“Hoje começa o fim da decadência Argentina. Hoje começa a reconstrução da Argentina”, discursou Milei após divulgação de sua vitória na corrida presidencial em Buenos Aires, neste domingo (19). Javier Milei é o primeiro economista eleito presidente da Argentina ou, como ele anunciou ao vencer, o primeiro “libertário presidente do mundo”.
Com 55,7% dos votos, o ultraliberal Javier Milei superou o peronista Sergio Massa por 11,5 pontos percentuais. Mas a força das urnas contrasta com a sua novata força política, sem estrutura partidária e frágil no Congresso para passar as reformas estruturais e as medidas mais polêmicas que prometeu.
Outro grande vencedor por trás da vitória de Javier Milei é o ex-presidente Mauricio Macri, em quem Milei deve se apoiar para a governabilidade. Esta semana, começa um breve período de transição até a posse de Milei, prevista para 10 de dezembro. Até lá, ele vai precisar dar sinais claros ao mercado, inquieto quanto à promessa de dolarização da economia.
A vitória de Javier Milei
Javier Milei ganhou em 21 das 24 províncias argentinas e ganhou com, pelo menos, quatro pontos a mais do que as pesquisas indicavam. Os analistas previam que se a participação dos eleitores superasse os 70% de comparecimento às urnas, mais chances Milei teria de ganhar, porque esse era um voto opositor. Dados finais revelam que 76,3% dos eleitores compareceram às urnas.
Foi a carreira mais meteórica da história argentina para chegar à Presidência. Em apenas dois anos, o economista, de 53 anos, passou de participações em programas de TV e noticiários a deputado e, de deputado, agora chega ao cargo de presidente.
Mas esse pulo tão rápido ao poder tem o seu preço: Milei não tem estrutura partidária, não tem nem quem preencha os cargos do seu governo e não tem experiência em nenhum posto executivo do Estado. Por outro lado, foi justamente esse caminho por fora da política tradicional que levou os argentinos a experimentarem o “novo”. O voto popular demonstra um cansaço com o sistema partidário tradicional.
Nas palavras do consultor Jorge Giacobbe, a decisão dos argentinos tem algo entre a loucura e a prudência, “a sociedade preferiu um louco para romper com o sistema e para representar uma verdadeira mudança”. Mas o voto na “loucura” é tem seus motivos. O candidato derrotado, Sergio Massa, é o atual ministro de uma economia com 143% de inflação, que ruma a 180% no ano, contabilizando 42% de pobreza no país.
Comemoração pelas ruas
Milhares de pessoas foram às janelas celebrar assim que Sergio Massa admitiu a derrota. Pelas ruas, houve duas concentrações principais: no obelisco no centro de Buenos Aires, onde os argentinos tradicionalmente se reúnem para festejar vitórias; e em frente ao hotel que Javier Milei transformou em seu comitê de campanha.
Era uma maré de militantes com as bandeiras nacionais que gritavam lemas de Milei a favor da liberdade e contra a casta política. A maioria era de jovens, faixa etária prejudicada pelos elevados índices de desemprego em meio do caos econômico do país.
Javier Milei discursou para a multidão e avisou que haverá resistência nas ruas com protestos de sindicatos e de organizações sociais que, na Argentina, respondem ao peronismo. O analista Jorge Giacobbe prevê que o peronismo, com o objetivo de desgastar o novo governo, resista a qualquer reforma de Javier Milei.
O presidente eleito avisou no discurso que a saída econômica não será gradual. O que vem pela frente, disse Milei, “são mudanças drásticas porque a situação da Argentina é crítica”.
Processo de transição
O presidente Alberto Fernández convocou o presidente eleito Javier Milei para uma primeira reunião nesta segunda-feira (20) para tratar da transição. O contexto para os próximos 19 dias de transição é frágil. O próprio Milei acredita que se não houver rapidamente mudanças estruturais, a Argentina vai à pior crise da sua história, com risco de hiperinflação.
O derrotado ministro da Economia, Sergio Massa, disse que, a partir de agora, a tarefa de transmitir certezas e garantias é responsabilidade do presidente eleito. Javier Milei rebateu advertindo que é do governo a responsabilidade até o final do mandato no próximo dia 10.
Ainda não se sabe se o ministro Sergio Massa pedirá uma licença do cargo.
Qual é o principal desafio imediato de Javier Milei?
Para o analista político, Patricio Giusto, o “outsider” que chegou ao poder criticando a casta política agora precisa dela para governar e para aprovar medidas. Acontece que o peronismo, principal força no Congresso, promete resistir.
A vitória de Javier Milei foi contundente nas urnas, mas o novo governo será frágil no Congresso. Segundo Patricio Giusto, o sistema político argentino entra numa fase de reconfiguração. O partido de Milei, A Liberdade Avança, tem apenas 38 dos 257 deputados e 7 dos 72 senadores. O partido não tem governadores.
prometida revolução liberal de Javier Milei vai depender de acordos e da ajuda de outras forças moderadas, assim como também dependeu, para derrotar o peronismo, dos apoios do ex-presidente Mauricio Macri e da candidata derrotada no primeiro turno, Patricia Bullrich.
Um grande vencedor desta eleição é Mauricio Macri. Foi graças a Macri que Milei ganhou. Não só pela transferência de votos, mas com a fiscalização contra fraudes. A partir de agora Milei vai depender desse apoio para garantir a governabilidade e nomes de Macri devem compor o novo governo.
Reação dos mercados com Milei vencedor
Agora falta o veredito dos mercados à vitória de Javier Milei. Nesta segunda-feira é feriado na Argentina. No exterior, devem subir ações e títulos públicos.
Há previsões de que na terça-feira (21) o valor do dólar deve aumentar, já que Javier Milei prometeu dolarizar a economia argentina, substituindo o peso pelo dólar. Mas esse processo é lento, requer dólares que a Argentina não tem, requer a aprovação dos Estados Unidos e requer uma mudança constitucional para a qual não existe maioria parlamentar.
Dois terços dos argentinos não querem a dolarização e nem mesmo o ex-presidente Mauricio Macri quer esta medida. Para levar tranquilidade aos mercados, Javier Milei terá de anunciar a sua equipe econômica, mas fica a questão sobre qual será o grau de autonomia de um ministro da Economia, quando o próprio presidente é economista e que diz ter a receita para acabar com a inflação. As informações são do site UOL.
Eleições na Argentina: Milei em 1º discurso após ser eleito: ‘Hoje começa a reconstrução’. Vídeo: