Entre as principais personalidades da história política brasileira, o nome do engenheiro Leonel de Moura Brizola não pode ser esquecido. Neste sábado (22), ele completaria 100 anos.
Herdeiro político de Getúlio Vargas e João Goulart, o Jango, e referência no PTB original, o gaúcho nascido no município de Cruzinha, interior do Rio Grande do Sul, tem uma relevância histórica inquestionável, sendo figura marcante em boa parte dos fatos políticos do século XX no país.
Entre seus principais feitos destacam-se a liderança da Campanha da Legalidade, em 1961, que assegurou a posse do presidente João Goulart, e a participação ativa no movimento Diretas Já, em 1983.
A exitosa Campanha da Legalidade colocou o então governador do Rio Grande do Sul como um dos favoritos para as eleições presidenciais de 1965. O pleito não ocorreu em razão do golpe militar, que forçou a ida de Brizola para o exílio, no Uruguai. Na volta, fundou o PDT, pois foi impedido de reestruturar o PTB por uma manobra dos militares, e governou o Rio de Janeiro por dois mandatos.
“O maior legado de Brizola é a sua coerência política. Muitas vezes inclusive incompreendido. Muitas vezes à frente do seu tempo. No momento em que ele dizia, as pessoas não davam tanta importância. Hoje, muito do que ele disse há 20, 30, 40 anos está aí, batendo na nossa porta. E uma dessas questões é a educação”, menciona a deputada estadual pelo Rio Grande do Sul, Juliana Brizola (PDT), neta do político.
“Hoje é o centenário do herói da pátria Leonel de Moura Brizola”, postou o ex-vereador pelo Rio de Janeiro, Leonel Brizola Neto (PT-RJ), outro herdeiro que seguiu os caminhos da política.
Lula homenageia Brizola: “Figura extraordinária”
O ex-presidente Lula (PT) celebrou o centenário de Brizola. “Ele foi uma das figuras mais extraordinárias da política brasileira. Brizola faz parte da história viva desse país. Foi uma das figuras proeminentes na luta contra o golpe militar de 1964”, destaca.
“A vida inteira do Brizola foi conturbada, porque ele sempre brigou muito para que o povo mais humilde tivesse oportunidade na vida, sobretudo, na questão da educação”, ressalta Lula.
O ex-presidente aponta que todos lembram “da grandeza do Brizola na Campanha da Legalidade. Ele garantiu a posse de João Goulart, que os militares não queriam permitir, depois da renúncia do Jânio Quadros”.
Lula lembra, ainda, da importância de Brizola na tentativa de manter seu partido político. “Ele queria reconstruir seu PTB e o Golbery (do Couto e Silva, general que participou ativamente dos governos militares) deu um golpe, caçando o PTB dele”.
O político gaúcho foi candidato a presidente da República em 1989. “Eu lembro da grandeza do Brizola, quando eu ganhei dele no primeiro turno por 500 mil votos. Ele foi o único político que eu conheço que transferiu 100% dos votos que ele teve para a minha candidatura. Eu não ganhei, mas fiquei em segundo lugar”, lembra Lula.
“Depois, tivemos a disputa de 1994, de 1998, quando o Brizola se dispôs a ser meu candidato a vice. Perdemos outra vez. Mas a esperança continuou e Brizola continuou na vida política, militando e construindo seu PDT e tentando, ainda, mostrar que era possível a gente melhorar a vida do povo brasileiro”, acentua.
“Brizola morreu em junho de 2004. Na verdade, uma figura como Brizola não morre, porque ele certamente estará na mente e nos corações de todas aquelas pessoas que amam o socialismo, que amam o trabalhismo, que acreditam que seja possível um dia a gente construir um país mais justo, mais solidário, onde todos sejam tratados em igualdade de condições”, relata o ex-presidente.
“Eu tive o prazer de conviver com Brizola, de divergir com o Brizola. Mas tenho a dignidade de reconhecer que Brizola faz falta ao Brasil, faz falta à democracia, à política, faz falta à necessidade do debate plural nesse país. Por isso, eu continuo admirando o Brizola e pedindo que todos leiam a vida de Brizola, porque ele servirá de exemplo para muitos brasileiros de hoje e para muitos que iram nascer. Tenho orgulho de ter vivido com Brizola. Eu sei o quanto ele era competente, amigo e leal”, acrescenta Lula.
Conheça a trajetória política de Brizola
Brizola foi eleito deputado estadual pelo PTB, em 1947. Em 1954, se elegeu deputado federal, com uma votação recorde; dois anos depois, foi escolhido pelo povo para ser prefeito de Porto Alegre; e, em 1958, governador do Rio Grande do Sul.
Em 1962, transferiu seu domicílio eleitoral para a então Guanabara, estado pelo qual se elegeu deputado federal. Durante o governo de Jango, este e Brizola mantiveram uma relação tumultuada. Porém, se uniram novamente antes do golpe militar de 1964.
Mudou-se para o Uruguai e só retornou ao Brasil em 1979, depois de 15 anos de exílio no país sul-americano, nos Estados Unidos e em Portugal. No mesmo ano, fundou e presidiu o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Em 1982, foi eleito governador do Rio de Janeiro, iniciando um programa de construção dos Centros Integrados de Educação Pública.
Na eleição presidencial de 1989, por pouco não foi para o segundo turno. Um ano depois, voltou a governar o Rio de Janeiro, sendo eleito no primeiro turno. Brizola morreu em 21 de junho de 2004, vítima de um infarto agudo do miocárdio.
Prefeitura do Rio promove eventos em comemoração ao centenário de Brizola
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), promoveu na quarta-feira (19) a inauguração das comemorações do centenário do ex-governador Leonel Brizola ao lado da Associação Cultural Leonel Brizola, no Palácio da Cidade, sede do governo municipal. No evento, foram exibidos trechos do documentário de autoria do cineasta e historiador Sílvio Tendler sobre o ex-governador.
“Se sou prefeito do Rio, se me inspirei a gostar de política como instrumento de transformação, foi por inspiração do Leonel Brizola. Muito jovem fui tocado pelo movimento das Diretas Já e a figura do Brizola na eleição de 1982, a primeira que acompanhei, quando tinha 12 anos”, disse o prefeito.
“Contem com a prefeitura do Rio para que a memória do Brizola possa ser lembrada e que possa inspirar outras gerações”, completou Paes, que elogiou a luta de Brizola pelos mais pobres, pela educação e pela democracia.
Um teaser do documentário de Silvio Tendler foi exibido nesta quarta. “Fico muito feliz de ter sido convidado e ter tido a confiança da família Brizola para fazer esse documentário. Prometo me empenhar ao máximo para contar, com toda a grandeza, a história de Leonel Brizola”, disse o cineasta. A produção é feita em parceria com a RioFilme.
A Associação Cultural Leonel Brizola, presidida por Leonel Brizola Neto (PT), também vai realizar outras atividades para celebrar o centenário do ex-líder político. Entre as ações previstas está a digitalização do acervo audiovisual do ex-governador em parceria com a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Redação da Revista Fórum.