Em resposta à crise dos transportes públicos em Salvador, organizações da sociedade civil se uniram para lançar a campanha “Devolva Meu Buzu”, denunciando os cortes de linhas de ônibus na cidade. A iniciativa visa pressionar o prefeito Bruno Reis a reverter a situação, devolvendo parte das linhas suprimidas, além de renovar a frota.
A população de Salvador sofre com a péssima qualidade do transporte coletivo por ônibus, reflexo da constante redução da frota e dos cortes de linhas, somada às condições precárias dos veículos e da caríssima tarifa cobrada dos usuários. Nos últimos 4 anos, segundo levantamento feito pelo pesquisador Pablo Florentino, professor do Instituto Federal da Bahia, em conjunto com jornalistas do Observatório da Mobilidade de Salvador, foram extintas mais de 100 linhas de ônibus – em sua maioria na periferia da cidade. Os números mostram também que, na última década, houve a exclusão de quase 700 veículos da frota e que a vida útil de 49% dos ônibus que circulam em Salvador é superior ao máximo definido nos TACs encaminhados pelo Ministério Público da Bahia.
Segundo Erica Telles, coordenadora do Observatório da Mobilidade de Salvador, essa situação agravam o quadro de pobreza e segregação na cidade. “Além de obrigar parte da população a gastar com transporte individual, a fim de evitar os ônibus lotados, quentes, sujos, barulhentos, sem conforto e nenhuma dignidade. Caso Bruno Reis não recomponha a frota e as linhas de ônibus imediatamente, em breve teremos uma cidade imóvel, degradada e ainda mais desigual”, explica ela.
Juan Moreno Delgado, doutor em Engenharia de Transportes e líder do grupo de pesquisa CETRAMA (Centro de Estudos de Transporte e Meio Ambiente da UFBA), lembra que, somente no ano de 2024, mais de 205 milhões de reais poderão ser transferidos do orçamento municipal para subsidiar o transporte público. Entretanto, quando comparado com a década de 90, hoje o sistema tem 60% a menos de usuários. “Boa parte dos usuários migrou para outros meios de transporte ou se encontra em situação de imobilidade urbana. A população não sai mais dos seus bairros ou tem de se aventurar sobre mototáxis para poder acessar serviços e trabalhos. Muitos se endividam usando os carros por aplicativos que não é uma forma sustentável de deslocamento, mas tem sua demanda ampliada.Enquanto isso, os rodoviários são demitidos”, afirma Juan.
Otávio Leme, diretor da Associação Cultural e Esportiva da Comunidade de Canabrava, entende a campanha “Devolva Meu Buzu” como um movimento de urgência. “Há muitos anos observamos a insatisfação da população com o transporte público de Salvador. Está cada dia mais difícil circular pela cidade. São muitas integrações agora, pessoas idosas sofrem muito. Além do mais, é comum que linhas mudem ou sumam, as pessoas ficam perdidas. Essa campanha é importante na busca por reverter a situação”, comenta ele.
“Devolva Meu Buzu” é uma campanha suprapartidária que conta com a assinatura das organizações da sociedade civil: Observatório da Mobilidade de Salvador; Buzu Ponto Com; Gambá – Grupo Ambientalista da Bahia; Associação Cultural e Esportiva da Comunidade de Canabrava; Sindicato dos Rodoviários; Articulação do Centro Antigo de Salvador; Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto da Bahia (MSTB); Mobicidade; Centro de Estudos de Transportes e Meio Ambiente (CETRAMA/UFBA); Centro Acadêmico de Urbanismo (UNEB); União da Juventude Comunista (UJC); Escritório Bákó; Coletivo Educar na Luta; Manifesta Coletiva; Pajeú – Resistência em Movimento e Mocambo. As informações são de assessoria.