A pesquisa da vacina que pode ajudar adictos em crack e cocaína foi premiada em meio milhão de euros nesta quarta-feira (18). Chamada de “Calixcoca”, o imunizante é desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desde 2015.
Conforme a Universidade, as fases pré-clínicas, com testes em camundongos e primatas, demonstraram segurança e eficácia. A ideia é que o imunizante seja usado para tratamento da dependência de crack e cocaína, além de prevenir doenças nos fetos que foram expostos às drogas durante a gravidez.
O próximo passo é começar o ensaio clínico, em humanos, mas ainda não há data de início. Com o prêmio, a equipe leva 500 mil euros para a UFMG, cerca de R$ 2,6 milhões. O prêmio é organizado pela multinacional farmacêutica Eurofarma, e deve ser entregue em até 15 dias. O valor será usado para custear as demais fases da pesquisa.
Além do valor do prêmio, a UFMG também vai receber da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), órgão do Governo de Minas, o valor de R$ 10 milhões para a continuidade dos estudos.
Avanços científicos
O medicamento induz o sistema imune a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea. Essa ligação transforma a droga numa molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica.
O imunizante foi desenvolvido a partir de moléculas modificadas da própria droga. Nos animais, a vacina induziu o sistema imune a produzir anticorpos que se ligaram à droga já presente na corrente sanguínea dos bichos.
Essa ligação aumentou o tamanho das moléculas do entorpecente, impedindo a passagem delas pela barreira hematoencefálica – estrutura que regula o transporte de substâncias entre o sangue e o sistema nervoso central. Sem chegar ao cérebro, o animal não sentiu os efeitos da droga. Os médicos esperam que, desta forma, no teste com humanos, a vontade de consumir crack e cocaína seja drasticamente reduzida.
Segundo o pesquisador Frederico Garcia, mesmo com as possíveis crises de abstinência, a tendência é que a compulsão seja interrompida, o que poderá dar ao paciente mais tempo e condições físicas para seguir com o tratamento contra a dependência.
“Vai ser um medicamento que vai retardar esse reacionamento do sistema de recompensa, que é o que leva a dependência. Então, a gente permite o paciente ganhar um tempo entre a abstinência e retomar a vida dele, fazendo com que as recaídas, quando elas acontecem, elas não liguem de novo esse sistema e façam com que ele tenha de novo a compulsão pela droga”, explica Frederico Garcia.
Para testar em humanos, os pesquisadores precisam do sinal verde da Anvisa. O pedido ainda não foi enviado. Os pesquisadores acreditam que com os recursos financeiros necessários, o trabalho pode ser concluído em dois ou três anos.
“Se o Brasil sair na frente, desenvolvendo uma vacina que inclusive possa proteger os bebês, a gente está prevenindo vários outros agravos à saúde desse bebê, e vários outros problemas de saúde pública e de saúde de inteligência, de saúde geral a longo prazo”, diz a neuropediatra. As informações são do portal g1/MG.