Uma nova série de e-mails do tenente-coronel Mauro Cid, obtida pela CPMI dos Atos Golpistas, aponta que o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) tinha em posse os certificados de autenticidade das joias sauditas, supostamente presenteadas à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que ficaram retidas na Receita Federal do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Os novos e-mails se referem justamente às tentativas de Mauro Cid de recuperar as joias e foram revelados pela imprensa. De acordo com os mesmos, Cid digitalizou em 19 de dezembro de 2022 quatro certificados de joias da marca Chopard.
Um dos certificados atesta a autencidade de um anel de 24 diamantes. Outro é sobre o ‘masbaha’, o rosário islâmico cunhado com 110 diamantes. O terceiro certificado é sobre as abotoaduras que levam ao todo 48 diamantes e, o quarto, diz respeito ao relógio cravado com 33 rubis. Este último, inclusive, é tão seleto que só existem 25 iguais em todo o mundo.
Ainda segundo os certificados, o relógio foi adquirido em 16 de março de 2019, enquanto as demais peças (anel, rosário e aboaturas) chegaram às mãos do governo Bolsonaro em 17 de outubro de 2021, apenas 9 dias antes de serem apreendidos na Receita Federal quando o então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tentava passar pela alfândega com as mesmas.
Além disso, também está constatado que as joias foram compradas na loja Attar United, uma autorizada da Chopard em Riad, capital da Arábia Saudita.
Pouco mais de dois meses após a apreensão das joias, ou 9 dias após a digitalização dos seus certificados, em 28 de dezembro de 2022, novos e-mails de Mauro Cid mostram os planos para a primeira tentativa de recuperar as joias, que foram avaliadas em R$ 5,6 milhões na data da apreensão. Neles, o segundo-tenente Cleiton Henrique Holzchuk, que era subordinado de Cid na Ajudância de Ordens, encaminha um ofício para o então chefe da Receita Federal Julio Cesar Vieira Gomes.
“Atendendo demanda recebida do Chefe da Ajudância de Ordens do Presidente da República, Ten Cel Mauro Cesar Barbosa Cid, encaminho o Ofício anexo para conhecimento e providências”, diz o e-mail de Holzchuk. O ofício, por sua vez, determinava que o conjunto de joias “contendo colar, par de brincos, anel e relógio de pulso, conforme certificado de autenticidades da Chopard”, fossem entregues ao primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, que entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2023 depositou R$ 17 mil para Cid.
A viagem de Jairo ao aeroporto de Guarulhos foi sua última a serviço da ajudância de ordens de Bolsonaro. Toda a sua ação no local foi filmada por câmeras de segurança. O militar tentou convencer o servidor a falar pelo telefone com Cid, mas o funcionário se manteve firme e resistiu à carteirada.
Voltando à troca de e-mails, às 17h de 28 de dezembro Holzchuk avisava Cid que Jairo já estava a caminho do Aeroporto de Guarulhos em um avião da Fab (Força Aérea Brasileira), e pede a autorização do ajudante de ordens para adquirir uma passagem de voo comercial para o retorno do primeiro-sargento, prontamente autorizada pelo braço direito de Bolsonaro.
Coaf na cola de Mauro Cid
Um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão responsável por identificar e combater crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, considerou como “incompatíveis” com sua atividade econômica e capacidade financeira, as milionárias movimentações registradas nas contas bancárias do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, durante o período que abrangeu as últimas eleições e os posteriores atos golpistas.
Cid é investigado por suspeita de participação nos atos golpistas que ocorreram ao longo do último período e que culminaram nos ataques a Brasília de 8 de janeiro. O relatório do Coaf foi encaminhado à CPMI dos Atos Golpistas, que investiga esses episódios no Congresso Nacional.
De acordo com o relatório, Mauro Cid movimentou R$ 3,2 milhões em suas contas bancárias pessoais nesse período, que vai de 26 de junho de 2022 a 25 de janeiro de 2023; ao todo, movimentou R$ 1,8 milhão em créditos e R$ 1,4 em débitos. Entre as movimentações que atraíram a atenção do Coaf estão remessas na faixa dos R$ 360 mil enviadas a contas bancárias nos EUA em 12 de janeiro deste ano, apenas 4 dias após os ataques golpistas a Brasília.
“A movimentação de recursos é incompatível com o patrimônio, atividade econômica ou a ocupação profissional e capacidade financeira do cliente”, diz a conclusão do relatório. Mauro Cid está preso desde o último 3 de maio por conta de sua participação no esquema de fraudes em cartões de vacinação que envolvem a família do ex-presidente.
Ele também é investigado pelo caso das joias sauditas, das rachadinhas do Palácio do Planalto e pelos atos golpistas.
Mesmo nessas condições o Exército manteve o pagamento do seu salário integral, que é de R$ 17 mil. A defesa de Mauro Cid diz que seu cliente é inocente e nega haver irregularidades nas transações. No entanto, só irá se manifestar nos autos do processo conforme dito à imprensa. As informações são da Revista Fórum.