O ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes, confirmou na última quinta-feira (20) o plano que quer acabar com a atualização obrigatória do salário mínimo e de outros benefícios, como aposentarias e pensões, que cobre atualmente a inflação do período anterior. Devido a péssima (e óbvia) repercussão, dois dias depois o ministro voltou atrás e prometeu, sem maiores explicações, que o aumento do mínimo seria acima da inflação caso o governo seja reeleito.
Mas o recuo eleitoreiro não tem credibilidade prática, assim como se tem claro na opinião pública, por exemplo, que as reduções dos preços dos combustíveis e o pagamento integral do Auxílio Brasil servem apenas a propósitos eleitorais e logo devem ser reajustados e cortados, respectivamente, em caso de reeleição. Isso fica ainda mais claro quando assistimos a entrevista de Douglas Ferreira, técnico do Dieese, ao jornalista Vinicius Lousada, da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ-CUT). Nela, Ferreira aponta que se o mesmo plano estivesse em vigor desde 2002, o salário mínimo brasileiro estaria, hoje, na casa dos R$ 500.
“É um pacote de maldades que está sendo gestado dentro do governo Federal. Fizemos algumas projeções da correção pela expectativa de inflação e não pelo índice de inflação consumado, desde 2002, e, se o plano Bolso-Guedes viesse a ser implementado lá em 2002 o salário mínimo atualmente seria de cerca de R$ 505, menos da metade do que é. Mesmo assim, sabemos sabemos que o salário mínimo atualmente está aquém das necessidades das famílias”, ponderou Douglas Ferreira. São cerca de 60 milhões de brasileiros que vivem com um salário mínimo em 2022.
Ferreira ainda explica que o Dieese tem uma metodologia para estimar qual seria o salário mínimo necessário para o estabelecimento de uma família de 4 pessoas. Levando-a em consideração o salário mínimo deveria para estar na faixa dos R$ 6 mil, entre cinco e seis vezes o valor estabelecido hoje que é de R$ 1212.
“Diminuindo o salário mínimo em termos reais, você acaba diminuindo em termos gerais a massa de remuneração dos trabalhadores. É uma preocupação não apenas para quem recebe o salário mínimo mas para todos os assalariados de forma geral, estando no mercado de trabalho formal ou informal. Estabelece um precedente bastante perigoso para as negociações salariais, e sabemos que temos muitas negociações que sequer têm conseguido repor os índices de inflação. É muito preocupante termos um projeto de emenda constitucional que desvincule o salário mínimo à inflação mas que também mostra que existe um caminho a ser tomado nas negociações que talvez seja esse de trabalhar com a expectativa futura de inflação e não necessariamente com o índice já consolidado. Vale lembrar que a expectativa de inflação é sempre menor do que a inflação consolidada e, levando em conta que a inflação é mensal e os reajustes salariais são anuais, os salários sempre acabam defasados”, explica o técnico.
Em 2021 a expectativa de inflação estava na casa dos 3,5% e a inflação consolidada em 12 meses foi de 11%. Ou seja, se os salários fossem reajustados pela expectativa de inflação, o poder de compra dos trabalhadores seria ainda mais prejudicado neste ano.
Em contraposição a esse plano econômico o técnico propõe que haja uma política de valorização do salário mínimo. Conforme os salários são valorizados e o poder de compra das massas aumenta, a própria economia do país também pode apresentar mais dinamismo e fluxo, ao contrário do projeto de Guedes que prevê uma concentração cada vez maior entre os mais ricos, que ao invés de gastarem e colocarem o capital em circulação, o acumulam e impede seu reinvestimento social.
Ferreira ainda explica que o índice de inflação é uma média da inflação de determinados produtos básicos em um período. E justamente por serem ‘básicos’, a inflação atinge com mais força os mais pobres, uma vez que gastam uma fatia maior dos rendimentos com os mesmos produtos básicos. Com informações da Revista Fórum.
Assista a seguir a entrevista na íntegra: