Por Raul Monteiro*
Há algo de muito mal contado nas conversas ocorridas na última sexta-feira para a definição da candidatura das oposições à sucessão do governador Jaques Wagner (PT). Tudo começa com o posicionamento assumido pelo ex-governador Paulo Souto (DEM) a respeito do pleito. Era o democrata que, naquele dia, concentrava toda e qualquer expectativa com relação à sua decisão sobre as próximas eleições estaduais, tanto na oposição quanto na situação, desejosa de saber o quanto antes quem será o candidato que se confrontará com o PT em outubro.
Pois bem. Souto disse ao prefeito ACM Neto (DEM), que assumiu naquela data a coordenação das conversações no seio das oposições a respeito da sucessão estadual, que topava ser candidato a governador. Era o fato novo, que deveria ter sido imediatamente informado, mas não o foi. Por que será? Desde o princípio das discussões no campo oposicionista a respeito da sucessão, a imprensa acostumou-se a conviver com informações, não contestadas por nenhuma das partes, de que havia um acordo entre DEM, PSDB e PMDB pela escolha de um único nome do grupo para disputar as eleições.
Era a promessa da unidade que se construía na perspectiva de os três partidos marcharem unidos, indicando os seus melhores quadros para a chapa que se encarregaria de enfrentar o projeto de perpetuação no poder do PT baiano. Por causa de sua posição de liderança nas pesquisas de intenções de voto ao governo, do fato de pertencer ao DEM, partido do prefeito, e do impulso que as mesmas consultas apontavam que poderia ganhar com o apoio de ACM Neto ao seu nome, Souto, desde o princípio, aparecia como a principal aposta da trinca para o governo.
Mas o ex-governador, fiel ao seu estilo reservado e muito cauteloso, evitava se posicionar. A pressão sobre a definição em cima dele aumentou depois que o PT escolheu o chefe da Casa Civil do governo Jaques Wagner, Rui Costa, para disputar as eleições. Para evitar que o grupo oposicionista se desfizesse, ruindo a unidade, acordou-se então que o ex-governador teria que se decidir, mesmo que não anunciasse oficialmente sua posição. E o prazo para a decisão acabou sendo marcado para o dia 31 de janeiro, transcorrido, por acaso, na última sexta-feira.
Desde então, os líderes das oposições, incluindo o próprio Souto, entraram num mutismo desconcertante. Para eles e a sociedade. Principalmente porque já se sabe que “sim” teria sido a resposta de Souto ao questionamento de ACM Neto sobre se topava ser o candidato das oposições. Ante a decisão de Souto, só restava comunicá-la, mesmo que o acordado fosse deixar o anúncio oficial do posicionamento do ex-governador para depois do Carnaval, quando o noticiário de agora diz que aconterá a definição do candidato oposicionista.
Mas, por que, afinal, calam-se todos, anunciando apenas que a escolha foi protelada para depois da festa de Momo? Não era o posicionamento de Souto que era aguardado na última sexta-feira, não era dele que se queria ouvir se seria ou não candidato para então se proceder a montagem da chapa com DEM, PSDB e PMDB? A menos que a decisão afirmativa de Souto quanto à candidatura tenha precipitado alguma outra que contraria o que a imprensa habituou-se a tratar como acordo, faz algum sentido este estranho silêncio geral.
*Artigo publicado originalmente hoje no jornal Tribuna da Bahia.