O Jarê, manifestação religiosa tradicional da Chapada Diamantina, passa a integrar oficialmente o Patrimônio Cultural do Brasil. A decisão foi tomada pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) durante a 111ª reunião do órgão, realizada nesta quarta-feira (26). O reconhecimento contempla o Terreiro Palácio de Ogum e Caboclo Sete Serras, localizado em Lençóis, considerado um dos espaços mais emblemáticos da tradição.
O tombamento ultrapassa a dimensão material. Segundo o parecer técnico apresentado ao IPHAN, o Palácio de Ogum representa um lugar de práticas religiosas, memórias coletivas, narrativas orais e modos de vida que configuram o Jarê em sua forma tradicional. O documento também destaca que o terreiro funciona como centro de preservação de saberes e identidades que atravessam gerações.
Guardião da tradição
A decisão ressalta a importância de Pedro de Laura, figura central na condução da casa e reconhecido como guardião das práticas, cânticos, rezas e rituais que estruturam o Jarê na Chapada Diamantina. Sua atuação tem sido fundamental para manter viva a tradição, mesmo diante do avanço urbano e das transformações socioculturais da região.
O IPHAN enfatiza que o reconhecimento não se limita ao espaço físico, mas abrange o conjunto de expressões e práticas afro-indígenas que constituem o Jarê, incluindo sua oralidade, música, dança, rezas, rezadeiras, entidades espirituais e celebrações festivas.
Entre fé, história e identidade
O parecer também aproximou o terreiro das dinâmicas históricas do antigo território garimpeiro, relacionando o Jarê às festas de setembro, marujadas, ternos de reis, filarmônicas e romarias tradicionais, especialmente durante a Festa de Senhor dos Passos, realizada em cidades como Lençóis, Mucugê, Andaraí e Palmeiras.
Para a comunidade local, o tombamento é a confirmação de um valor que sempre esteve presente na convivência e nas práticas cotidianas. Mais do que um espaço religioso, o Palácio de Ogum representa espiritualidade, patrimônio vivo e identidade cultural da Chapada Diamantina.
Jornal da Chapada






















































