Bastaram apenas dois dias desde sua posse para que Javier Milei, o novo presidente da Argentina, abandonasse uma de suas promessas mais histriônicas de campanha: a de não se relacionar com “países comunistas”. O ultraliberal quer a ajuda da China, hostilizada durante toda a campanha eleitoral, para pagar o FMI (Fundo Monetário Internacional), além de outras obrigações.
Segundo o site Infobae, Milei encontrou-se ontem (11) com Wu Weihua, enviado por Pequim para sua posse no domingo (10), e lhe entregou uma carta endereçada ao presidente chinês, Xi Jinping. Trata-se de um pedido para que a China renove o acordo de swap cambial que mantém com a Argentina.
Caso o pedido seja aceito, Milei poderá converter parte das reservas em yuanes, a moeda chinesa, em dólares para pagar uma parcela do empréstimo concedido pelo FMI, bem como quitar importações.
O acordo de swap cambial foi selado entre os dois países em 2009, quando Christina Kirchner presidia a Argentina. Desde então, foi renovado cinco vezes. Inicialmente, a parceria visava apenas pagar as transações bilaterais, dispensando a necessidade de converter yuans e pesos argentinos para o dólar.
Foi durante o governo de Maurício Macri, que se tornou um dos grandes fiadores do governo de Milei, que os swaps chineses ganharam uma nova função. Em 2017, logo após assumir a presidência, Macri autorizou o Banco Central da Argentina (BCRA) a converter parte dos yuanes em dólares para quitar compromissos e recompor as reservas internacionais.
A partir daí, esses derivativos de câmbio passaram a ser cada vez mais importantes para estabilizar a moeda e sossegar o mercado. O problema é que a Argentina precisa negociar autorizações especiais da China, sempre que recorre à conversão de yuanes em dólares para quitar outros compromissos, que não sejam o pagamento das importações chinesas.
Milei pede ajuda à China: Suspense sobre empréstimo de US$ 5 bilhões
Um problema adicional para Milei é que, como a balança comercial é favorável à China, mesmo o acordo de swap cambial encontra-se, atualmente, deficitário do lado argentino. Traduzindo: o BCRA não conta com yuans suficientes para pagar converter em dólares e pagar o FMI.
Pouco antes de encerrar seu mandato, o então presidente Alberto Fernández fechou um acordo para Pequim emprestar o equivalente a US$ 5 bilhões. Xi Jinping, contudo, decidiu reter a remessa do dinheiro até o desfecho das eleições argentinas.
Assim, além de pedir permissão dos chineses para converter yuanes em dólares, Milei precisa, também, convencê-los a liberar os US$ 5 bilhões prometidos a Fernández. Para quem passou a campanha toda hostilizando o maior parceiro comercial da Argentina, e prometendo que não manteria relações institucionais com “comunistas” ou que não seguissem o ideário da democracia liberal, Milei está tomando um choque de realidade.
Economistas e analistas políticos argentinos dão como certa a concordância da China, que tem se comportado e modo muito pragmático para expandir sua influência global. De qualquer modo, a situação deixará uma amarga lição para o anarcocapitalista que comanda nossos vizinhos. As informações são da MoneyTimesBr.