Por Jolival Soares*
Quando Galileu Galilei deu qualidades primárias às coisas – as que podiam ser mensuradas, medidas, pesadas – a estas chamou-as de grandezas objetivas. As que não podiam, como bonito, feio, alegre, triste – as adjetivas – chamou-as de grandezas subjetivas. Foi terrivelmente mal interpretado e, até hoje, a madrasta ciência subverte nestas escalas de valores. Vejam: sentimentos que nos caracterizam profundamente como seres humanos, como o amor, o perdão, a graça, a misericórdia, por não serem possíveis de serem mensurados com o instrumental da ciência, não têm então importância ou sentido?
A física clássica – de Newton, Faraday, Rutherford, Franklin – nos dotou de instrumentos mil, que nos possibilita medir coisas pequenas com o paquímetro e, com poderosos telescópios gigantes, as estrelas. Isto quando medimos a matéria, a partir do seu núcleo básico – o átomo, de dentro para fora.
Mas, quando precisamos medi-lo de fora para dentro, ou seja, em direção ao “nível subatômico”, não há equipamento possível, pois, à medida que nos aproximamos do objeto observado, este interage com o olho do observador e passa a trocar elétrons, e esta descoberta gigantesca, verdadeiro marco teórico no caminhar do homem rumo ao desconhecido, nos mostrou que o homem, com a sua consciência de que tem uma consciência, resgatou para si, via física subatômica ou quântica, a sua dignidade como co-criador de “sua realidade” e criador do seu próprio futuro.
Hoje sabemos que a consciência humana consegue, inclusive, alterar até mesmo as propriedades da matéria. Então, não pode ser verdade que tem valor para a ciência apenas “as grandezas mensuráveis – as objetivas”.
Ao contrário, o que não se vê é que é o mais importante. Seria então este o motivo de Cristo ter dito a Tomé: não sejas incrédulo, mas crente, enxergue não só com os olhos da face, mas também com os olhos do espírito, olhos da alma!
Mas, considera-se hoje, a maior de todas as desgraças que se abateu sobre a nobre ciência, o fato de deixar de ser escrita nas línguas clássicas como o grego ou o latim.
Estas línguas, pelas suas riquezas semânticas, permitiam o livre pensar e expressar com vigor os pensamentos dos homens verdadeiramente dignos da nossa admiração e louvor. A ciência que se escrevia em latim criou, ao redor do mundo, um público diferenciado e que se comunicava livremente entre os que escreviam e os que lhes liam, formando-se, assim, em todo mundo – principalmente na culta, douta e civilizada Europa, continente que até hoje se pode ver – o clima propício para que o gênio humano ali se expressasse em todo seu esplendor.
Hoje nós temos um mundo de republiquetas fundadas no patriotismo nacionalista ideológico e uma variedade tão grande de línguas e dialetos sendo usados para expressar o pensamento humano, que fica perdido nesta barafunda linguística infernal – e mesmo entre os “especialistas” das diversas áreas das ciências – que não conseguem se comunicar sem grandes dificuldades. Chegamos ao ponto hilário de que todos nós que vivemos ou fazemos da ciência a nossa forma de ganhar a vida, ou elevação, nos tornamos “ignorantes especializados” que vendem seus conhecimentos aos “ignorantes generalizados”, infelizmente, a massa – o grande público!
E aqui vai, para o nobre jornalista José Carlos Pedreira – o popular “Zé Coió”: “Lo fece natura e poi rupple lo stampo”, ou seja, “A natureza o fez e depois perdeu o seu molde”.
*Jolival Soares, Bioquímico, Bacharelando em Direito e Professor de Bioética.