Sabe aquele sentimento de admiração e orgulho que um filho tem para o seu pai? Pois ele está fortemente presente na agricultura familiar de Capoeira do Milho, no município de Várzea da Roça, no território Bacia do Jacuípe. É a relação de aprendizado mútuo e de generosidade entre o filho, Gerivaldo Santana, conhecido como Geri, 39 anos, e o pai, José Santana, conhecido por seu Zó, 69 anos.
Nessa comunidade, a agricultura familiar cresce a cada dia, graças aos esforços desses dois exemplos de agricultores familiares, munidos de muita força de vontade e interesse pelo conhecimento técnico, para a evolução da produção. Por lá, as principais cadeias produtivas são a mandiocultura e a criação de ovinos.
Mas nem sempre foi assim. Geri, por exemplo, teve resistência de participar da Associação Comunitária de Capoeira do Milho e Lagoa Preta, da qual o pai foi presidente por 19 anos. “Eu não aceitava muito por causa da ausência dele na família, mas com o tempo e começando a ver mais de perto a luta social, passei a dar mais importância para o coletivo. Uma das coisas que aprendi com meu pai é que se pode viver do campo e para o campo, basta algumas mudanças diárias na produção.”
Para contribuir com essas mudanças diárias, Geri fez curso técnico em Agropecuária, em Senhor do Bonfim, prestou assistência técnica para a comunidade e seguiu os caminhos do pai, ao assumir a presidência da Associação, quando fortaleceu o processo de gestão compartilhada em Capoeira do Milho.
Todo esse caminho foi trilhado sempre sob os olhares atentos do pai, que continua tendo um lugar de destaque entre todos da organização, como conselheiro e atual coordenador do fundo rotativo. “Meu pai é um ser que se coloca sempre ao nível dos demais, independente de questões financeiras e culturais. Ele sempre se coloca no lugar do outro, sempre procura ajudar a todos sem pensar no retorno”, conta Geri.
Na questão técnica, é seu Zó que hoje aprende com Geri. Filho de vaqueiro e costureira, a sua liderança sempre foi incentivada pelos pais, a começar dentro de casa cuidando dos irmãos. Graduado na escola da vida e da terra, seu Zó hoje enumera o que aprendeu com o conhecimento técnico do filho. “Eu aprendi com meu filho que é possível buscar os ensinamentos, sem perder as origens. Aprendi mais sobre o manejo das culturas e a criação animal, sempre buscando aprimorar as técnicas, inovar no plantio e no cultivo e entendi que o campo é um espaço também de ganhar dinheiro, além de ser um espaço de sobrevivência”.
Agora, seu Zó é quem tem orgulho da liderança que o filho exerce na comunidade. Na gestão de Geri, o poder se descentralizou da mão de um só, o que deu mais espaço para a participação dos demais agricultores e agricultoras. Hoje, a associação tem coordenadores na roça de mandioca, na casa de farinha, no plantio da palma forrageira, na criação de ovinos e no fundo rotativo solidário. O processo é rentável para a comunidade, que hoje tem produção própria dos subprodutos da mandioca, com renda anual de R$ 15 a 20 mil, transformando a vida dos agricultores.
Dia dos Pais
Esta é uma das histórias marcantes da agricultura familiar baiana para celebrar o Dia dos Pais. Em Capoeira do Milho, os investimentos são de R$ 300 mil, via projeto Bahia Produtiva, executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), com cofinanciamento do Banco Mundial.
Os recursos trouxeram assistência técnica de qualidade, uma unidade multiplicadora de palma adensada, 100 matrizes e quatro reprodutores para o melhoramento genético, além de um veículo tipo pick-up e maquinários para produção forrageira e para a pesagem dos animais. Com informações de assessoria.