A circulação de imagens de tais crianças perpetua ainda mais os danos a elas causados e corre o risco de contribuir para a falsa percepção de que o uso de crianças em hostilidades é aceitável”, prossegue.
A declaração lembra que a participação de crianças em hostilidades é explicitamente proibida pela Convenção sobre os Direitos da Criança (Artigo 38) e seu Protocolo Opcional sobre o envolvimento de crianças em conflitos armados (Artigos 1 e 4).
“Isso inclui o uso de crianças em quaisquer atividades relacionadas com conflitos e a produção e disseminação de imagens de crianças envolvidas em hostilidades reais ou simuladas. Tais práticas devem ser proibidas e criminalizadas e aquelas que envolvem crianças em hostilidades devem ser investigadas, processadas e sancionadas”.
O comitê pede a “suspensão imediata e urgente” do uso de crianças com trajes militares para quaisquer finalidades e que sejam removidas todas as imagens dos meios de comunicação, impedindo a distribuição.
O órgão ainda “solicita ao Brasil que se abstenha de cometer no futuro tais práticas que violam os direitos da criança e que divulgue amplamente informações sobre a Convenção e seus Protocolos Opcionais aos profissionais relevantes, bem como ao público em geral”. As informações são da Revista Fórum.