O líder religioso Gilberto Tito de Araújo, conhecido como Damaré, responsável pelo Terreiro de Jarê Peji da Pedra Branca, em Lençóis, denuncia que agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) teriam invadido e destruído a propriedade em uma ação realizada sem diálogo com a comunidade e órgãos municipais.
Em denúncia que chegou ao Bahia Notícias, ele relata que recebeu a notícia da invasão no último domingo (21) por moradores da região. Desesperado, Damaré dirigiu-se imediatamente ao local e, ao chegar, encontrou a porteira quebrada e “constatou que o trabalho de uma vida inteira de dedicação, devoção e fé havia sido destruído em um único dia”. Damaré lidera o terreiro de Jarê Peji da Pedra Branca, construído na roça que pertencia a seu pai, Albertino Francisco de Araújo. Esta terra está sob posse da família há mais de 45 anos, localizada na região denominada Curupati, dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina.
O jarê é uma religião de matriz africana existente somente na Chapada Diamantina, cuja simbologia foi retratada no livro Torto Arado, romance escrito em 2019 pelo autor baiano Itamar Vieira Junior.
“O espaço sagrado não foi respeitado e foi completamente destruído por uma ação de cunho racista conduzida por um órgão federal. No mesmo terreno, existe uma construção que serve de moradia, que permaneceu intacta. O ICMBIO destruiu apenas o terreiro, um fato que demonstra ainda mais o preconceito e a discriminação racial envolvida na ação”, diz trecho da denúncia. A responsabilidade da operação foi atribuída a César Gonçalves, chefe do Parque Nacional da Chapada Diamantina.
“Esta ação não só desconsiderou a história e os direitos da família de Damaré, mas também demonstrou um desrespeito flagrante pelas tradições e a religiosidade de uma comunidade que há décadas contribui para a diversidade cultural e espiritual do Brasil. A destruição do terreiro representa uma perda irreparável para a comunidade de Lençóis e para a cultura brasileira como um todo. Além da destruição de aproximadamente 15 casas em uma região que reside mais de 35 famílias”, afirma o texto.
A prefeita do município, Vanessa Senna (PSD), repudiou o ato e ressaltou que exigirá uma investigação rigorosa e a responsabilização dos agentes envolvidos nesta ação. Ela também frisou que já foi solicitada uma reunião com o responsável pelo parque e pela ação para que devidos esclarecimentos à comunidade sejam prestados, uma vez que nem o município e nem os moradores nunca foram notificados e nunca ocorreu nenhum tipo de diálogo. “É inadmissível tamanha covardia ficar sem resposta. Me solidarizo com todas as famílias atingidas”, disse a prefeita. A gestora pontuou que a Prefeitura estará à disposição para ajudar no que for necessário. As informações são do site Bahia Notícias.