O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), desmaiou ao ser preso preventivamente na tarde desta sexta-feira (22) por obstrução à Justiça e descumprimento das medidas cautelares que lhe permitiam responder processos em liberdade, após 4 meses de reclusão.
De acordo com a colunista Natuza Nery, socorristas tiveram que entrar na sala para auxiliá-lo, mas ele conseguiu se recuperar.
O militar foi preso novamente após uma audiência sobre os termos da delação premiada fechada com a Polícia Federal (PF). A validade da colaboração ainda está sob análise, segundo a assessoria de comunicação do Supremo Tribunal Federal (STF).
Mauro Cid foi ouvido nesta sexta-feira em audiência que durou cerca de 30 minutos e aconteceu no STF. De lá, ele foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) da PF, também em Brasília, para exame de corpo de delito, comumente realizado em pessoas detidas antes de serem levadas para uma cela.
Cid ficará no Batalhão do Exército, mesmo lugar onde esteve preso anteriormente, no âmbito da operação que apura a inserção de informações falsas de doses da Covid-19 em cartões de vacinas de familiares dele, de Bolsonaro, da filha do ex-presidente e de dois seguranças.
Cid foi convocado para audiência com um juiz auxiliar do gabinete do ministo Alexandre de Moraes após a revista Veja divulgar, na noite de quinta-feira (21), áudios do ex-assessor de Bolsonaro criticando a PF e Moraes. Nos áudios, Mauro Cid diz que foi pressionado a confirmar episódios que não teriam acontecido ou sobre os quais nada sabia.
Moraes é o relator do inquérito que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado e que tem Cid como colaborador. Em fevereiro, a PF fez uma operação contra Bolsonaro, generais e ex-ministros para apurar suposto envolvimento em um plano que visaria impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para manter o ex-presidente no poder.
A audiência de Cid também aconteceu após o indiciamento dele por associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação na investigação sobre a fraude na carteira de vacinação de Bolsonaro e de sua filha Laura. Ao todo, 17 pessoas foram indiciadas, incluindo bolsonaro.
Mas Cid é acusado não só pelos delitos ligados aos documentos falsos do ex-presidente, mas também por conseguir fraudar comprovantes de imunização contra a Covid-19 para sua mulher Gabriela e suas filhas. O ex-ajudante de ordens confessou os crimes em dleação premiada.
Ainda na noite de quinta-feira, logo após publicação da reportagem da Veja com os áudios de Mauro Cid, os advogados dele disseram que tudo não passava de “desabafos”. Para a defesa, as declarações de enviadas pelo militar a um amigo por meio de Whatsapp “não comprometem a lisura, seriedade e correção” da delação firmada pelo militar com a PF, sob respaldo da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do STF.
Mauro Cid fala em ‘narrativa pronta’
De acordo com a reportagem da Veja, a gravação em que Mauro Cid ataca a PF e Moraes foi realizada na semana passada, depois que o tenente-coronel prestou depoimento à PF no último dia 11, e que durou 9 horas.
O militar diz que os inquéritos já têm “narrativa pronta”. Afirma que foi pressionado a relatar fatos que não aconteceram e a detalhar eventos sobre os quais não tinha conhecimento. “Eles (os policiais) queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu”, disse em um primeiro áudio.
“Não adianta. Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, completou.
“Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: Ó, a sua colaboração está muito boa’. Ele (o delegado) até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só essa brincadeira são trinta anos para você’.”
Mauro Cid diz que a ‘a lei já acabou’
Em outro áudio, Mauro Cid critica Alexandre de Moraes, dando a entender que o ministro, que é relator de diversos casos no STF que miram o ex-presidente, quer prender Bolsonaro a qualquer custo.
“A lei já acabou há muito tempo. Eles são a lei. O Alexandre de Moraes é a lei. Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, diz.
O tenente-coronel ainda fala para o amigo que a PF tem feito uma filtragem das informações que estão sendo oficializadas na delação. Segundo Cid, um encontro entre Moraes e Bolsonaro, não foi registrado nos depoimentos.
“Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale? Eu não vou botar no papel porque senão eu vou me f*****, mas o presidente encontrou secretamente com Alexandre de Moraes”.
As críticas contra Moraes continuam, com o Cid dizendo que o ministro do STF “já tem a sentença dele pronta”. “Acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo”.
‘Bolsonaro ficou milionário’ e ‘eu me f****”, diz Mauro Cid
Ainda nos áudios, Mauro Cid fala da mágoa em ser tratado como “traidor” e ter o nome envolvido em manchetes diariamente. “Quem mais se f**** fui eu. Quem mais perdeu coisa fui eu. Pensa todo mundo aí. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né?”.
Ele também reclama de Bolsonaro ter ficado “milionário” com a ajuda de apoiadores. “O presidente teve Pix de milhões, ficou milionário, né? “Para político é até bom essas p***** porque eles até conseguem se eleger fácil. O único que teve pai, filha, esposa envolvido, o único que perdeu a carreira, o único que perdeu a vida financeira toda fui eu”, desabafou.
Para explicar o motivo que fechou o acordo de delação premiada, o tenente-coronel fala que senão fizesse isso, iria pegar “30, 40 anos de prisão porque eu estou em vacina, eu estou em joia”. Ele ainda acredita que as investigações vão continuar avançando e todos que estão de certa forma envolvidos vão ser condenados.
“Vai entrar todo mundo em tudo. Vai somar as penas lá, vai dar mais de 100 anos para todo mundo. A cama está toda armada. E vou dizer: os bagrinhos estão pegando 17 anos. Teoricamente, os mais altos vão pegar quantos?”. As informações são do site O Tempo.