A osteoartrite, também conhecida como artrose ou osteoartrose, é a doença reumática mais comum no país, representando de 30 a 40% das visitas ao reumatologista. Também é responsável por 7,5% dos afastamentos do trabalho, além de motivar cerca de 6% dos pedidos de aposentadoria de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
A doença a tende progredir com o tempo e pode incapacitar algumas articulações, deteriorando significativamente a qualidade de vida da pessoa. Por isso, há uma busca incessante de pesquisadores e cientistas da área da saúde por novas abordagens para lidar com a artrose.
Nesse sentido, a Cannabis tem atraído as atenções da comunidade científica e dos profissionais da saúde para lidar com a osteoartrite. Estudos realizados anteriormente observaram uma desregulação do sistema endocanabinoide na fisiopatologia da artrose, sugerindo que a utilização dos canabinoides da planta pode trazer benefícios como o alívio da dor e a redução da inflamação na área afetada.
Nesse cenário de busca por novas alternativas, um grupo de pesquisadores ingleses realizou uma análise sobre pacientes diagnosticados com osteoartrite e que utilizavam medicamentos com Cannabis para lidar com a condição.
Os resultados foram animadores, com pacientes relatando uma redução duradoura nas dores, trazendo consequentemente uma melhor qualidade de vida para essas pessoas.
As dores causadas pela osteoartrite
Frequentemente associada ao envelhecimento, a osteoartrite acontece quando as cartilagens que protegem as articulações se desgastam. Assim, o que antes eram movimentos feitos com naturalidade passam a causar dor e desconforto. Seria como se a dobradiça de uma porta estivesse enferrujada e o movimento de abrir e fechar se torna mais difícil com o passar do tempo.
Ainda não existe uma cura conhecida para a artrose, porém podemos contar com algumas abordagens para lidar com essa condição. Primeiramente, os médicos recomendam algumas medicações com o objetivo de limitar a progressão da doença. Essa medicação geralmente é aliada a outras estratégias, como o fortalecimento muscular e o controle do peso.
Também é comum a prescrição de medicamentos para reduzir as dores e a inflamação na articulação. Os anti-inflamatórios não esteroides costumam ser uma opção inicial, mas a evolução do quadro pode fazer o médico prescrever medicamentos mais fortes, como opioides.
Devido ao grande potencial para dependência dos opioides, a Cannabis tem sido observada com bons olhos principalmente pela capacidade de combater a dor.
O estudo Assessment of Clinical Outcomes in Patients With Osteoarthritis: Analysis From the UK Medical Cannabis Registry foi publicado na revista científica Journal of Pain & Palliative Care Pharmacotherapy recentemente.
Os pesquisadores analisaram os efeitos do tratamento com Cannabis em 77 pacientes com osteoartrite ao longo de 12 meses com as informações do Registro Médico de Cannabis do Reino Unido (UKMCR na sigla em inglês).
Cada paciente recebia uma dose personalizada, a depender de alguns fatores como idade, gravidade da condição e tolerância ao medicamento. De uma forma geral, os produtos eram para uso oral, sublingual ou inalado. Os principais benefícios observados na análise foram:
• Redução nas dores;
• Melhora da qualidade de vida;
• Melhor qualidade do sono;
• Redução da ansiedade.
É importante notar que, embora a maioria dos pacientes tenha tolerado bem o tratamento, alguns relataram efeitos adversos. No entanto, a maioria desses eventos foi leve a moderada, destacando a segurança do uso da Cannabis como complemento ao tratamento para a osteoartrite.
Na conclusão do estudo, os pesquisadores destacaram os resultados positivos relacionados ao alívio da dor nos pacientes.
“Estes resultados sugerem uma melhoria nos resultados relacionados com a dor em pacientes com osteoartrite após o início do tratamento com medicamentos à base de Cannabis. Além disso, houve uma melhoria nas métricas gerais de qualidade de vida ao longo do período de acompanhamento. Os medicamentos à base de Cannabis também pareceram ser bem tolerados no acompanhamento de 12 meses.”
Apesar dos resultados promissores do estudo, é fundamental que mais pesquisas aconteçam, especialmente estudos clínicos. Dessa forma, será possível entender como a planta pode ser mais eficaz no tratamento da dor na osteoartrite.
Impacto da Cannabis na qualidade de vida dos pacientes
Como vimos nos resultados do estudo britânico, a interação dos canabinoides da planta com o nosso sistema endocanabinoide trouxe melhorias que foram além do foco do tratamento. Mais do que reduzir as dores, os pacientes viram uma melhora mais abrangente na sua qualidade de vida, principalmente na redução da ansiedade e da insônia.
Isso acontece porque os compostos da planta interagem com o sistema endocanabinoide, regulando uma série de processos fisiológicos, como a resposta à dor, o humor e os ciclos do sono. Ao mesmo tempo, os produtos com Cannabis têm a capacidade de complementar o tratamento, reduzindo a exigência de remédios contra a dor e, em alguns casos, substituindo-os.
Essa mudança para uma medicação com menos efeitos colaterais também impacta positivamente na qualidade de vida dos pacientes.
Opinião de reumatologista sobre o uso da Cannabis na osteoartrite
Em 2022, tivemos uma LIVE do Portal Cannabis & Saúde sobre o uso da planta para tratar doenças reumáticas. O convidado que participou do bate-papo foi o reumatologista Victor Verztman e ele destacou já naquela época a eficácia dos canabinoides nas condições reumatológicas e o efeito holístico que o estudo britânico apontou.
“Muitas condições reumatológicas podem levar à dor crônica, que causa muita limitação da qualidade de vida. Então, a Cannabis vem sendo estudada e aplicada como um possível medicamento para auxiliar nessas condições de dor crônica, melhorar a qualidade de vida, melhorar o sono, o humor, a disposição e a própria dor em si.”
Um outro fator determinante para a qualidade de vida de quem tem artrose é a prática de atividade física. O Dr. Victor Verztman também destacou na LIVE a importância dessa mudança na rotina dos pacientes.
“É importante sempre lembrar que o tratamento não-medicamentoso vai ser muito importante. Então, atividade física regular é fundamental, exercícios de alongamento, fortalecimento das articulações e da musculatura. Às vezes a psicoterapia vai ser importante, se houver questões de humor associadas, a ansiedade, depressão.” As informações são do site Caderno Baiano.